Esquema de Queiroz e Flávio Bolsonaro pode ter ligação com milícia do Rio
Líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta denuncia que escândalo envolvendo o ex-motorista de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, pode ter ligação com milícias e pede quebra imediata de sigilo bancário de todos
Publicado: 21 Janeiro, 2019 - 11h51 | Última modificação: 21 Janeiro, 2019 - 12h25
Escrito por: Redação CUT
As transações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-motorista e assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PLS-RJ), podem ir além das suspeitas de apropriação de parte dos salários dos assessores e revelar relações da família Bolsonaro com negócios de milicianos no Rio de Janeiro. É o que denuncia o líder do PT na Câmara, deputado federal Paulo Pimenta (RS), que defende a quebra imediata do sigilo bancário de Flávio, Queiroz e seus familiares.
"Não estamos aqui falando sobre o depósito de dinheiro de servidores na conta de colega. Não estamos falando de venda de carros. Estamos falando de algo muito maior, que pode ter conexões com o crime organizado", denunciou Pimenta em vídeo postado nas redes sociais nesse domingo (20).
"Quando forem abertas essas contas e pudermos conhecer a movimentação delas nos últimos dez anos, nós vamos encontrar coisas que ninguém imagina: o subterrâneo do financiamento desse esquema que envolve uma relação íntima entre o crime no Rio de Janeiro e essa família", disse o deputado. "Eu afirmo o que estou dizendo", ressaltou.
Paulo Pimenta relacionou, ainda, alguns fatos recentes para indicar que a denúncia que faz não é por acaso e que, por isso, a investigação precisa ser aprofundada. Segundo ele, a tesoureira do PSL do Rio de Janeiro, Valdenice de Oliveira Meliga, teve dois irmãos presos recentemente na Operação Quarto Elemento por envolvimento com as milícias no estado.
Os irmãos gêmeos PMs Alan e Alex Rodrigues de Oliveira estavam entre os 46 suspeitos que tiveram prisão decretada pela Justiça. Eles faziam segurança do então candidato ao Senado e presidente do PSL do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro, durante as eleições de 2018 quando foram detidos. Registro feito em outubro de 2017 na rede social do próprio Flávio sinaliza que a família Bolsonaro tem ligação com a família de Valdenice e dos dois PM's.
Pimenta destaca também que Flávio Bolsonaro, nos últimos anos, negociou imóveis de alto valor no estado do Rio de Janeiro. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, ele negociou um total de R$ 4,2 milhões em imóveis, no mesmo período em que Queiroz movimentou os R$ 7 milhões.
"O Queiroz foi homenageado, na Câmara de Vereadores, pelo Carlos Bolsonaro, e na Assembleia Legislativa, pelo Flávio Bolsonaro, junto com outros policiais militares, todos envolvidos no esquema das milícias", destaca Pimenta.
“Temos de exigir das autoridades que imediatamente deem a essa investigação o mesmo tratamento que deram para outras de muito menor gravidade”, exige o parlamentar.
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Denúncias
Nesse domingo, o jornal O Globo revelou, a partir de dados do Coaf, que Queiroz movimentou R$ 7 milhões em três anos. Antes, as revelações davam conta da movimentação irregular de R$ 1,2 milhão em um ano. Dentre as transações, Queiroz teria recebido R$ 96 mil da filha Nathália Queiroz, que até outubro foi secretária parlamentar do então deputado federal e agora presidente Jair Bolsonaro (PSL), ao mesmo tempo que atuava como personal trainer de celebridades no Rio de Janeiro.
Na sexta-feira, o Jornal Nacional, da TV Globo, também com base em relatório do Coaf, mostrou que Flávio Bolsonaro recebeu 48 depósitos de R$ 2 mil, entre junho e julho de 2017. Também foi identificado pagamento de um título bancário da Caixa Econômica Federal de cerca de R$ 1 milhão.
Outra transação suspeita que envolve diretamente o presidente é um cheque de R$ 24 mil depositado por Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. O presidente justificou a transação alegando se tratar de um pagamento de empréstimo realizado pela família a Queiroz, de quem é amigo desde os anos de 1980.
Queiroz foi convidado a prestar esclarecimentos no MP do Rio de Janeiro, por pelo menos quatro vezes, mas não compareceu. A justificativa era que estava com problemas de saúde. A família dele também foi chamada mas não apareceu. Na semana passada, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), ordenou a suspensão das investigações que poderiam atingir Flávio Bolsonaro, até que a Corte decida se o senador deveria gozar de foro privilegiado.
A versão de Flávio
Em vez de se explicar ao Ministério Público (MP-RJ), Flávio Bolsonaro apresentou sua versão em duas entrevistas exibidas nesse domingo (20), na Rede Record e na RedeTV!. Ele alega que a série de 48 depósitos em dinheiro vivo e o pagamento do título de R$ 1 milhão se referem a um apartamento comprado por ele na planta, depois revendido.
Ele disse que, depois de quitar a dívida com a construtora, vendeu o imóvel, tendo recebido parte do valor em dinheiro, o que justificaria os depósitos fracionados de R$ 2 mil feitos no caixa eletrônico de uma agência na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
"Eu não tenho nada a esconder de ninguém. Esse apartamento aqui foi pago direitinho, bonitinho. Estou mostrando a vocês qual é a origem. Tem origem, não é origem ilícita, não. Não tem origem em terceiros. Por que aparece dessa forma? Porque esse dinheiro, que era um dinheiro meu, era depositado na minha própria conta. E como tem que ser de dois em dois mil reais, [...] foi feito dessa forma", declarou o senador, com uma suposta escritura do imóvel em mãos, que ele se recusou a mostrar detalhadamente.
*Com informações Rede Brasil Atual