Escrito por: Rosely Rocha

Equiparação salarial entre negros e não negros deve demorar 70 anos

Mapa da Desigualdade de São Paulo 2018 mostra que negros ganham atualmente 57% dos rendimentos dos não negros

Agência Brasil

Cerca de 70% dos negros e negras do Brasil, país onde  mais da metade da população é negra, são pobres, ganham menos do que os não negros, são os mais excluídos e os que têm menos acesso a direitos.

Em São Paulo, a perversidade da desigualdade que mais marca a cisão da sociedade brasileira, é vista com naturalidade, especialmente no mercado de trabalho, onde os negros e negras são, em geral, contratados para postos de trabalho com menores salários que não exigem qualificação.    

É o que mostra o Mapa da Desigualdade 2018, levantamento feito pela Rede Nossa São Paulo em 96 distritos da capital.

De acordo com o levantamento, o rendimento médio mensal da população negra paulistana é de R$ 898,00, enquanto o dos não negros e negras é de 1.589,00. 

Em 20 anos, os rendimentos dos negros paulistanos passaram de 45% do valor dos rendimentos dos não negros para apenas 57%.

Se mantido esse ritmo de inclusão mal remunerada, a equiparação da renda média entre negros e não negros ocorrerá somente em 2089, ou seja, daqui a 70 anos.

Para a secretária-Adjunta de Combate ao Racismo da CUT, Rosana Sousa Fernandes, esses dados refletem a sociedade racista em que vivemos, cuja prática de discriminação racial é institucional, especialmente, no mercado de trabalho.

“Os negros ainda ocupam postos de trabalho que pagam menos, sem proteção social, sem carteira assinada e quando conseguem trabalho com carteira assinada recebem valores diferentes. É um processo histórico da escravidão que se perpetua”, diz Rosana.

Segundo ela, a sociedade brasileira ainda acha que certos trabalhos são direcionados para a população negra, pois acredita que os postos mais elevados são para quem estuda mais, a chamada meritocracia, em geral, formada por não negros, que têm todas as oportunidades desde que nascem.

“É muito difícil ter oportunidade de entrar numa escola de qualidade e competir de forma igualitária com quem sempre teve acesso às melhores escolas, aos melhores professores”, diz a dirigente lembrando que negros e negras ainda têm de entrar mais cedo no mercado de trabalho para ajudar no sustento da família.

“Para começar a mudar essa realidade é preciso garantir educação, acessível e de qualidade, do pré até a universidade para todos os negros e negras e não negros também, pobres e sem oportunidades na vida”, afirma a dirigente.

Segundo ela, é preciso ainda, melhorar os serviços públicos em áreas como saúde e saneamento básico, direito de se alimentar três vezes por dia, ter acesso à casa própria, enfim, garantir aos negros e negras tudo que a Constituição brasileira diz que é direito de todos.

Políticas Públicas dos governos do PT diminuíram diferenças

As políticas públicas dos governos Lula e Dilma, especialmente entre os anos entre 2002 e 2015 ,  contribuíram para que 12 milhões de pais e mães de famílias negras passassem a ter ensino fundamental completo, 22 milhões de lares tiveram acesso a água de qualidade e 24 milhões conseguiram comprar a primeira  geladeira.

A secretária de Combate ao Racismo da CUT ressalta também duas importantes políticas nos governos petistas que ajudaram na diminuição da desigualdade entre negros e não negros. O Prouni e a valorização do salário mínimo.

“O Prouni permitiu que homens e mulheres, negros e negras, tivessem acesso à educação universitária, se formando médicos, engenheiros, o que historicamente eles não tinham acesso. E a valorização do salário mínimo foi importante também porque beneficiou diretamente os negros, que em sua maioria ocupa postos de trabalho cujo valor é o mínimo”.

A dirigente diz ainda que, embora nos governos Lula e Dilma a diferença salarial com os não negros não acabou por completo, as políticas públicas implantadas por eles foram importantes para diminuir as diferenças.

“Temos ainda muitos desafios pela frente. Infelizmente, com esse governo eleito que não entende as diferenças entre negros e não negros, receio que tenhamos um grande retrocesso semelhante ao que era antes dos governos do PT”, diz Rosana.