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Entidades e artistas negros repudiam censura e falas sexistas de Bolsonaro

Campanha foi protagonizada por atores negros e pessoas trans em referência à diversidade racial e sexual do Brasil

Publicado: 26 Abril, 2019 - 16h43 | Última modificação: 26 Abril, 2019 - 17h27

Escrito por: Walber Pinto

Reprodução
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Artistas e entidades que defendem os direitos humanos reagiram com indignação à decisão de Jair Bolsonaro (PSL) de censurar uma campanha publicitária do Banco do Brasil. Na peça, jovens negros, tatuados, transexuais e diferentes estilos aparecem em cenas do cotidiano.

A campanha, dirigida ao público jovem, que tinha como objetivo divulgar o serviço de abertura de conta corrente por aplicativo no celular, foi retirada do ar por recomendação de Bolsonaro. O episódio provocou a saída do diretor de Comunicação e Marketing do banco, Delano Valentim, que atualmente está de férias.

“É um governo racista”, afirma Julia Nogueira, secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT.  “Isso é o retrato do retrocesso que estamos vivendo no Brasil atualmente. A extrema direita quer nos dividir, fazer incitação ao ódio e acabar com os direitos humanos”.

Para Flip Couto, artista negro e produtor cultural, o governo de Jair Bolsonaro tenta apagar a luta e a visibilidade da população negra. “É um foco que o governo está tentando mudar o tempo todo. Essas pessoas (da propaganda) estavam fazendo política com suas estéticas. Vetar o filme é uma busca pelo apagamento”.

“Por que o medo?”, questiona Flip, que também é idealizador da Festa Amem, um coletivo conhecido por promover eventos culturais sócio-políticos para o público LGBT e negro.

Protagonizado por atores negros e pessoas trans, em referência à diversidade racial e sexual do Brasil, a peça censurada do Banco do Brasil começou a ser veiculada no dia 1º de abril e saiu do ar há cerca de duas semanas. A peça publicitária tinha 30 segundos e podia ser vista em comerciais veiculados na TV e na internet.

Mais censura

De acordo com o jornal O Globo, Jair Bolsonaro disse que palavras como “lacrou” e outras ligadas ao público LGBT estão proibidas de serem usadas em qualquer tipo de peça publicitária e de divulgação. A determinação, uma espécie de “Dicionário da Censura” vale para todas as estatais do governo.

"É uma atitude por si só autoritária e antidemocrática. A tentativa de homogeneizar a sociedade em um só padrão estético, cultural e de expressão sexual é uma violência e um atentado aos direitos humanos”, disse Jandira Uehara, secretária nacional de Política Social e Direitos Humanos da CUT.

Em outra fala sexista e homofóbica, feita em café da manhã com jornalistas, nesta quinta-feira (26), Bolsonaro afirmou que Brasil não pode ser país de turismo gay, mas que "quem quiser vir aqui fazer sexo com mulher, fique à vontade”.

“Ele incentivar os homens a virem fazer sexo com as brasileiras é inominável, execrável, é homofobia e misoginia em último grau”, criticou Juneia Martins, secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT.

Bolsonaro será denunciado na ONU

A entidade Educafro que luta pela inclusão da população negra no ensino superior e no mercado de trabalho, pretende entrar com denúncia na ONU contra a retirada da propaganda. Segundo o coordenador da Educafro, frei David Santos, a população negra há muito tempo luta pelo respeito à diversidade.

"Essa propaganda consolida uma conquista dos excluídos. A decisão é muito equivocada, um retrocesso", afirmou ao jornal O Globo.