Ex-mulher de Bolsonaro pode ter usado laranja para comprar mansão, diz PF
PF quer saber quem estaria pagando as parcelas do financiamento, pois o salário da ex-assessora parlamentar não é compatível com as parcelas que variam entre R$ 14 mil e R$ 16 mil
Publicado: 01 Setembro, 2022 - 16h10 | Última modificação: 01 Setembro, 2022 - 16h30
Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz
Para a Polícia Federal (PF) há indícios de que a ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (PL), Ana Cristina Valle, usou um laranja para conseguir financiamento de R$ 2,9 milhões para comprar a mansão em área nobre de Brasília, onde mora com o filho Jair Renan Bolsonaro, segundo reportagem do jornal O Globo.
É isso que afirma relatório da PF entregue à Justiça para justificar pedido de abertura de inquérito para investigar a compra da mansão no Lago Sul, avaliada em R$ 3,2 milhões.
"Ao que indicam os elementos de provas disponíveis, foi supostamente adquirida e financiada pela investigada Cristina Valle por meio de pessoa interposta sem ser possível identificar a origem de valores", afirma relatório da PF, ao solicitar à Justiça abertura de inquérito. "Há indícios de utilização de terceira pessoa interposta para obtenção de financiamento imobiliário. Tal conduta possui alcance típico de delito contra o sistema financeiro", aponta o documento.
A PF quer saber também quem estaria pagando as parcelas do financiamento. Segundo as investigações, o salário de cerca de R$ 6 mil que Ana Cristina recebia como assessora parlamentar - cargo que manteve até junho deste ano - não é compatível com as parcelas que variam entre R$ 14 mil e R$ 16 mil, a depender da taxa de juros aplicada.
Laranja, testa de ferro ou pessoa interposta
Pessoa interposta, ou seja, laranja ou testa de ferro, são os termos usados para definir uma pessoa que intermedeia, voluntária ou involuntariamente, transações financeiras fraudulentas, emprestando seu nome, documentos ou conta bancária para ocultar a identidade de quem a contrata, no caso, da verdadeira dona do negócio, que é a ex-mulher de Bolsonaro.
Coaf chamou a atenção para 'transações atípicas'
Nesta quarta-feira (31) a PF pediu à Justiça Federal autorização para abrir investigação contra Ana Cristina depois que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou "transações atípicas" ligadas à compra da mansão.
O Coaf é ligado ao Ministério da Fazenda e formado por integrantes de vários órgãos do governo. A função do Coaf é receber, examinar e identificar operações financeiras suspeitas.
Foi o Coaf que apontou que o negócio da ex-mulher de Bolsonaro teria sido feito "por meio de pessoa interposta”, ou seja, um laranja.
Ela transferiu R$ 867 mil para uma empresa de transporte de cargas do Distrito Federal pertencente a Geraldo Antonio Moreira Junior Machado, que teria usado uma parte desse valor, R$ 580 mil, para pagar a entrada da compra da mansão. O restante do valor foi financiado.
Até agora, Ana Cristina alegava que a casa havia sido alugada, mas a versão mudou. Na declaração de bens apresentada à Justiça Eleitoral (TSE) ela admitiu ser a proprietária do imóvel que, segundo ela, valeria R$ 829 mil. O imóvel permanece registrado em nome de Geraldo Antonio Moreira Junior Machado.
O pedido de investigação da PF acontece em meio à revelação do escândalo em torno da compra de 51 imóveis, realizada mediante o pagamento de dinheiro vivo por Bolsonaro e seus familiares nas últimas três décadas. A movimentação em espécie soma cerca de R$ 13,5 milhões - R$ 25,6 milhões em valores atualizados pelo IPCA.
Sobre o Coaf
De acordo com a Lei nº 9.613, de 1998, os bancos, as cooperativas financeiras, joalherias, marchands, seguradoras, prestadores de serviço de assessoria e consultoria, loterias, atletas, artistas, corretoras de valores e, desde 2020, os cartórios devem informar ao Coaf sempre que identificarem transações com indícios de lavagem de dinheiro, de financiamento de atividades terroristas ou de outras práticas ilícitas previstas em lei.
Há ainda um segundo tipo de comunicação, a de Operação em Espécie (COE), feita pelos mesmos setores, e que envolve movimentações em dinheiro acima do valor estabelecido em norma, que atualmente está fixado em R$ 50 mil.