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84,4% da população LGBT de Curitiba já foi discriminada

Realizado pelo Grupo Dignidade, estudo levanta dados de identidade de gênero e orientação

Publicado: 20 Fevereiro, 2018 - 15h25 | Última modificação: 24 Fevereiro, 2018 - 13h55

Escrito por: Júlia Rohden, do Brasil de Fato

Fotos Públicas
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Uma pesquisa divulgada na primeira semana de fevereiro aponta informações sobre a população LGBTI+ de Curitiba e Região Metropolitana. Além de dados sócio demográficos, revela que 84,4% dos entrevistados já foram discriminados e 56,3% pensaram em suicídio. O estudo foi realizado pelo Grupo Dignidade tendo como base 35 perguntas e 1.326 participantes. A pesquisa virtual irá ajudar a aprimorar uma pesquisa nacional com o mesmo público que será realizada ainda no primeiro semestre.

“Para além de guiar os trabalhos do Grupo Dignidade, essa pesquisa deve ser uma forma de pressionar por políticas públicas para a população LGBTI+”, afirma o diretor executivo do Grupo Dignidade, Toni Reis.

Os resultados apontam que 56,3% dos entrevistados já pensou em suicídio e 84,4% sofreu discriminação nas ruas, no local de estudos, no trabalho, no comércio ou pela família. A pesquisa ainda revela que a maioria (53,8%) das pessoas LGBTI+ que moram em Curitiba e Região Metropolitana não são aceitas pela família.

A psicóloga e integrante do Núcleo de Diversidade de Gênero e Sexualidade do Conselho Regional de Psicologia do Paraná, Roberta Baccarin, ressalta que o alto índice de pensamento suicida é uma relação de diversos fatores e está associado ao preconceito, mas não se limita a ele. “Não só a população LGBT, como outros grupos mostram grande índices de tentativa de suicídio. O que acontece muito na população LGBT é que esses fatores são interseccionais, ou seja, junto com a questão da orientação sexual ou da identidade de gênero tem outras questões de raça, de classe, que vão deixando essa vivência mais dolorida para a pessoa. O dia-a-dia dela é mais complicado na sociedade, não só porque é estigmatizada pela orientação sexual ou identidade de gênero como por esses outros fatores também”, explica.

Toni Reis, diretor executivo do grupo responsável pela pesquisa, defende que a questão sobre suicídio deve ser discutida. “Nós precisamos falar disto abertamente para atacar a causas: a discriminação, a violência, a falta de perspectiva de vida para estas pessoas”, afirma. Ele comenta que o suicídio de uma travesti, por exemplo, não é um problema dela, mas de toda a sociedade. Por isso, Reis defende que as questões de identidade de gênero e orientação sexual sejam tratadas em políticas públicas na saúde, educação e cultura.

A população LGBTI+ pode receber atendimento psicológico gratuito ou a preços acessíveis. Roberta Baccarin recomenda entrar em contato com o Conselho Regional de Psicologia (CRP) e buscas informações sobre locais com atendimento social ou voluntário. O Grupo Dignidade, responsável pela pesquisa, também oferece gratuitamente atendimentos psicológicos para a população LGBTI+. A partir dos resultados da pesquisa, o Grupo irá duplicar a oferta do serviço, passando a 200 atendimentos mensais.

Diversidade

Os dados mostram que 43,9% dos entrevistados se identificaram como gays, 22% como lésbicas, 23,2% como bissexuais, 4,4% como heterossexuais, 2,3% como pansexuais, 0,5% como homossexuais, 2,4% não soube responder e outras treze pessoas responderam de forma aberta sobre sua orientação sexual. “O ser humano é diverso, porque todo mundo tem sua orientação sexual e sua identidade de gênero”, comenta o diretor executivo.

Reis, que também é sexólogo, informa que o símbolo “+” foi acrescentado para abranger outras orientações sexuais, identidades e expressões de gênero. “A pesquisa mostra que tem pessoas que não se identificam com nenhuma dessas letras [LGBTI – lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, intersexuais], mas não são heterossexuais. São pessoas não-binárias, pansexuais, assexuais… tem tantas denominações que resolvemos colocar o +”, explica.

Faixa etária, raça e religião

A pesquisa inédita foi respondida por pessoas menores de 14 anos até mais velhos de 60 anos, mas a maioria (cerca de 60%) são jovens entre 18 e 29 anos. A maior parte também se declarou como branca, correspondendo a 73% do total – enquanto 17,8% se declararam pardos; 6,4% negros; 1,7% amarelos e 0,3% indígenas. Em relação a posição política, 51,6% declarou ser de esquerda ou centro-esquerda e outros 38% afirmaram não ter posição política.

A maioria dos participantes não tem religião, enquanto 19,4% são católicos; 15,5% cristãos; 13,9% agnósticos, 8,4% ateus; 7,9% espírita; 5,8% umbandistas; 2% candomblecistas e 1,68% são protestantes ou evangélicos. De acordo com o Grupo Diversidade, os dados demonstram que muitas pessoas creem, mas não participam ativamente de religiões porque não se sentem acolhidas por ser LGBTI+.

Participaram da pesquisa moradores de 55 dos 75 bairros de Curitiba, especialmente do Centro, Fazendinha, Boa Vista e Cajuru. Cerca de 72% dos entrevistados moram em Curitiba e o restante na Região Metropolitana, representada principalmente por pessoas que moram em Colombo, Pinhais e São José dos Pinhais.

Denúncia e apoio

A população LGBTI+ pode receber atendimento psicológico gratuito ou a preços acessíveis. Roberta Baccarin recomenda entrar em contato com o CRP e buscar informações sobre locais com atendimento social ou voluntário. O Grupo Dignidade, responsável pela pesquisa, também oferece gratuitamente atendimentos psicológicos para a população LGBTI+. A partir dos resultados obtidos, o Grupo irá duplicar a oferta do serviço, passando a 200 atendimentos mensais.

É possível denunciar a homofobia através de uma ligação gratuita para o Disque 100, serviço que funciona 24h e atende em todo território nacional. Em Curitiba, a denúncia pode ser feita pelo telefone 0800 6431 121 ou pessoalmente na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Há também a opção do contato pelo telefone com a Assessoria de Políticas de Diversidade Sexual, vinculada ao gabinete do prefeito, pelo telefone 3350-8484.

Dados da homofobia

Pelo menos 20 homossexuais foram assassinados no Paraná em 2017, segundo monitoramento realizado pelo Grupo Gay da Bahia. O número é o mais alto desde 2012, quando a homofobia matou 18 pessoas.

Os dados são ainda mais graves em nível federal: 445 lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBTs) foram mortos em crimes motivados por homofobia no ano passado. O número significa um aumento de 30% em relação a 2016.