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Empresários choram nas negociações e negam aumento, apesar da alta nas exportações

Em 2021, o setor embarcou 123,6 milhões de pares de calçados, que geraram US$ 900,3 milhões. Exportações subiram 32% em volume e 36,8% em valores em relação ao ano anterior

Publicado: 13 Janeiro, 2022 - 10h51 | Última modificação: 13 Janeiro, 2022 - 10h58

Escrito por: CUT-RS

Sindicato dos Sapateiros e das Sapateiras de Novo Hamburgo
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Os empresários do setor de calçados do Vale dos Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre, choraram na mesa de negociações coletivas e se negaram a conceder aumento real aos trabalhadores em 2021, apesar dos resultados das exportações terem sido 32% superiores em volume e 36,8% em valores na comparação com 2020.

Os números divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), na segunda-feira (10) pelo jornal Valor Econômico, não deixam dúvidas. O setor embarcou 123,6 milhões de pares, que geraram US$ 900,3 milhões.

O principal exportador brasileiro foi o Rio Grande do Sul, que respondeu sozinho por 45% do valor gerado. As fábricas gaúchas exportaram 32,75 milhões de pares, que geraram US$ 403,8 milhões, avanços de 48,7% em volume e de 38% em receita na relação com 2020.

O presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, diz que o câmbio e o aumento dos embarques para os Estados Unidos tiveram papel fundamental no crescimento. Ele afirma que a recuperação deve seguir ao longo de 2022. “No ano, devemos crescer mais 5% sobre a base de 2021."

Resultados superam inclusive período anterior à pandemia

No mês de dezembro, conforme a Abicalçados, foram exportados 12,88 milhões de pares, que geraram US$ 94,64 milhões, incrementos de 38,8% em volume e de 58,8% em receita na relação com o mesmo mês de 2020.

Os resultados também são superiores aos registrados em dezembro de 2019, sendo 24,5% em volume e 17,2% em receita.

Principal destino do calçado brasileiro no exterior em 2021, os Estados Unidos compraram 15 milhões de pares por US$ 228,57 milhões, altas de 62,7% em volume e de 66% em receita em relação a 2020.

O segundo destino internacional do calçado foi a Argentina. Para lá, foram embarcados 13,4 milhões de pares, que geraram US$ 115,2 milhões, incrementos de 73% em volume e 58,7% em receita ante um ano antes.

O terceiro destino no exterior foi a França, para onde foram embarcados 7,27 milhões de pares por US$ 60,2 milhões, crescimentos de 3% e de 1,7%, respectivamente.

Empresários cada vez mais ricos, sapateiros com mais dificuldades

“Um resultado extraordinário para os empresários, que estão cada vez mais ricos e, em contrapartida, os sapateiros estão cada vez mais com mais dificuldades, tendo em vista o aumento da comida, do gás de cozinha, da energia elétrica, da gasolina e isto corrói o salário dos trabalhadores e das trabalhadoras”, afirma o secretário de Administração e Finanças da CUT-RS, Antônio Güntzel.

Ele lembra que o reajuste salarial conquistado pelos trabalhadores na campanha salarial de 2021 foi a reposição da inflação do período. Os patrões repetiram a choradeira de anos anteriores para não conceder aumentos reais.

Para Antonio, que é sapateiro de Nova Hartz, “cada vez mais é necessário que nós, trabalhadores, estejamos de posse dessas informações, para que a gente vá se preparando para enfrentar a campanha salarial de 2022 e que nos leve a mudar o resultado das últimas campanhas salariais”.

Na pandemia só quem perdeu foi o trabalhador

A diretora da CUT-RS e do Sindicato dos Sapateiros e das Sapateiras de Novo Hamburgo, Jaqueline Erthal, salienta que “na pandemia só quem perdeu foi o trabalhador, enquanto os patrões apelaram para a choradeira na campanha salarial, porém lucraram muito”.

“Durante as negociações do ano passado, os representantes das empresas diziam que não tinha serviço, mas eles adiantaram tudo. Também diziam que os números sobre a recuperação do setor eram apenas uma projeção e agora estão aí escancarados”, destaca.

Ela conta que várias empresas chegaram a demitir para reduzir custos. “Uma empresa tinha 350 empregados e hoje são quase 900”, exemplifica. “Tem empresas dando cursos de qualificação de mão de obra, o que mostra que tem produção e eles estão ganhando muito”.

“A gente convive com essa realidade e luta para mudar a vida da gente. São empresas contratando, produzindo e exportando, enquanto tiram muito couro do trabalhador, que está exaurido de tanto serviço para fazer”, ressalta Jaqueline.

Para a dirigente sindical, “nós estamos cada vez mais lascados. Só os trabalhadores tiveram prejuízos, muitos adoecendo, enquanto os patrões continuam lucrando, mas a gente quer e vai buscar uma fatia desse bolo”.

Organização, planejamento e mobilização

No final de fevereiro e início de março, será realizado o seminário de organização das campanhas salariais do Macrossetor da Indústria da CUT-RS. “Ele se torna mais importante ainda, na medida em que começam a aparecer esses números. Temos a impressão de que o setor da alimentação não deva ser diferente, assim como a metalurgia. Enfim, é um baita espaço que se abre para nós, enquanto trabalhadores, a fim de fazer um planejamento e preparar a nossa mobilização para arrancar conquistas em 2022”, destaca Antônio.

“Não basta os empresários ficarem ricos. Os pobres, os trabalhadores, precisam e devem ter uma parte desse lucro, a ser distribuído em forma de salário digno, pela riqueza que estão produzindo para os donos das empresas”, conclui o dirigente da CUT-RS.