Escrito por: Tiago Pereira, da RBA

Ex-secretário desmente Pazuello sobre falta de oxigênio e alerta de colapso no AM

Em depoimento à CPI da Covid, Marcellus Campêlo disse que informou sobre o desabastecimento de oxigênio em Manaus no dia 7 de janeiro, três dias antes do alegado pelo então ministro general

Marcos Oliveria/Jefferson Rudy/Agência Senado

O ex-secretário de Saúde do Amazonas Marcellus Campêlo desmentiu o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, em depoimento à CPI da Covid nesta terça-feira (15) sobre a crise em Manaus. Campêlo afirmou que ligou para o então ministro no dia 7 de janeiro para avisar do iminente desabastecimento de oxigênio nos hospitais do estado. No mês passado, Pazuello declarou à Comissão que soube da falta do insumo na noite de 10 de janeiro. “Sobre oxigênio, especificamente, fiz uma ligação ao ministro no dia 7 de janeiro, explicando a necessidade de apoio logístico para trazer o oxigênio a Manaus, a pedido da White Martins (fornecedora)”, disse o ex-secretário. A orientação do ministro, segundo ele, foi para que fizesse contato com o Comando Militar da Amazônia, que ajudaria no transporte aéreo dos insumos.

Antes mesmo do depoimento do ex-secretário, a CPI da Covid já havia tido acesso a documentos que quase um mês antes, a partir de 18 de dezembro, o estado do Amazonas havia pedido 140 respiradores. E que duas semanas depois solicitou mais 78. Desse modo, a condição “bomba-relógio” que cercava a capital amazonense já estava dada muito antes de o governo federal começar a agir. 

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No dia 10, Campêlo relatou que se encontrou com Pazuello para tratar do “atendimento logístico”. O ministro então marcou uma reunião no dia seguinte com representantes da White Martins. O ex-secretário afirmou que os pedidos de apoio para Manaus foram reiterados em diversos ofícios enviados ao ministério da Saúde. “Enviamos ofício nos dia 9, 11, 12 e 13 ao ministério pedindo apoio em logística”.

“Não tenho conhecimento se houve resposta, acredito que não. Não houve resposta, que eu saiba (aos ofícios enviados)”, ressaltou o ex-secretário. A partir da reunião do dia 11, Pazuello teria designado um coronel para intermediar as tratativas com a fornecedora de oxigênio. “A White Martins pediu apoio logístico e a partir daí ministro designou Coronel Moura para fazer as tratativas”, acrescentou. 

“Só dois dias”

De acordo com o ex-secretário, a rede de saúde do Estado registrou a desabastecimento de oxigênio apenas nos dias 14 e 15 de janeiro. Nesse momento, ele foi rebatido pelos senadores amazonenses. Omar Aziz (PSD-AM) e Eduardo Braga (MDB-AM), rebateram as declarações. Este último apresentou vídeos de manauaras na fila de pequenos e médios produtores de oxigênio, na busca desesperada por cilindros do insumo para atender parentes em tratamento.

Anteriormente, Braga já havia alertado que o crescimento da demanda por oxigênio não ocorreu abruptamente. Ele citou que em julho de 2020, o consumo mensal da rede hospitalar já ultrapassava os 400 mil metrôs cúbicos, enquanto que o contrato com a White Martins previa o fornecimento de apenas 250 mil metros cúbicos de oxigênio.

“O que havia era um aumento gradual, firme e constante em função do número de infectados. E a secretaria e o governo do estado teve tempo suficiente para poder agir. Enquanto ele trocava ofício, 200 pessoas estavam morrendo em Manaus por dia”, disse o senador. O próprio depoente havia informado à Comissão que, em setembro, ele havia sido alertado pela Fundação Vigiância em Saúde (FVS) para o crescimento das internações na rede privada do estado.