Escrito por: CUT

Nilma Lino ataca o golpe e critica o fim da Seppir

Para ministra, extinção da Seppir é dramática

Foto: Roberto Parizotti

Nesta quarta-feira (22), em São Paulo, durante o "Seminário de negros e negras contra o golpe. Fora Temer!", a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial [extinta pelo governo ilegítimo de Michel Temer], Nilma Lino Gomes, atacou o golpe em curso no País e apontou sua motivação.

"É inegável que o que se construiu nesses 13 anos é um novo Brasil, que outros sujeitos tiveram visibilidade, inclusive participando da discussão da política e de conselhos, fortalendo a participação social, que foram muito importantes para o destino que nós tivemos ao longo destes 13 anos" afirmou a ministra, antes de atacar os golpistas. "Tudo o que o golpe quer é acabar com participação social. É uma cúpula que decide e o povo que receba. Publicaram agora, uma portaria que proibiu ação orçamentária por 90 dias. Não podemos firmar convênio algum, há um mês está tudo parado", finalizou.

O seminário, que foi organizado pela Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT Nacional e a Secretaria Estadual da CUT-SP, contou com a participação de diversas entidades que atuam na luta contra o racismo no Brasil. Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT Nacional, Maria Julia, enalteceu a união dos movimentos e o encontro promovido pela CUT. "É bom lembrar que a primeira medida desse governo golpista foi cortar a Seppir. Isso mostra como os golpistas desprezam a população negra. Se você pensar que é a população negra que mora nas regiões mais pobres e que ocupa os postos de trabalhos precarizados, vai perceber que precisamos de um ministério que atenda nossas demandas", explicou a dirigente Cutista.

Rosana Aparecida da Silva, secretária de Combate ao Racismo da CUT/SP, ressaltou o apoio da Central. “A CUT e seus sindicatos estão juntos com a Convergência Negra e com as demais entidades do movimento negro para enfrentarmos o golpe. As negras e os negros têm sua bandeira de luta porque entendemos que não se trata só da perda de direitos. O golpismo representa a manutenção das elites, dos mesmos que, historicamente,  querem nos manter marginalizados, e isso não iremos permitir."

Nilma explicou os problemas estruturais que o novo governo causou à população negra. “O nosso ministério estava em processo de construção, ainda sendo inserido na estrutura governamental, quando veio esse golpe e extinguiu o nosso ministério. Isso é dramático, não somente por conta do momento em que estávamos, mas pela concepção que está por trás dessa extinção. A criação de uma pasta nova, sob o nome de ‘Justiça e Cidadania’, vinculada ao Ministério da Justiça, mostra a disposição de tratar nossas pautas como casos de Segurança Pública”, lamentou a ministra.

Por fim, Nilma apelou para que o movimento paute a presidenta Dilma Rousseff.

“Temos que ter uma pauta pronta para colocar na agenda da presidenta Dilma, para que quando ela volte possamos avançar em nossas políticas. Isso deve ser prioridade”, encerrou a ministra.

A crise e a opressão capitalista

Convidado para falar na segunda mesa do "Seminário de negros e negras contra o golpe. Fora Temer!", o advogado e presidente do Instituto Luiz Gama, Silvio de Almeida, explicou os impactos da atual conjuntura econômica e política do País para as negras e negros do Brasil.

“Hoje, se fala muito em crise, mas entendemos pouco sobre o que significa essa crise que querem nos empurrar. Os negros no Brasil estão sempre em crise, financeiramente, pessoalmente, enfim, sempre estamos em crise”, ponderou Almeida.

Para o presidente do Instituto Luiz Gama, negras e negros são afetados, diretamente, pelo discurso do ajuste fiscal. “Diante da crise, o capitalista tem que usar o seu poder para equilibrar sua taxa de lucro. Ele precisa intensificar o trabalho, fazendo com que os trabalhadores aumentem a produtividade sem que haja aumento de salario. Ou então, promover demissões e investir em máquinas. Em qualquer situação, vai gerar problemas”, analisou o jurista, que prevê tempos difíceis para a classe trabalhadora.

“A crise vai desencadear uma série de coisas. Ela vai desencadear uma luta entre capital e o trabalho, mas uma luta entre capitalistas e, principalmente, entre os trabalhadores, disputando um lugar no mercado de trabalho. Tudo isso, para ocupar um espaço de privilégio dentro da nova ordem”, explicou Silvio de Almeida.

Para explicar como o racismo é estrutural e coloca a população negra como principal vítima do sistema capitalista, Silvio remeteu sua análise à sua origem como advogado, a área tributária.

“Nós precisamos elevar nosso pensamento para além da questão racial. Mesmo que nenhum tributarista do mundo fale de racismo no mundo tributarista, o racismo está inserido ali. Por exemplo, qual o grupo social mais afetado pela carga tributária no Brasil? A mulher negra”, finalizou Silvio de Almeida.