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Estado incompetente amplia desemprego na indústria paulista

Em 2016, indústria de transformação perdeu mais de 116 mil postos de trabalho

Publicado: 07 Junho, 2017 - 17h41 | Última modificação: 07 Junho, 2017 - 18h06

Escrito por: CUT-SP - Vanessa Ramos

Dorival Elze
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Mesmo sendo referência econômica no Brasil, o estado de São Paulo deixou há tempos de ser a locomotiva do País. E o cenário se agrava devido às políticas equivocadas adotadas por governos estaduais desde 1983, principalmente quando o tema é indústria, que provoca recordes de desemprego no setor e o fechamento de importantes empresas.

Essa foi a avaliação dos dirigentes sindicais no Encontro do Macrossetor organizado pela CUT São Paulo na última terça-feira (6). A atividade ocorreu no centro da capital paulista e contou com a participação dos ramos químico, metalúrgico, da alimentação, da construção e madeira e do vestuário e calçados.

Em 1985, São Paulo representava 47,8% do mercado de trabalho da indústria de transformação do Brasil e hoje representa 33,3%, segundo dados de abril de 2017 do Ministério do Trabalho e Emprego.

“Isso demonstra a ausência de uma política efetiva na área”, afirma o secretário-geral da CUT-SP, João Cayres, que coordenou o encontro.

“É preciso construir uma política industrial para o estado de São Paulo. Indústria forte significa  economia forte e países de economia forte têm sindicatos fortes. Mas sabemos que o governo tucano não tem preocupação nenhuma com a construção de uma efetiva política industrial, mesmo que os dados atuais sejam péssimos neste setor. Sem falar que a classe de endinheirados paulista também representa um atraso”, avalia.

Para o economista do Dieese, Leandro Horie, o governo de São Paulo deveria ter uma política industrial com foco na complementaridade e não na competição. “Só que isso não existe porque as políticas regionais foram colocadas de lado, sem falar que o governo vem sucateando seus órgãos de pesquisa”, complementa.  

Indústria paulista empobrece

A indústria de transformação paulista, em 2016, perdeu mais de 116 mil postos de trabalho. Entre janeiro e abril deste ano houve uma relativa melhora, com a criação de 28 mil postos, o que, contudo, não resultou numa recuperação para o setor. No acumulado dos últimos 12 meses (maio de 2016 a abril de 2017), foram fechadas mais de 74 mil vagas na indústria de transformação paulista.

São Paulo representa 29,9% do PIB (Produto Interno Bruto) industrial nacional e 38,6% da indústria de transformação. Em 12 anos, São Paulo perdeu 6,4 pontos percentuais no PIB industrial nacional e 4,8 na indústria de transformação, mostram dados de 2014 das Contas Regionais, divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Quando a indústria perde a participação no PIB significa que ela perdeu importância na economia brasileira e que a participação da indústria na riqueza produzida pelo país é menor”, explica a economista do Dieese, Rosângela Vieira.

A economista avalia que isso se deve pelo fato de a economia ser mais diversificada, com um setor de serviços mais dinâmico e especializado, mas, também, se deve ao processo de desnacionalização da produção. “O câmbio tem favorecido a importação de produtos que anteriormente eram produzidos no país. Além disso, a alta taxa de juros desestimula o investimento que tende ampliar a produtividade, competitividade e inovação da indústria”, diz.

Além da ausência de uma política industrial estadual, as mudanças que a indústria vem passando neste momento de crise, desde que o golpista Michel Temer assumiu a Presidência, demostram que não há política industrial nacional efetiva.

“A queda na taxa de juros foi bastante tímida, o câmbio não estimula as exportações, o que poderia ser uma alternativa para um mercado interno desaquecido. Além disso, há um ataque aos bancos públicos, que inclui o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), grande indutor do crescimento brasileiro”, completa Rosângela.

Com as transformações econômicas, o presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, aponta o desemprego como uma das principais preocupações. Vimos experiências parecidas em regiões da Itália e, levando em consideração outras vivências, sabemos que essas mudanças compõem um fenômeno mundial, mas, a ausência de uma política no setor paulista só agrava o fechamento de postos de trabalho e de empresas”, afirma.

Demissões na metalurgia

Para o presidente da Federação dos Sindicatos de Metalúrgicos (FEM), Luiz Carlos da Silva Dias, o Luizão, a crise política aumenta ainda mais o sofrimento dos trabalhadores.

O processo de desindustrialização visto aqui em São Paulo é também reflexo da ausência de políticas em âmbito federal e estadual. Se continuar dessa maneira, os empregos que estão sendo perdidos dificilmente serão retomados”, ressalta.

O número de metalúrgicos em 1995 no Brasil era de 1.377.777. Desse total, apenas o Sudeste representava 76,2% (destes, São Paulo representava 56,9%). O número de trabalhadores neste setor cresceu no último período no Brasil, mas diminuiu em algumas regiões. Hoje, o Sudeste representa 60,7% e o estado de São Paulo, que representava 56,9%, agora representa 42,4%.

