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Federação de Jornalistas e Conselho de Direitos Humanos repudiam assédio na EBC

Jornalista Gésio Passos sofreu assédio de uma diretora por defender a EBC como empresa pública. As entidades criticam o redesenho da empresa e o desmonte do jornalismo público

Publicado: 11 Maio, 2023 - 13h12 | Última modificação: 11 Maio, 2023 - 13h18

Escrito por: Rosely Rocha

Divulgação
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A Frente em Defesa da Empresa Brasileira da Comunicação Pública, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a conselheira do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Virginia Dirami Berriel, repudiaram o assédio cometido pela diretora da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Flávia Filipini, ao jornalista e dirigente sindical Gésio Passos, na última terça-feira (9), na sede da empresa em Brasília.

Virginia Berriel, que coordena a área de trabalho dentro do CNDH, durante seminário em Brasília, que discutia justamente o assédio moral e sexual no trabalho, condenou a atitude da direção da EBC, tanto em relação ao assédio como ao desmonte que a empresa vem sofrendo. A causa dos xingamentos da diretora proferidos contra o dirigente sindical foi justamente o fato dele ter denunciado que os jornalistas da EBC estão sendo transferidos para a comunicação governamental, sem a contrapartida do fortalecimento do jornalismo público.

“Não temos nada contra o fortalecimento da comunicação governamental, mas a comunicação pública precisa muito mais. A EBC foi criada para isso, para levar conhecimento ao Brasil inteiro”, afirmou Virgínia.

A dirigente disse ainda ser lamentável a postura do presidente da EBC, Hélio Doyle, e ex-presidente do sindicato dos jornalistas do DF, que numa reunião no Rio de Janeiro, em que se discutia a possibilidade do fechamento das redações do estado e de São Paulo, disse que o jornalismo não dava audiência.

“Respondi que este não é o papel da EBC e, se for manter comunicação pública em função da audiência, poderia acabar com a Voz do Brasil”, contou.

O assédio na EBC

A abordagem da diretora aconteceu após a participação do jornalista em reunião de uma Comissão do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), ainda na terça-feira, em que falou sobre o desmonte do jornalismo da EBC.

Segundo relatos, aos gritos no meio da redação, a diretora acusou o jornalista de espalhar fake news sobre o redesenho da empresa. Gésio tentou argumentar com dados fornecidos pela própria empresa, mas a diretora continuou gritando, cena que foi presenciada por dezenas de trabalhadores estarrecidos na redação, e que hoje fizeram uma homenagem ao colega.

O jornalista argumentou que tinha todos os dados em seu e-mail e se prontificou a mostrar para a diretora, que o acompanhou de volta até sua mesa. Assim que Gésio começou a mostrar os dados, Flávia Filipini reagiu com gritos, rebatendo as informações, apesar de se tratarem de dados públicos apresentados pela própria empresa. A diretora prosseguiu na difamação.

Nesse momento, o jornalista pediu respeito e reafirmou que os dados eram públicos e demonstravam que a área de serviços ganhou 20 novos cargos, enquanto a parte pública da empresa perdeu outros 20 cargos.

As entidades sindicais classificam a atitude como prática antissindical explícita e uma grave ação de assédio de uma diretora contra um empregado da empresa pública. As entidades exigem a retratação da direção da EBC em relação à postura da diretora e avaliam medidas judiciais cabíveis para o caso e, que a empresa abra um procedimento de apuração independente sobre o caso.

A Frente solicita que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), órgão supervisor da EBC no âmbito do governo, tome as medidas que o caso exige. Ao agir dessa forma, a atual diretora e futura superintendente da EBC demonstra não ter o preparo e a responsabilidade necessários para cargos dessa natureza. Leia aqui a nota da Fenaj.

Desmonte da EBC

A direção da empresa fez um redesenho sem qualquer diálogo com os trabalhadores e a sociedade civil, desmontando o jornalismo público em prol do fortalecimento da comunicação governamental. Segundo trabalhadores da EBC, o plano é extinguir quatro telejornais, inclusive os locais, que falam direto ao cidadão.

Este desmonte tem preocupado a Frente em Defesa da Empresa Brasileira de Comunicação, que há anos vem lutando pela redemocratização da EBC, pela retomada de seu Conselho Curador para que a programação e jornalismo públicos sejam protegidos.

A EBC foi condenada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), por assédio moral coletivo durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“É triste ver que mudou o governo, mas a cultura de assédio na empresa, com a conivência da direção, permanece. Isto poderá ser motivo de novas denúncias junto ao MPT e à Justiça do Trabalho”.

“Consideramos inadmissível que a fala de um trabalhador que representa esta Frente num espaço de participação social e de direitos humanos sobre a situação da comunicação pública, como ocorreu em uma reunião do CNDH seja seguido desse tipo de situação em seu local de trabalho. Isto ultrapassa todo e qualquer limite de razoabilidade”, diz a Frente em nota.