Escrito por: William Pedreira

Estações de Ferro, história de Raphael Martinelli

Militante político relembra em biografia passagens históricas de sua vida e de sua luta

William Pedreira

Disposição e grandes histórias são atributos que não faltam a Raphael Martinelli. No alto dos seus 90 anos, descreve com lucidez e riquíssimos detalhes passagens de sua vida. 

Assim foi ao lançar sua biografia “Estações de Ferro” no espaço reservado à CUT na II Conferência Nacional da Educação (Conae).

Líder ferroviário, ex-militante da CGT (Comando Geral dos Trabalhadores) e do PCB (Partido Comunista Brasileiro), um dos fundadores da ALN (Ação Libertadora Nacional) junto com Carlos Marighella, perseguido e torturado pela ditadura. Uma trajetória política que só virou livro graças a insistência dos companheiros de luta. “A ideia surgiu dos próprios companheiros, tanto da CUT como do movimento sindical, que sempre insistiram para que eu fizesse um relato por escrito sobre a minha história de luta”, recordou.

Martinelli diz que este é um livro diferente, pois traz um relato mais humanista que vai além da simples descrição das lutas históricas. “Reúne momentos de toda a minha vida, desde os meus pais e irmãos, como fazíamos para escapar das constantes enchentes no bairro da Lapa (São Paulo), já que morávamos numa casa de madeira”, relata o líder ferroviário, lembrando uma série de passagens de sua vida que possuem ligação direta com a história do Brasil.

Hoje, após várias décadas de militância, Martinelli continua na ativa. É advogado de sindicatos, presidente do Fórum dos ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo e grande defensor dos direitos humanos.

Ainda mantém viva as esperanças de que torturadores e apoiadores do regime militar paguem pelos crimes cometidos. “A força para condenar agentes do Estado tem que ser de baixo para cima. Por isso que eu sempre falei da necessidade de todos os sindicatos criarem suas comissões da verdade sindicais, porque foi ali que ocorreram as perseguições, as prisões e uma série de ataques aos trabalhadores. As Câmaras Municipais também deveriam ter suas comissões da verdade, porque esse seria o movimento de base para dar à Comissão Nacional da Verdade condições de embasar a construção do caminho para levar a julgamento e condenar torturadores e assassinos."

O livro, escrito pelo jornalista Roberto Gicello Bastos, foi lançado oficialmente no dia 6 de novembro no Memorial da Resistência de São Paulo. Incansável, Martinelli seguirá agora viajando pelo Brasil para levar sua biografia a todos os cantos do país.

* A previsão é de que o livro esteja, em breve, nos principais sebos e livrarias do Brasil