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Estratégia da mídia tradicional é silenciar candidatura de Lula

Imprensa comercial ignora que o ex-presidente é o pré-candidato do PT ao Planalto, não divulga que ele lidera as pesquisas e inventa notícias falsas para macular sua imagem, diz o professor Feres Jr

Publicado: 26 Junho, 2018 - 12h50 | Última modificação: 26 Junho, 2018 - 17h49

Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT

Ricardo Stuckert
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Personagem político que mais ocupou espaço na mídia nacional nos últimos anos, o ex-presidente Lula sumiu das manchetes dos jornais impresso e não ocupa mais os blocos de notícias políticas dos telejornais noturnos. Desde que o juiz de primeira instância Sérgio Moro mandou prender Lula sem provas nem crime, os principais meios de comunicação do país passaram a ignorar a condição de pré-candidato à presidência da República e de líder disparado nas pesquisas de intenção de voto do ex-presidente, mantido como preso político na sede da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, desde o dia 7 de abril.  

A constatação é do website Manchetômetro, ferramenta que fornece subsídios quantitativos, com metodologia para medir o que a mídia comercial publica sobre determinados assuntos, especialmente das áreas de economia e política nacional.

“Lula sempre sofreu pressão constante da mídia comercial, mas o diferencial de agora é o ‘silenciamento’ da imprensa que ignora o fato de Lula ser o pré-candidato à presidência e manter-se em primeiro lugar isolado nas pesquisas de intenção de voto”, avalia o professor de ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenador do Manchetômetro, João Feres Júnior, em entrevista exclusiva ao Portal CUT.

Já quando se trata de relacionar o ex-presidente a supostos crimes  e condenações na Justiça, Lula domina os noticiários.

“Eles [mídia] se referem muito ao Lula sempre na agenda de corrupção e prisão e nunca como candidato”, comenta o professor que coordena um grupo de mais de 20 alunos da graduação que realizam as medições.

“Não é militância, é um trabalho acadêmico que ajuda na iniciação da pesquisa científica”, ressalta Feres Jr.

Na última segunda-feira (25), o Manchetômetro divulgou o resultado da última pesquisa que analisou a cobertura dos principais jornais nacionais impressos, quando o PT lançou a pré-candidatura do ex-presidente ao Planalto, em 8 de junho, na cidade mineira de Contagem.

“A cobertura do evento feita pelos veículos de mídia impressa, analisados pelo Manchetômetro, foi exígua. Deparamo-nos com uma questão clássica daquilo que a literatura de estudos de mídia chama de agendamento: afinal, que assuntos são escolhidos pelos editores de jornais brasileiros e quais são descartados?”, diz relatório sobre o estudo.

A pesquisa se deteve a responder três hipóteses: houve outras notícias mais relevantes; Lula não é notícia; as eleições não são notícia. Porém, nenhuma delas se confirmou, conforme diagnosticaram os pesquisadores Feres e Luna Sassara.

“Uma última análise comparativa mostra que os grandes jornais têm de fato dedicado pouco espaço de suas capas para tratar Lula enquanto candidato, comparado aos outros candidatos com menor índice de intenção de votos. Isso não ocorre, contudo, com outros temas envolvendo o ex-presidente, como as investigações contra ele e o andamento de processos nos quais é réu”, aponta o texto que comenta o resultado da pesquisa.

Feres Jr comenta que, historicamente, a grande mídia tem militado muito fortemente contra o PT e contra o Lula, eleição após eleição, desde 1989.

“A única exceção foi em 2002 quando Lula escreveu a Carta aos Brasileiros e conseguiu uma certa pacificação. Fora isso, é bater sem parar. Não são apenas nossos trabalhos que mostram isso, tem uma quantidade infinita de análises acadêmicas que comprovam esse fato”.

A grande mídia brasileira parece fazer de conta que Lula não é candidato, ao mesmo tempo, lhe dedica uma generosa cobertura negativa, associada ao tema da corrupção. Até onde vão adotar tal estratégia não é possível ainda precisar, conclui a pesquisa.

Leia aqui a pesquisa na íntegra

Fake news, o terço e o Papa

Além da invisibilidade que a imprensa promove quando se trata de informar que Lula é pré-candidato do PT nas eleições presidenciais de 2018, as manifestações de apoio contra a prisão política do ex-presidente não são noticiadas nos principais veículos de comunicação.

O fato mais recente acabou ganhando visibilidade nacional nas redes sociais porque a mídia não só ignorou a visita de um emissário do Papa Francisco à Lula como afirmou que o representante do Vaticano estava em Curitiba, no Paraná, em missão individual e não representando a Sua Santidade.

Feres Jr comparou as duas situações e avaliou que tem, sim, uma ligação entre o estudo do Manchetômetro sobre o Lula não ser notícia quando se trata de sua liderança à corrida presidencial, com o fato de a imprensa não querer falar sobre o episódio que envolveu o líder mundial da Igreja Católica.

“Quando a imprensa progressista viralizou essa notícia, a mídia comercial resolveu responder a essa informação da pior forma possível: disseram que o fato era fake news [notícia falsa]! Em momento algum o texto oficial do Vaticano afirmou que o terço não era para o Lula, não teve isso. Mas a grande imprensa bateu pé e disse que não era”, comentou o cientista político.

Feres Jr alertou, ainda, que as empresas que hoje oferecem um serviço de checagem de dados, chamadas de agências de ‘fact-checking’, como a Lupa,  são, na verdade, um braço da grande imprensa.

Ele disse que além da codificação com dados específicos [como a análise da cobertura do lançamento da pré-candidatura de Lula à presidência], o Manchetômetro também produz ensaios analíticos sobre as pautas que estão acontecendo, como foi o caso da chamada “fake news” do terço que o Papa Francisco teria enviado a Lula.

Leia aqui o artigo que trata do episódio que envolveu o Papa Francisco