Estudantes da UnB em greve discutem alternativas para a crise
Déficit da entidade é de R$ 92,3 milhões, por conta de cortes orçamentários feitos pelo governo. Segundo administração, sem solução rápida, contas de água e luz só poderão ser pagas até agosto
Publicado: 08 Maio, 2018 - 09h57 | Última modificação: 08 Maio, 2018 - 10h03
Escrito por: Hylda Cavalcanti, da RBA
Cumprindo hoje (7) cinco dias de greve, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) ficaram de realizar nova assembleia até quarta-feira (9) para discutir o resultado de reuniões que estão marcadas esta noite e amanhã na reitoria entre um grupo de alunos e professores com representantes da administração e a reitora da universidade, Márcia Abrahão. Intitulada UnB Resiste, a paralisação não tem data para acabar e tem como objetivo principal buscar uma solução para enfrentar os cortes orçamentários e impedir demissões de trabalhadores terceirizados e desligamento de estagiários.
O que administração da entidade, docentes e representantes dos alunos tentam é conseguir alternativas que ajudem a manter as aulas, o funcionamento de todos os departamentos e a qualidade dos serviços. Por ora, somente os estagiários tiveram suas vagas garantidas até o dia 30 deste mês. De acordo com os coordenadores do movimento, apesar da paralisação não contar ainda com a adesão total dos professores, eles avaliam que o número está aumentando.
“Se a situação de crise continuar e não fizermos nada, a UnB vai fechar as portas em breve. A greve foi deflagrada pelos estudantes, mas o reforço dos professores ao movimento é importantíssimo, porque mostra o tamanho desta luta, que não é só nossa, mas de todos que estão na universidade”, explicou um dos diretores da União Nacional dos Estudantes do Distrito Federal (UNE-DF), Vinícius Almeida.
A reitoria divulgou duas notas desde o anúncio da greve. A primeira destaca respeito à posição das entidades que estão à frente da mobilização e lembra que tem mantido diálogo com todos os segmentos da área para buscar alternativas que permitam a melhoria do quadro orçamentário da universidade.
Já a segunda nota consiste numa crítica ao posicionamento de alunos que teriam depredado alguns locais do Centro Acadêmico de Agronomia (CAAGRO) para impedir que fossem realizadas aulas. No documento, a reitoria diz que vai avaliar os danos para que o valor dos reparos seja cobrado posteriormente junto aos responsáveis pelo ato, considerado arbitrário.
Sem intransigência
Embora os professores não tenham se comprometido de forma unânime com a paralisação, muitos pediram à reitora para que o movimento seja amplo e conte com o apoio da própria administração da universidade.
No Centro de Comunicação, eles assinaram uma carta na qual concordam em participar de atividades definidas após reuniões entre o corpo docente, alunos e representantes da reitoria, tais como solicitar ao governo federal, ao Congresso Nacional e ao Judiciário a liberação de recursos arrecadados pela Fundação Universidade de Brasília (FUB).
Os professores também pretendem pleitear que recursos arrecadados pela universidade sejam utilizados integralmente pela UnB e que montantes alocados para investimentos sejam usados para dar continuidade ao pagamento de terceirizados e estagiários. Eles sugerem ainda um levantamento de ações em outras instituições de ensino superior que estejam com problemas semelhantes.
“A UnB foi criada por meio de luta e resistência. É uma universidade que fez parte de uma conquista política para termos uma instituição de ensino público no Distrito Federal. Tivemos conquistas importantes ao longo de sua criação, como o movimento realizado em 1962, uma greve para que um terço dos estudantes pudessem participar das decisões. Tivemos ainda a luta pelas reformas de base e tantas outras”, destacou a estudante Maria Luiza Pinho Pereira, uma das coordenadoras do movimento. “Precisamos retomar este espírito de mobilização nesse momento, de crise tão profunda.”
A greve consiste num segundo momento da mobilização contra a falta de recursos para a universidade, iniciada com uma ocupação no prédio da reitoria no início de abril (que durou 19 dias) e a realização de dois atos públicos em frente ao Ministério da Educação, que foram reprimidos com violência pela Polícia Militar. Em todos os debates realizados para discutir o tema, o ministério se recusou a enviar representantes.
Situação precária
Estimativas da administração da entidade são de que o déficit de 2018 está em R$ 92,3 milhões. Para que as contas sejam equilibradas, apontam estudos técnicos, a universidade precisaria cortar R$ 39,8 milhões e aumentar sua receita em R$ 50,8 milhões.
Dentre as primeiras alternativas aventadas para fechar esta conta, além da demissão de trabalhadores terceirizados e encerramento de estágios, também estão aumento do valor de refeição do restaurante universitário e fechamento de alguns laboratórios. Há informações não confirmadas de que os recursos existentes na universidade, neste mês, só permitirão o pagamento de água e luz até o mês de agosto.
A situação passou a ficar precária, sobretudo, porque no orçamento de 2016 foi destinado um volume ampliado de recursos para a UnB. Com isso, além da redução significativa de verbas no Orçamento da União para a entidade em 2017, neste ano entrou em vigor a Emenda Constitucional que congela os gastos públicos por um período de 20 anos.
“A universidade pública não pode pagar pela crise econômica em detrimento do empresariado e dos representantes do mercado financeiro que descontam seus prejuízos sobre nós. Esta é apenas mais uma faceta do golpe que resultou no impeachment da presidenta Dilma Rousseff em 2016: acabar com a maior parte dos nossos direitos e conquistas, principalmente em relação à educação”, reclamou o estudante de Direito Davi Ribeiro, um dos grevistas.