Escrito por: Coletivo de Comunicação do MST/RJ
A 10º edição da feira reforça o caráter de organização popular da Cícero Guedes, que conta com mais de 100 feirantes de vários coletivos das quatro regiões do estado do Rio
A 10º edição da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, além trazer para o Centro do Rio uma enorme variedade de alimentos agroecológicos e saudáveis, está sendo realizada de forma totalmente independente. Para isso o MST organizou a campanha de financiamento coletivo MST na Luta por Direito à Alimentação Saudável e Direitos Humanos defendendo o acesso do povo à alimentação saudável e agroecológica enquanto um direito.
Em sua trajetória de luta, a classe trabalhadora sempre buscou se organizar para reivindicar e defender seus direitos sociais e cobrar as políticas públicas de responsabilidade do estado. Ao mesmo tempo que também são fundamentais os processos de auto-organização em que os movimentos populares desenvolvem eles próprios em seu quotidiano. Garantindo sua independência e capacidade de força para resistir e avançar nos períodos mais duros, como o momento atual em que vivemos. E o MST, enquanto movimento social inserido nas lutas populares por mais de três décadas, tem clareza de que as transformações sociais somente se constroem com o povo organizado.
Dessa forma, estes elementos se fazem ainda mais presentes na atual conjuntura brasileira, e mundial, de avanço de ataques aos direitos sociais e políticas de austeridade contra o povo pelo capital e governos comprometidos com estes interesses. No campo, o cenário segue a mesma linha, em que as políticas são destruídas e aumentam a criminalização e os assassinatos de militantes de movimentos populares camponeses.
É nesse contexto que a 10a Feira Estadual Cícero Guedes se apresenta como resistência e organização popular. Realizada de forma totalmente independente, uma vez que os recursos destinados para garantir a realização da Feira não foram disponibilizados pelo governo. Tal se coloca como uma das consequências do desmonte das políticas públicas para o campo. Segundo Raoni, dirigente do Movimento, “o que estamos vivenciando agora com esta edição da Feira é o que se consolidará nas políticas do novo governo eleito, o desmonte do Institutio de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a falta de ingerência nas políticas estruturais para os assentamentos da Reforma Agrária.”
Diante da questão da não liberação de recursos para a realização da Feira, o MST manteve a sua realização na marra, mobilizando apoiadores e parceiros em uma campanha virtual de arrecadação de recursos e que leva o título de “MST na Luta por Direito à Alimentação Saudável e Direitos Humanos”. Inicialmente o MST contou com o apoio de diversos sindicatos locais, seguindo com a organização da campanha ampla que vai até o dia 22 de dezembro, reafirmando a solidariedade entre campo e cidade. O resultado é o de uma belíssima Feira, com muita produção dos assentamentos e acampamentos do movimento e de outros movimentos populares, editoras e parceiros.
Esta 10º edição reforça então o caráter de organização popular da Feira, que conta com mais de 100 feirantes de vários coletivos das quatro regiões do estado do Rio. A organização e realização da Feira contribui para o fortalecimento dos processos de mobilização, formação e organização das famílias assentadas e acampadas do movimento. Reafirmando as propostas do MST enquanto alternativa de luta do povo por uma vida digna, por terra para trabalhar e viver em comunhão com a natureza. Um movimento que contribuiu para operar transformações nas vidas de muitas pessoas que, em muitos casos, viviam em situação de precariedade, sem moradia, desempregadas, e que agora vivem dos frutos de seu trabalho na terra.
Com essa campanha o MST se coloca também na defesa do acesso pelo povo a alimentos agroecológicos saudáveis, enquanto um direito fundamental. Assim, além de trazer uma diversificada produção para o povo da cidade, a Feira se insere na preocupação do movimento em debater as questões do acesso ao alimento de qualidade, entendendo que as pautas do campo e da cidade só avançarão se pensadas e trabalhadas juntas. Assim a proposta da Reforma Agrária Popular se coloca como defesa da vida, de cuidar da terra e do povo assumir uma participação ativa nas questões que envolvem a organização da comunidade e do trabalho em coletividade. Na defesa de ações e políticas para o campo, envolvendo desde a produção, a educação e cultura, a comercialização e garantindo a permanência dos assentados e assentadas no campo.
Afirmamos também toda a simbologia desta edição da Feira ao ocorrer nos 70 anos da Declaração Universal do Direitos Humanos, no 10 de dezembro, dia de abertura da Feira. Assim como a memória de cinco anos do assassinato do companheiro Cícero Guedes, e o assassinato brutal de dois militantes do movimento na Paraíba. Portanto a 10º edição da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes se coloca como resistência, celebração e afirmação das convicções e valores do movimento, na certeza de que as companheiras e companheiros que tombaram na luta se tornam sementes que germinarão, enraizando e frutificando os caminhos de um mundo mais justo.
Convidamos todas e todos a contribuírem com a Campanha. Qualquer pessoa pode doar a partir de R$ 10 e ajudar o movimento a atingir a meta de R$ 17 mil para custear a Feira.