Explode a revolta na senzala da Foxconn na...
A fábrica onde trabalham 78 mil pessoas foi fechada após levante provocado pela agressão de seguranças a operários
Publicado: 27 Setembro, 2012 - 13h30
Escrito por: Antonio Pimenta/Hora do Povo
Péssimos salários e más condições de trabalho são a marca da Foxconn
Fábrica da Foxconn na cidade de Taiyuan, no norte da China, teve a produção suspensa após revolta com milhares de trabalhadores na noite de domingo (23) que se seguiu à agressão de dois operários por guardas de segurança. Pela manhã milhares de policiais tentavam controlar a situação.
A fábrica, que funciona como um campo de concentração, tem 78 mil trabalhadores vindos das províncias que saem dali para o confinamento em dormitório. Maior fornecedor da Apple, a Foxconn se tornou mundialmente conhecida pelos suicídios em massa em 2009 e 2010 devido às condições análogas à escravidão – maus tratos, jornada excessiva, confinamento - e aos salários de fome.
De acordo com o “New York Times”, citando a imprensa de Hong Kong, em março a fábrica da Foxconn de Taiyuan teve uma greve por salário. Já para o “Financial Times”, nos últimos meses houve “reclamações sobre o excesso de trabalho” para as encomendas de lançamento do iPhone 5 da Apple e sobre o abuso de estudantes como “internos”. Estudantes que vinham fazer estágio eram obrigados a trabalhar de graça por mais de 12 horas, em conluio de professores com a empresa.
A Foxconn atribuiu a revolta a uma “disputa entre trabalhadores”; 40 funcionários ficaram feridos e muitos teriam sido presos. Vídeos que vieram a público mostraram um posto da guarda de segurança depredado, carros virados – inclusive da polícia - ou incendiados e uma rodovia interrompida por uma multidão. As vitrines de um shopping nas imediações foram apedrejadas.
“A menos que o ambiente social geral mude, algumas mudanças menores na Foxconn nada significam”, afirmou o especialista em questões trabalhistas da Universidade Renmin de Pequim, Yang Lixiong, se referindo à flexibilização de direitos que impera nas fábricas na China. “Em um bom ambiente social, os trabalhadores têm liberdade e os empregadores estão sujeitos à regulamentação, mas atualmente o contrário é o caso, então os trabalhadores vivem em opressão”. A Apple disse na segunda-feira (24) que o fornecimento inicial do seu novo iPhone 5 tinha se esgotado após vender o recorde de 5 milhões de unidades em três dias – 1 milhão a mais que no mesmo período no ano passado. Para obter isso, arrancaram o couro dos trabalhadores chineses.
SALÁRIOS IRRISÓRIOS
Este ano, em acordo com a Apple, tentando aplacar o desgaste com as denúncias veiculadas no mundo inteiro, a Foxconn havia posto em andamento mudanças cosméticas no seu sistema de operação, mas mantido a essência: salários irrisórios em um ambiente de senzala. Estudo de uma organização norte-americana, a Fair Labor Association, revelou que a Foxconn cometia dois terços de 360 tipos de violações trabalhistas. O quanto tais mudanças eram cosméticas pode ser apreendido pelas declarações do presidente da Foxconn, Terry Gou, no início do ano, comparando seus trabalhadores a “animais”, durante reunião em Taiwan, sede da empresa. “A Foxconn tem uma força de trabalho de mais de 1 milhão de pessoas em todo o mundo. Seres humanos também são animais e gerenciar 1 milhão de animais me dá dores de cabeça”. Ele completou dizendo que queria aprender com o responsável pelo Zoológico de Tapei [a capital de Taiwan] como “animais deveriam ser tratados”.