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Falta de segurança na Petrobras vitima petroleiros. Risco é maior nas plataformas

Negligência da Petrobras com proteção torna os trabalhadores mais vulneráveis à Covid-19. No Ceará, 42 trabalhadores foram infectados. Sindicato denuncia descaso da estatal com a segurança de seus trabalhadores

Publicado: 12 Maio, 2020 - 15h49 | Última modificação: 12 Maio, 2020 - 16h05

Escrito por: Andre Accarini

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Quase todos os trabalhadores de duas plataformas do campo de Xaréu, da Petrobras no Ceará, testaram positivo para o novo coronavírus (Covid-19). No total, 42 dos 45 petroleiros já tiveram a infecção confirmada. Os demais ainda aguardam os testes. O total pode chegar a 100% dos trabalhadores dessas plataformas, a depender dos resultados dos exames.

Os primeiros sintomas começaram a aparecer nos trabalhadores em uma das plataformas do campo de Xaréu, no dia 2 de maio. O Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Petróleodo Ceará e Piauí (Sindipetro-CE/PI), então, exigiu o desembarque e isolamento de todos os trabalhadores. Apenas cinco desembarcaram. Os demais foram colocados em isolamento na própria plataforma.

De acordo com o diretor de Saúde, Segurança e Meio-Ambiente do Sindipetro-CE/PI, Paolo Valterson, foi feito um protesto, que durou quatro dias, exigindo que a empresa tomasse providências efetivas para que os trabalhadores desembarcassem de todas as plataformas do campo de Xaréu, já que esses petroleiros infectados tiveram contato com outros trabalhadores ou com as instalações das unidades.

“Inicialmente eles foram isolados, depois desembarcaram quatro, prioritariamente, por terem sintomas evidentes, e depois os que tiveram contato com os infectados. Somente no terceiro dia é que desembarcaram todos, isolaram em hotéis em Fortaleza e fizeram os testes, que deram positivo”, relata o dirigente.

Ainda de acordo com ele, a intenção da direção era de liberar os trabalhadores para que fossem para suas casas ficar em confinamento. Mas o sindicato exigiu e os trabalhadores permanecem em hotéis com acompanhamento médico. “Imagina se isso acontecesse. Seriam 42 focos de coronavírus andando pelo estado todo, já que os trabalhadores são de diferentes cidades”,  completa.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) foi notificado. O Procurador Carlos Leonardo converteu a denúncia em inquérito civil, determinando que fossem solicitadas informações imediatas por parte da Petrobras, bem como a notificação à Secretaria Estadual de Saúde, à Promotoria da Saúde, à Promotoria da Comarca de Paracuru/CE, e à Vigilância Sanitária.

De acordo com o advogado do sindicato, Ícaro Gaspar, isso significa a ampliação da apuração, inclusive no que diz respeito à Vigilância Sanitária.

Jornada insegura

Os trabalhadores cumprem jornadas rotativas de 21 dias de trabalho e 21 dias de folga (21/21) e os trabalhadores não são fixos de apenas uma unidade, podem desempenhar suas funções em várias plataformas. Além disso, a troca de turmas não é feita de uma vez só, o que facilita a disseminação do vírus.

“A Petrobras faz de forma errada e coloca os trabalhadores em risco. A escala é 21/21, mas metade da turma assume numa semana e metade na outra, então toda semana é um risco e se tiver um trabalhador, assintomático, que não tenha sido testado, o vírus vai se alastrar pelos demais”, explica Paolo.

O dirigente critica a postura da empresa de “negligência com a saúde e a proteção aos trabalhadores”. A atividade realizada nas plataformas, diz Paolo, não é essencial, uma vez que a produção já foi encerrada. As atividades nessas unidades, hoje, são apenas de manutenção. “Esse trabalho pode muito bem ser feito depois que acabar a pandemia. Não precisa ser agora”, afirma o sindicalista.

“Atuamos de forma combativa para que a Petrobras dê assistência necessária para quem já está infectado e para as novas equipes de trabalho também, para garantir a segurança de todos, mas a dificuldade na negociação com a empresa é muito grande”, diz Paolo.

Ele reforça ainda que a prioridade para o sindicato, neste momento é garantir a proteção e à saúde dos trabalhadores e não a atividade econômica, que já está paralisada. “As atividades dessas plataformas não são essenciais neste momento”, ele conclui.

Outras unidades

A organização de escalas de trabalho na Petrobras permite que um mesmo petroleiro trabalhe em plataformas diferentes. Essa ‘logística’, de acordo com o sindicalista é mais um fator de risco para que outros trabalhadores já possam estar infectados ou fiquem vulneráveis ao coronavírus.  No último domingo (10), um trabalhador de outro campo de produção, o Curimã, também no Ceará, apresentou sintomas da Covid-19.

A circulação entre plataformas, compartilhamento de alojamentos e refeitório, mostra a ineficácia de medidas, já que um novo foco pode se estabelecer e repetir a situação onde a Petrobrás insiste em manter os embarques.

Um dos petroleiros relata que o descaso da empresa com a segurança desde o início da pandemia. “As primeiras máscaras eram de apenas de uma camada de TNT, sem elástico, para ser montada pelo usuário e em quantidade insuficiente", ele diz.