Escrito por: RBA
Sob gestão do governador bolsonarista de São Paulo, Tarcísio de Freitas, USP vê a possibilidade de fechar cursos por falta de professores
Nesta quinta (21), estudantes de diversas faculdades da Universidade de São Paulo (USP) entraram em greve. Eles demandam que a reitoria implemente um plano para contratar professores efetivos. Esta é uma resposta ao cancelamento de disciplinas e à ameaça de suspensão de cursos completos devido à escassez no corpo de docentes. A crise na instituição se dá em meio ao governo privatista e bolsonarista de Tarcísio de Freitas (Republicanos).
A necessidade de reposição do corpo docente decorre de aposentadorias e falecimentos. Fato que causou uma queda no número de professores, de 5.934 para 4.892 nos últimos nove anos, de acordo com dados apresentados no anuário da instituição. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) é uma das mais afetadas por essa situação.
Até o momento, o corpo estudantil organizado de todos os quatro campi da capital aprovou a paralisação, à exceção da Escola Politécnica (Poli), da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e da Faculdade de Medicina (FMUSP). Os alunos da Poli e do Largo São Francisco se reunirão na próxima segunda-feira (25) para decidir sobre a possível adesão à greve. A Faculdade de Medicina decidiu que não interromperá suas atividades. Contudo, emitiu uma declaração de apoio às mobilizações. O grêmio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) também vota hoje sobre sua participação.
A Associação dos Docentes da USP (Adusp) planeja realizar uma assembleia geral na terça-feira (26), com a possibilidade de também aderir à paralisação em discussão.
Em alguns cursos, a greve foi aprovada apenas para o dia 21 e não será contínua. Isso ocorre, por exemplo, no Instituto de Astronomia e Geofísica e na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Na Faculdade de Enfermagem, entretanto, as atividades serão interrompidas nos dias 20 e 21.
Nos últimos dez anos, o corpo docente encolheu em quase 20%. No mesmo período, aproximadamente, o número de estudantes de graduação aumentou de 59.081 para 60.120, enquanto os de pós-graduação passaram de 35.793 para 37.238. O atual reitor, Carlos Gilberto Carlotti, assumiu o cargo em 2022 com o compromisso de sanar esse déficit, contratando 876 professores até o fim de seu mandato, previsto para término em 2025.
Desde a ascensão de Tarcísio, político ligado à extrema direita, não é surpresa aos discentes e docentes que o estado de São Paulo passa por um avanço de políticas neoliberais. Isso envolve um projeto elitista, de sanha privatizadora, no governo estadual, de acordo com os estudantes. O argumento é de que essa tendência também se faz presente na Universidade de São Paulo (USP), a principal instituição de ensino superior do estado; uma das maiores do mundo.
Desde o ano passado, os estudantes de diversos cursos da USP têm enfrentado obstáculos na conclusão de suas disciplinas, incluindo aquelas de caráter obrigatório. Isso, devido à escassez de professores no corpo docente. Como resultado, os estudantes se veem obrigados a atrasar sua formação acadêmica ou a enfrentar uma carga horária excessivamente intensa em um único semestre. Tudo isso resulta em um aumento do estresse, da ansiedade e da probabilidade de abandonar o curso.
A falta de professores na USP ameaça seriamente a continuidade dos estudos de estudantes em diversos cursos e campi da universidade, como também demonstrado nas situações do curso de Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), dos cursos da Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (FoFiTO), sem falar do curso de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que passa pela maior dificuldade. Também sofre o curso de Artes Visuais da Escola de Comunicação e Artes (ECA). Na ECA, inclusive, a perda do quadro docente é de cerca de um quarto.
Então, nas últimas gestões da reitoria da USP houve mudanças que dificultam o aumento e a manutenção de professores efetivos e incentivam sua diminuição. Em 2011, a administração acabou com o “gatilho automático de contratações”. Então, esse mecanismo deixou de funcionar. Ele abria concursos para contratar professores quando um docente se aposentava ou deixava a universidade.