Escrito por: Érica Aragão
Acolhimento é o caminho que a CUT e toda a esquerda têm de fazer para atrair eleitores descontentes com Bolsonaro, rumo a um país mais justo e com mais direitos, diz ex-ministro Franklin Martins
A CUT tem um papel crucial na disputa de 2022, seja ela pelas mídias tradicionais, nas ruas ou nas redes digitais, devido a relevância da entidade e seu papel mobilizador com a atuação em rede dos seus quase 4 mil sindicatos e milhares de sindicalistas em todo país. O que precisa fazer é uma política com o coração e alma, e não com o fígado.
A afirmação foi feita pelo jornalista e ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do segundo governo Lula, entre 2007 e 2010, Franklin Martins, no Encontro do Coletivo Nacional de Comunicação da CUT, realizado nesta quarta-feira (7), ao falar sobre os desafios da comunicação para 2022.
Para ele, por mais que a eleição de Jair Bolsonaro (ex-PSL) tenha transformado o país num caos e potencializado o discurso de ódio, os militantes e sindicalistas de esquerda precisam acolher os indignados e os arrependidos, mostrar que o erro é o Bolsonaro, recebê-los bem, pegar na mão e dizer: “vamos juntos mudar este país e reconquistar nossos direitos. Precisamos fazer um acolhimento com a alma, mostrar o projeto de país que temos e seguir em frente para disputar corações e mentes”.
reproduçãoFranklin repetiu muito a palavra acolhimento ao se referir a uma porcentagem de pessoas que votaram nos governos Lula e Dilma, ambos do PT, mas que com o golpe de 2016, decidiram acreditar numa pessoa que se dizia fazer uma nova política, mas que se utilizou de “fake news” e polarização. Hoje elas estão arrependidas e dispostas a votar num governo progressista mais uma vez.
Segundo ele, o desgoverno de Bolsonaro, suas políticas neoliberais, retirada de direitos sociais e trabalhistas, a atuação genocida, negacionista e antidemocrática mais a movimentação do Superior Tribunal Federal (STF), que julgou a parcialidade do ex-ministro e ex-juiz, Sérgio Moro, e inocentou Lula, trouxeram novos ares políticos.
Essas movimentações dos últimos meses e a pandemia trouxeram a sociedade para outro patamar de debate político. Além disso, afirmou o ex-ministro, é preciso que a esquerda e a CUT aprendam com as experiências de comunicação das outras eleições para fazer melhor e alcançar mais pessoas ao falar sobre um projeto de desenvolvimento para o país mais justo para todos e todas.
reprodução“Não existe ninguém neste país com mais motivos de revolta do que o ex-presidente Lula, que foi preso injustamente por mais de 500 dias em Curitiba e não pode disputar as eleições de 2018, e ele mesmo fala que é preciso fazer política com o coração. A CUT precisa estar mais perto da sua base, dialogar digitalmente com ela, e saber ouvir para entendê-la para trazer junto com a gente. O acolhimento é um processo de construção, tem que falar menos no caminhão de som e estar mais perto do nosso povo, mesmo que pelas redes digitais”, afirmou o ex-ministro.
Franklin ainda completou: “nós temos que pensar que todos os avanços e desafios não só para 2022, mas pensar além de 2022. A gente achar que se vencermos a eleição estará tudo resolvido é um engano. Vamos sofrer problemas monumentais. Temer e Bolsonaro destruíram o país com exclusão social e vai custar um esforço de reconstrução. Vamos precisar de todo mundo para reconstruir o legado de Lula e avançar”.
Franklin foi incisivo ao falar que a CUT e o campo progressista precisam disputar as ruas, o parlamento, as mídias digitais e tradicionais para acolher o povo e combater as fake news. É preciso monitorar, melhorar a linguagem, fazer oficinas e pactuar parcerias para potencializar a política de comunicação das entidades.
“Podemos jogar um papel muito forte nesta disputa, mas tem que ser distribuindo panfleto e até materiais digitais que falam sobre o nosso ponto de vista de uma forma direta nesta disputa e não falar encima do caminhão. Quando a gente dialoga diretamente ou entrega panfleto é uma forma de acolher. Vai ouvir críticas e desaforos, vamos. Mas o importante é estar junto da base”, disse o ex-ministro.
Ele também pontuou que o desafio será tirar o ódio do padrão de relacionamento das pessoas que pensam diferentes. “Não podemos continuar do jeito que estamos”.
O ex-ministro pontuou ainda a importância de dar uma atenção especial para os trabalhadores de aplicativos.
“Colocaram na cabeça de muitos trabalhadores de aplicativos de que eles são empreendedores, mas isso não está dado. Muitos querem direitos, 13º e o direito ao vínculo trabalhista e a CUT tem um papel importante nisso porque eles são a classe trabalhadora também”, finalizou.
*Edição: Rosely Rocha