 “Além de o ramo apresentar muitas demissões diante da crise econômica que o país está inserido, ainda percebemos a ausência de uma política industrial voltada para o estado de São Paulo. Podemos perceber isso recentemente porque só no estado de São Paulo, de janeiro 2016 a abril de 2017, houve fechamento de 70 mil postos de trabalho”, afirma a economista do Dieese, Caroline Gonçalves.

Alimentação em evidência

No Brasil, a alimentação concentra quase 10% dos ocupados no segmento industrial no Brasil e 2% do total de ocupados no país, em um total de quase 1,8 milhões de ocupados, segundo levantamento da subseção do Dieese da CUT Brasil. No estado de São Paulo, a base é de 399 mil trabalhadores.

Na avaliação do secretário de Política Sindical da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação da CUT (Contac), Nelson Morelli, o ramo da alimentação, diferente de outros setores, não enfrentava problema até os recentes escândalos.

“Era um ramo que estava contratando e produzindo, mas sabemos que a Operação Carne Fraca e, mais recentemente, o escândalo da família Friboi, o caso da JBS, refletiram no setor. Não houve mudança drástica ainda, mas mantemos a nossa preocupação futura com a indústria e o desemprego”, diz.

Para Morelli, o desafio hoje é dialogar com os mercados europeus sobre a qualidade dos produtos brasileiros para que o país não perca mercado e não afete o mercado de trabalho, mas, paralelo, denunciar que no Brasil há uma política perversa contra os trabalhadores da alimentação.

Nesse sentido, a Confederação irá elaborar um documento relatando as práticas e ações das empresas contrárias aos trabalhadores do setor, como retirada de direitos e judicialização das campanhas salariais. Depois, prevê o lançamento conjunto de uma campanha internacional de denúncia às empresas que exploram os trabalhadores.

Indústria química

“A indústria química passa igualmente por transformações”, diz o coordenador político da Federação dos Trabalhadores do Ramo Químico da CUT do Estado de São Paulo (Fetquim), Airton Cano.

“Nos preocupamos com o êxodo e a migração da indústria química. Nosso desafio é também sensibilizar vários setores no debate sobre a indústria e de maneira unificada no estado para discutirmos o aprofundamento da terceirização, da precarização e do home office (serviço remoto) porque, afinal, é o trabalhador quem está pagando o alto preço da crise e das reformas que querem aprovar no Congresso”, disse o dirigente.

Dados da subseção do Dieese, na Fetquim, mostram que, ao analisar os números absolutos, em 2006 o ramo químico no estado de São Paulo contava com 283.977 trabalhadores e, em 2015, com 309.136 trabalhadores, o que representa um crescimento de 8,8% no período.

Contudo, observa-se queda no percurso ascendente a partir de 2013. Entre 2013 e 2015, o estoque de emprego caiu em mais de 25 mil postos de trabalho e a queda para 2016 está projetada em aproximadamente 4,5 mil empregos. O movimento de fechamento de postos de trabalho está diretamente ligado à queda da produção industrial que, por sua vez, tem reflexo na crise econômica que o país tem enfrentado em tempos de crise.

Vestir e calçar

No 1º trimestre de 2017, o ramo do vestuário concentrava 2,9% do total de ocupados no país, com 2,5 milhões de trabalhadores. No estado de São Paulo, são 540,8 mil ocupados, com 44% de formalizados, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

“Nosso setor vem sofrendo ao longo dos anos por uma série de fatores. Temos também a guerra fiscal que promove o deslocamento das grandes empresas do estado de São Paulo para outros estados do país”, diz o presidente José Carlos Guedes, da Federação dos Trabalhadores e Coureiros e Vestuaristas do Brasil (Fetracovest).

Segundo Guedes, no setor de calçados paulista, em 1992, a base era de 23 mil trabalhadores, hoje caiu para 3.500 trabalhadores. “Foi uma redução drástica e só não foi pior porque unificamos com outras entidades do ramo”, aponta.

Presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Vestuário da CUT, Francisca Trajano lembrou que o macrossetor fez vários debates e sentou para negociar até mesmo com os governos de Dilma Rousseff e de Lula, mas depois veio o golpe.

“Fizeram com o que a nossa pauta caísse, mas continuamos o debate. Sabemos que o estado de São Paulo tem sua importância, mas a descentralização mudou a conjuntura e a mudança de estado não foi acompanhada com a mesma estrutura que havia, com a mesma qualidade de emprego e o mesmo salário. As fábricas se deslocaram para outros estados e as condições pioraram para a classe trabalhadora”, falou.

Guedes lembrou ainda que empresas como a Alpargatas, de calçados e artigos esportivos, localizada em Mogi Mirim, no interior paulista, mudou-se para a Paraíba, fechando todos os postos de trabalho. Igualmente a empresa Penalty transferiu a fábrica para a Bahia.