Escrito por: Vanessa Ramos, CUT-SP

Federação dos Trabalhadores da Alimentação na Bahia elege nova direção

Congresso da entidade ocorreu na capital baiana nos dias 16 e 17 de novembro

Contac-CUT

A Federação dos Trabalhadores das Indústrias de Alimentos e Afins da Bahia (Fetiaba) elege nova direção e renova luta sindical.

A entidade, que é filiada à Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação da CUT (Contac-CUT), realizou seu 10º Congresso Estadual entre os dias 16 e 17 de novembro, no Centro de Treinamento de Líderes (CTL), em Salvador (BA).

Além de eleger 24 novos diretores que comandarão a Fetiaba nos próximos quatro anos, o encontro também apontou diretrizes de luta a partir dos debates e das intervenções de especialistas convidados.

No estado em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu Jair Bolsonaro (PL) com 72% dos votos válidos, a expectativa é de que a classe trabalhadora volte a ser protagonista e mudanças na reforma trabalhista, em vigor desde a aprovação da lei nº 13.467, sejam discutidas.

Um dos representantes da Contac-CUT na atividade, Nelson Morelli, ressaltou que o movimento sindical precisa se unir para discutir um novo modelo de atuação com o objetivo de fazer da pauta trabalhista prioridade na agenda do governo Lula.

“Temos de repensar nossa forma de atuação para reconstruir tudo aquilo que foi perdido desde 2017, com a retirada de direitos. Precisamos debater, reconquistar o que foi perdido para que este país seja feliz de novo”, disse.

Presidente eleito da Fetiaba, Dacio Ângelo, indicou acreditar que as mudanças necessárias para os trabalhadores e trabalhadoras não ocorrerão sem intensa mobilização.

“Com a eleição do presidente Lula, nossas expectativas são renovadas, mas sabemos de nossa responsabilidade, que é estar ao lado das federações e centrais para apresentar diretrizes que melhorem as condições de trabalho. Vamos lutar para recuperar os postos de trabalho e reindustrializar o país, que perdeu o poder de produzir. Queremos ver a Bahia novamente com várias indústrias”, afirmou.

Ex-presidente da federação, agora eleito diretor de Formação, Roberto Santana, lembrou do papel político fundamental da entidade. “A federação precisa agora juntar filiados para pressionar o Congresso Nacional e o governo do estado no sentido de rediscutirmos medidas que aprimorem um mercado de trabalho completamente desestruturado pelos governos Temer e Bolsonaro”, criticou.

Secretário de Finanças da Contac-CUT, Josimar Cecchin, defendeu a extinção da reforma trabalhista, além de apontar a necessidade de discutir mudanças na Confederação das Leis Trabalhistas (CLT) para atualizar a legislação. “Após a vitória do presidente Lula, a reforma trabalhista volta ao debate e nossa esperança é que ela seja revogada.”

Presidenta da CUT Bahia, Maria Madalena Firmo, conhecida como Leninha, lembrou que a vitória sobre a extrema-direita foi fundamental, mas não traz garantias de que isso trará espontaneamente um novo olhar para a classe trabalhadora.

“Temos de nos manter com o pé firme no chão no sentido de entender que o governo Lula sozinho não conseguirá reverter tudo o que perdemos ao longo dos últimos anos, caso nós, do movimento sindical, não estejamos conscientes do nosso papel, que inclui pensar a unidade de todos os trabalhadores e trabalhadoras”, avaliou.

Não há democracia sem sindicatos fortes

Entre os especialistas que participaram do Congresso, o professor e juiz do trabalho Murilo Carvalho falou sobre a importância de organizações sindicais fortes para os regimes democráticos e analisou como a reforma trabalhista prejudicou o país.

“Uma democracia se mede pela existência de liberdade sindical. Quando uma reforma trabalhista enfraquece o poder do sindicato, temos o enfraquecimento da própria democracia. Para que exista liberdade sindical e sindicalismo representativo, precisamos de uma mudança urgente que promova um sistema mais justo de arrecadações sindicais e que promova uma melhor representação.”

Segundo o historiador, pesquisador e professor universitário José Ricardo Moreno Pinho, a população mais pobre do país demonstrou poder de mobilização ao enfrentar e derrotar um candidato financiado com dinheiro público e que contou com apoio da elite empresarial e dos meios de comunicação.

“A derrota de Bolsonaro foi resultado da grande mobilização do povo e da luta social. Enfrentamos alguém que contava com grande parte do capital que sempre o apoiou, com a máquina do Estado, que buscou comprar apoio com dinheiro público, com apoio internacional e com técnicas de novas formas de comunicação, que apoiaram e estimularam a criação de contradições para criar um inimigo comum”, disse.

Para a supervisora técnica do Dieese, Ana Georgina Dias, o novo governo deve priorizar aqueles que mais sofreram sob o governo Bolsonaro no momento de estabelecer quais políticas públicas serão prioridade.

“O grande desafio é interromper uma sequência de desmontes, não só setor público, mas a destruição do trabalho como um todo. No caso dos trabalhadores, é urgente a retomada da política de valorização do salário mínimo, e a revogação de alguns pontos da reforma trabalhista, como a ultratividade, que desvaloriza as negociações. Além disso ser uma política importante para geração de renda, também virará política de estímulo ao crescimento econômico”, avaliou.