Escrito por: Redação CUT | texto: André Accarini
Especialistas explicam interesses de Vladimir Putin em recorrer ao conflito armado para recuperar hegemonia perdida com o fim da União Soviética
Em meio a temores e muitas especulações sobre a possiblidade de uma 3ª Guerra Mundial, especialmente depois que a Rússia atacou a Ucrânia, nesta quinta-feira (24), muitos se perguntam: quais os motivos dessa guerra? Por que o presidente russo Vladimir Putin, ordenou o ataque ao país vizinho?
Em primeiro lugar é necessário entender a história recente. Após a 2ª Guerra, o mundo se dividiu em dois blocos – o ocidente e o oriente – com base em disputas econômicas e bélicas. Foi a era conhecida como Guerra Fria em que as maiores potências na época - Estados Unidos e União Soviética – disputavam hegemonia armamentista nuclear, na exploração de recursos naturais como o petróleo e na corrida espacial.
Em 1991, com a dissolução da União Soviética (URSS), países do leste europeu, que faziam parte do bloco soviético, obtiveram independência e seguiram caminhos distintos, aliados a blocos ocidentais, capitalistas. A região era conhecida como a Cortina de Ferro, justamente por sua localização, como se fosse um bloqueio para a expansão liberal do ocidente aos países soviéticos.
A Ucrânia é um desses países. Especialistas em Relações Internacionais explicam que Putin, ao contrário de governos anteriores, como o próprio Mikhail Gorbatchev, que ‘abriu’ a Rússia ao capitalismo, tem ideais nacionalistas e a Ucrânia é um entrave para os interesses russos. O país ‘vem namorando’ com a União Europeia e mesmo não fazendo parte do bloco, tampouco da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), é considerado uma nação parceira.
E isso desagrada Putin. Outros países do leste europeu, que faziam parte da cortina de ferro também se aliaram a esses dois blocos.
A Professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Cristina Soreanu Pecequilo explicou ao Brasil de Fato que o fim da ‘cortina de ferro’ deixou a Rússia sem uma zona de proteção contra o ocidente. De acordo com ela, a situação não é somente controle político e militar na Ucrânia, envolve também o mercado de energia. “É a localização estratégica da Ucrânia como passagem de oleodutos e gasodutos que saem da Rússia para outros países”, diz.
Já o professor aposentado de História Contemporânea Antônio Barbosa, da Universidade de Brasília (UnB), diz que as movimentações de Vladimir Putin têm o propósito de mostrar para o mundo que o país “continua no jogo das grandes potências”.
Barbosa lembra que, com o fim da União Soviética, em 1991, nos anos que se seguiram, o poder mundial aparente estava concentrado nas mãos dos Estados Unidos. “Putin está conseguindo mostrar que, apesar de a União Soviética não existir mais, de ter perdido o controle sobre os países do Leste Europeu, a Rússia continua sendo uma grande potência, inclusive mantendo intacto o seu arsenal nuclear”, analisa.
A expansão da Otan é vista como ameaça militar pelo líder russo e, reforçando, a Ucrânia é um território que pode funcionar como bloqueio para esse avanço ocidental. O país, culturalmente, tem fortes raízes russas, a tomar como exemplo o próprio idioma. Muitos ucranianos falam russo e preservam as características culturais.
Putin alegou como motivo para a investida militar no país, “acabar com o genocídio contra russos” em duas áreas – as que ele, no início da semana, reconheceu como independentes da Ucrânia (Donetsk e Luhanski), além de "desmilitarizar e desnazificar" o país.
Mas, para além desses motivos, de acordo com reportagem da Sputnik, agência estatal de notícias da Rússia, "para Moscou, a consideração de uma adesão da Ucrânia à aliança ocidental ultrapassa todos os limites aceitáveis, ameaçando gravemente a segurança russa".
Para o governo russo, apesar de ter havido “apelos diplomáticos feitos pelo Kremlin na tentativa de que os Estados Unidos e seus aliados europeus levassem em conta as preocupações russas ligadas a esse avanço da organização militar liderada por Washington, não foram registrados progressos nas negociações".
Outras reivindicações da Rússia são a limitação a tropas e armas que podem ser colocadas nos países que aderiram a aliança com o ocidente após a queda da União Soviética e a retirada da infraestrutura militar instalada pelos países do Leste Europeu, após 1997.
Por mais que se possa explicar as reivindicações de Putin, nada justifica uma saída não diplomática entre as nações. “Faz todo o sentido a Rússia não querer militares e misseis em suas fronteiras com a Ucrânia e nem a Otan, mas nada justifica uma guerra. Quem sofre é o povo. Vamos ver refugiados, haverá efeitos colaterais”, disse o professor em Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Giorgio Romano Schutte.
Ele também explicou que por mais estrategista que se possa ser, alvos civis acabam sendo atingidos. “Não existe bombardeio de precisão. A Rússia pode evitar, mas há grande risco de atingir uma das 15 usinas nucleares ucranianas”, disse o professor.
Com informações do Brasil de Fato e Agência Brasil.