Escrito por: Letycia Bond | Agência Brasil
Especialistas alertam sobre isolamento e desestímulo ao profissional
Além de selecionar quais plataformas entrariam na análise e de dialogar com gerentes das plataformas, a fim de entender se as práticas se alinham com o discurso que as empresas disseminam, os autores do estudo entrevistaram 752 trabalhadores de 94 países.
A avaliação das plataformas levou em consideração cinco aspectos: se elas oferecem remuneração justa; quais as condições de trabalho; os termos dos contratos firmados com o profissional; o gerenciamento e a representação dos trabalhadores, no sentido de facilitar, ou não, sua organização coletiva, com o objetivo de defender seus direitos. O conjunto de princípios foi delineado em 2018, durante um workshop com diversos atores, da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A nota máxima a ser conferida era 10, e a mais alta foi de 5 pontos, marcada pelas plataformas ComeUp, Prolific e erawork. Quatro plataformas – Amazon Mechanical Turk, Freelancer, Microworkers e Workana – tiraram zero. As plataformas Appen, SouFreelancer, Upwork, Clickworker, Elharefa, Fiverr, PeoplePerHour e Scale/Remotasks alcançaram notas intermediárias, mas ainda baixas, já que variaram de 1 a 4.
Com o propósito de estimular as companhias a seguir os parâmetros que caracterizam o trabalho digno, o Fairwork adota uma estratégia: tentar promover as mudanças necessárias em um contato mais direto com os gerentes das plataformas. A tática teve efeitos, em alguns casos, como o das empresas ComeUp e Terawork, que se comprometeram a adotar medidas para garantir aos trabalhadores um pagamento que respeitasse o salário mínimo fixado, conforme sua localidade.
Os autores do relatório destacam ainda que o tipo de relação que se estabelece nas plataformas pode evoluir para a insensibilidade com os trabalhadores e contribuir para a precarização do trabalho e mesmo sua desumanização. "O processo de trabalho pode, com frequência, ser despersonalizado e oculto. Quando um trabalhador está no outro lado do mundo e é representado apenas por um perfil na interface da plataforma, sua história e suas experiências tornam-se obscuras", ponderam os pesquisadores, que ressaltam também o isolamento dos profissionais como característica que marca o relacionamento com a plataforma mediadora e empregadores.
"Às vezes, nenhuma informação sobre o trabalhador é revelada a um cliente. A relativa facilidade com que se pode solicitar o trabalho nas plataformas pode ajudar a dissociar e desconectar o trabalho de sua origem, que é o trabalhador, alimentando a ilusão de que as tarefas são completadas automaticamente. Essa falta de clareza pode dificultar a formação de solidariedades entre os trabalhadores, diante de condições injustas de trabalho, ou dificultar que clientes se identifiquem com as condições que os trabalhadores vivenciam nas plataformas", acrescentam os autores do estudo.
Outro aspecto que intriga os pesquisadores do Fairwork é a influência de recursos de inteligência artificial, resumidos como tecnologias que procuram fazer com que computadores realizem atividades que a mente é capaz de realizar. O que se constatou, no contexto do estudo, é que a incorporação desse tipo de ferramenta, em uso pelas empresas, mais do que dobrou, de 2017 para 2022.
Na avaliação da equipe, há, ainda, "pouco escrutínio" e "pouco reconhecimento do público em geral", em relação ao que o avanço da inteligência artificial representa para o mundo do trabalho.
A íntegra do relatório, disponível em inglês, pode ser acessada pelo site do Fairwork.