Emprego em setores de menos escolaridade e renda consolida precarização do trabalho
Mesmo em vagas com nível superior, Dieese destaca crescimento de funções como balconistas e vendedores
Publicado: 14 Setembro, 2022 - 09h14 | Última modificação: 14 Setembro, 2022 - 09h20
Escrito por: Vitor Nuzzi /RBA
Se de fato o emprego cresceu nos últimos meses, a ponto de atingir níveis anteriores à pandemia, as características desse aumento mostram outro perfil do mercado de trabalho, aponta o Dieese. São, principalmente, vagas que exigem menos escolaridade e que pagam menos. Para o instituto, isso demonstra que, neste momento, o mercado acentua sua precarização, ampliando postos de trabalho com rendimento e proteção social menores.
“A ocupação, portanto, tem crescido, apesar da retomada lenta da atividade econômica pós-pandemia, mas a expansão ocorre em posições que exigem menos qualificação formal”, afirma o Dieese, em boletim divulgado nesta terça-feira (13). “O mercado de trabalho vai se precarizando não somente no estabelecimento de vínculos de trabalho sem proteção trabalhista ou social, mas também por meio da geração de empregos pouco complexos e pela perda de rendimentos.” Dessa forma, aponta o instituto, a situação “revela um mercado de trabalho empobrecido e com poucas perspectivas de ascensão para os trabalhadores”.
Escolarização pouco aproveitada
Assim, nas vagas consideradas mais qualificadas o emprego cresceu menos e a renda, caiu. “O aumento da escolarização da população, visto na última década, tem sido pouco aproveitado pelo mercado de trabalho nessa retomada da atividade econômica”, observa o instituto.
No segundo trimestre, a ocupação cresceu 9,9% em relação a igual período de 2021. Os ocupados com ensino médio completo aumentaram 12,5% e os que tinham ensino superior, 3,6%. Já aqueles sem instrução ou com menos de um ano de estudo tiveram alta de 31,4%. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.
Renda média cai
Em relação ao rendimento médio, os ocupados com ensino superior foram os que tiveram maior perda nesse período (-5,6%). Perda maior, inclusive, que a média geral, de -4,7%. O grupo de trabalhadores sem instrução ou com menos de um ano de escolaridade tiveram ganho de 3,2%. “Entre aqueles que possuíam ensino superior completo, o rendimento médio aumentou somente em três grupos ocupacionais, enquanto em outros sete houve redução”, informa o Dieese.
No segundo trimestre, o país estava com 98,3 milhões de ocupados, ante 94,2 milhões em igual período de 2021. Em 12 meses, o grupo que mais cresceu foi o de trabalhadores dos serviços, vendedores dos comércios e mercados (17,9%). E o que menos aumentou foi o de diretores e gerentes (3%).
Ainda nessa comparação com o segundo trimestre do ano passado, foram 749 mil ocupações a mais no ensino superior. Mas de apenas 160 mil pessoas nas chamadas ocupações típicas. E quase 80% (78,6%), ou 589 mil, no que o Dieese chama de emprego em funções não típicas. Entre estas, acrescenta, chama atenção o crescimento de 16,4% no número de balconistas e vendedores de lojas e de 6,8% no de vendedores a domicílio”. As duas somam 567 mil pessoas com ensino superior completo.