Escrito por: CUT-RS
Demissões em massa e substituição por pessoal terceirizado estão prejudicando o atendimento a cerca de 1,8 milhão de pessoas
O grupo Equatorial, que arrematou por apenas R$ 100 mil o braço da distribuição da Companha Estadual de Energia Elétrica (CEEE) durante leilão promovido em 31 de marco de 2021 pelo governador Eduardo Leite (PSDB), continua usando a marca da empresa estatal para esconder a precarização dos serviços no Rio Grande do Sul.
A avaliação é do presidente do Sindicato dos Eletricitários do Rio Grande do Sul (Senergisul), Antonio Silveira. Ele critica o uso do nome CEEE Equatorial, uma vez que a empresa pública já não existe mais.
“O uso da marca CEEE é para não contaminar ainda mais a Equatorial, que piorou o atendimento da população e é mal vista em outros estados, onde também adquiriu estatais na farra das privatizações dos governos entreguistas”, explica o dirigente sindical.
A Equatorial atende cerca de 1,8 mihão de gaúchos e gaúchas em 72 municípios das regiões Metropolitana de Porto Alegre, Sul, Centro-Sul, Campanha, Litoral Norte e Litoral Sul.
Antonio ressalta que, com essa estratégia, a Equatorial joga no lombo da CEEE o processo de demissões em massa após a privatização, a substituição de demitidos por terceirizados e as condições precárias de trabalho. “Não é à toa que os serviços pioraram, como mostra a longa falta de luz em milhares de residências após temporais e ciclones”, destaca.
O sindicalista conta que a Equatorial, depois da privatização da CEEE, “se livrou de mais de 1.000 trabalhadores e hoje restam somente uns 600 oriundos da antiga empresa pública”. A política da empresa é reduzir despesas de pessoal para aumentar os lucros.
Por isso, em vez de admitir novos empregados, a Equatorial contrata empresas terceirizadas, como o grupo Setup, que presta serviços de energia, vigilância, rastreamento veicular e manutenção de elevadores.
“Já recebemos inúmeras denúncias dos terceirizados, como várias demissões por justa causa, algo bem suspeito”, revela. “Um funcionário da Setup foi demitido por justa causa com duas férias vencidas”, exemplifica.
Além disso, as empresas terceirizadas a serviço da Equatorial estão trazendo trabalhadores de outros estados, como da Bahia, e não pagam horas extras, o que já foi denunciado pelo Senergisul junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT).
O presidente da CEEE Equatorial, Raimundo Barretto Bastos, afirmou na última quarta-feira (12), em entrevista, que não há planos de alterar a marca da empresa, que mantém a sigla de quando era estatal.
“A marca é muito forte e muito presente aqui no Rio Grande do Sul. Não existe nada previsto, em curto prazo pelo menos, para trocar o nome CEEE”, destacou.
Em apresentação no Tá na Mesa, na Federasul, Bastos mostrou dados positivos da empresa após a privatização. Segundo ele, a força de trabalho passou de 3,9 mil trabalhadores, em 2021, para 5,8 mil, em 2023.
No mesmo período, ele disse que foram registradas reduções nos índices de duração de falta de energia (média passou de 20,5 horas para 15,8 horas por ano) e na frequência das interrupções (10,3 casos por ano para 8,2 casos).
Os dados apresentados não refletem a realidade vivida pelos consumidores. O segundo ciclone extratropical, verificado entre quarta e quinta-feira, dias 12 e 13, deixou 715 mil pontos sem energia na área de concessão da Equatorial.
Não foi por acaso que, no domingo (16), uma manifestação bloqueou completamente o trânsito no km 0 da BR 392, em Rio Grande, na zona Sul do Estado. Moradores do bairro Santa Tereza protestaram contra a falta de energia que afeta a região desde a passagem do ciclone.
Moradores queimaram objetos sobre a pista, cobrando uma solução da Equatorial. A população reclamou que a falta de luz causou inúmeros transtornos, incluindo a perda de alimentos e a impossibilidade de realizar atividades cotidianas. Houve também protestos contra a falta de luz em Pelotas.
Segundo a Equatorial, 6.500 consumidores estavam sem energia em Rio Grande na tarde de domingo.
Já o professor Fabiano Costa divulgou nas redes sociais que 40 mil riograndinos ainda estavam às escuras na noite de domingo. “Há registros de famílias sem energia desde as 15h de quarta-feira (12), quando os primeiros ventos fortes sopraram”, escreveu.
“Pior do que a força de um ciclone, com a força de um furacão, é vermos o completo abandono do povo riograndino. Nunca, em hipótese alguma, nas piores catástrofes ambientais, os consumidores da antiga CEEE, empresa pública, ficaram mais de 24 horas sem energia”, observou Fabiano.
O professor lembra que no ano passado, já na mão da Equatorial, a empresa privada fez consumidores de Pelotas registrarem 14 dias de espera pela retomada do fornecimento de energia.
Em outros estados, o atendimento precário não muda. “O Maranhão viveu há dois anos, quando na mão deste mesmo grupo Equatorial. São Luis, a capital, chegou a ter um apagão de dois dias. No Amapá, a Equatorial fez bem pior: em 2020, regiões inteiras daquele estado, ficaram quatro semanas sem uma lâmpada acesa. Um apagão inédito de quase 30 dias: Um mês sem luz”, relata Fabiano.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado de Goiás (STIUEG), a realidade não é diferente naquele estado para quem trabalha na empresa. “Infelizmente, a situação dos trabalhadores da Equatorial vem piorando a cada dia", destacou a entidade.
"O assédio moral na Equatorial se dá de diferentes formas: ameaças de demissões constantes, metas impossíveis de serem cumpridas, sobrecarga de trabalho, humilhações, rejeição de atestados médicos para tratamento de saúde, ridicularização dos doentes ou que apresentam alguma enfermidade, falta de ferramentas adequadas, redução de regras de segurança de trabalho, impedimento do sindicato de entrar na empresa para fiscalizar são alguns dos principais males sentidos pelos trabalhadores da empresa e até mesmo assédio sexual”, denunciou o STIUEG.
Ainda conforme explicou a entidade, há relatos de assédio moral constantes, principalmente por meio de grupos de aplicativos de mensagens WhatsApp. “Os trabalhadores estão adoecidos e não aguentam mais esse estado que foi instaurado após a Equatorial assumir a empresa de distribuição de energia em Goiás”, acrescenta o sindicato goiano.
Com informações do Senergisul, GZH e STIUEG