Escrito por: Gilson Camargo – Extra Classe
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi recebido com protestos de estudantes ao chegar no final da manhã desta segunda-feira, 21, à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para a inauguração do novo prédio de Ciências Básicas da Saúde (ICBS), no campus da Saúde, no bairro Santana, em Porto Alegre.
Ribeiro, que após a inauguração seguiu para uma agenda, à tarde, no QG da Brigada Militar para a apresentação do Programa Estadual de Escolas Cívico-Militares e palestra aos cadetes da corporação, chegou ao ICBS, às 11h30, para uma reunião reservada com o reitor Carlos André Bulhões Mendes e a rápida cerimônia de inauguração.
Os manifestantes e lideranças do movimento estudantil cobraram do ministro explicações para os crescentes cortes de verbas das instituições federais, desmonte da educação pública e intervenção do governo federal na Ufrgs com a nomeação de Bulhões para a Reitoria – último da lista tríplice indicada pela comunidade acadêmica, o reitor é visto como um interventor.
Com faixas, cartazes e palavras de ordem, os estudantes da área da Saúde repudiaram a presença do ministro e lembraram suas afirmações de que a universidade deveria ser um lugar “para poucos” e que estudantes com deficiência “atrapalham” o aprendizado de outros alunos, feitas em agosto de 2021 em uma entrevista à TV Brasil.
Inimigo da educação
Em janeiro deste ano, Ribeiro foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por homofobia por causa de uma declaração dada ao jornal O Estado de S. Paulo, em setembro de 2020, na qual associou a orientação sexual não binária de adolescentes ao que ele chamou de “ambiente familiar desajustado”.
A presença do ministro na capital gaúcha coincidiu com o início do ano letivo em meio à pandemia. “Queremos debater o retorno presencial seguro, garantindo a assistência estudantil e a permanência. A gente sabe que esse ministro já falou que a universidade tem que ser um espaço para poucos, um espaço elitizado, e nós estamos aqui colocando a nossa comunidade em defesa da universidade pública”, destacou a coordenadora-geral do Diretório Central de Estudantes (DCE) da Ufrgs.
“Além de ser um representante do governo bolsonarista que realizou nos últimos anos cortes históricos de verbas para as universidades federais, é também um defensor do sucateamento e elitização da educação no Brasil”, protestou em nota o coletivo de estudantes de Psicologia da instituição.
“Tendo feito várias acusações revoltantes, como nos momentos em que fez defesa de que a universidade 'deveria ser para poucos' ou de que crianças com deficiência deveriam ser separadas das demais no seu processo educacional. Através de suas declarações, Milton Ribeiro se mostra um inimigo da educação no Brasil, principalmente da educação pública, inclusiva e representativa”, ressalta o comunicado.
Interventor
A chapa do reitor Carlos Bulhões foi a menos votada tanto na consulta acadêmica promovida pela Ufrgs, quanto na eleição do Conselho Universitário (Consun), que definiu a lista tríplice encaminhada ao Ministério da Educação (MEC).
Mesmo assim, foi nomeado por decreto por Bolsonaro em 15 de setembro de 2020, sob pressão de um lobby de deputados bolsonaristas liderado por Bibo Nunes (PSL-RS).
A nomeação quebrou a tradição de empossar o primeiro da lista indicada pela comunidade acadêmica das federais e Bulhões passou a ser alvo de pedidos de destituição após iniciar uma reforma administrativa que cria e extingue pró-reitorias sem a aprovação do Consun, como determina o estatuto da universidade.
Em agosto, o Conselho Universitário aprovou, por 57 votos a sete, um pedido de destituição do reitor, apontado como um interventor de Bolsonaro na Ufrgs.
“Para denunciar a intervenção que a gente sofre na Ufrgs, fizemos um pedido de destituição do Bulhões, que não tem moral alguma para estar à frente da reitoria, pois não teve votos da comunidade. Mas como estamos sob intervenção, o MEC não aceitou nosso pedido. O próprio ministério está sob um processo de desmonte neste governo”, destacou Ana Paula.