Escrito por: Viviane Barbosa, da Redação da CNTTL

Ferroviários aprovam plano de lutas para defender emprego

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) são as estatais públicas que estão na mira dos governos Bolsonaro, Dória (SP) e de outros governos estaduais

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Alertar a população sobre os pontos nefastos das privatizações no setor de transportes e mobilizar os trabalhadores e trabalhadoras contra o desmonte do serviço público foram alguns dos principais temas debatidos nesta quarta-feira (5) no Encontro Interestadual dos Ferroviários, realizado na sede da CUT, no Brás, em São Paulo.

O evento foi promovido pela CUT-SP, por meio da Secretaria de Organização e Políticas Sindicais, e reuniu dirigentes dos sindicatos metroviários e ferroviários das regiões de São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Bauru (SP), Caxias do Sul (SP), Juiz de Fora (MG) e Santa Catarina. A atividade contou com o apoio da Federação Interestadual dos Trabalhadores Ferroviários da CUT (FITF) e da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL). 

Na abertura, o presidente da CNTTL, Paulo João Estausia, Paulinho, abordou os retrocessos e ataques dos governos federal e estaduais de extrema direita à classe trabalhadora.

“Tudo o que está acontecendo não é novidade para nós, já sabíamos que é a intenção desses governos é acabar com os sindicatos e com os direitos dos trabalhadores. Temos que nos organizar e resistir a esses ataques”, frisa.

Paulinho convocou os ferroviários a se somarem às lutas da CNTTL neste primeiro semestre. “Faremos duas grandes mobilizações: em 17 de abril um Protesto com paralisação Nacional  da nossa Campanha Salarial dos Trabalhadores em Transportes e outro, no dia 8 de maio, contra as pautas de retrocesso do governo Bolsonaro”, disse.

O Secretário de Relações do Trabalho da CUT/SP e diretor da CNTTL, Wagner Menezes, Marrom, ressaltou que é extremamente importante a organização dos ferroviários para  enfrentar e barrar os ataques que virão pela frente.

CPTM e CBTU são os alvos

A Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) são as estatais públicas que estão na mira dos governos Bolsonaro, Dória (SP) e de outros governos estaduais, que querem privatizá-las, ou seja, vendê-las para a iniciativa privada.

Jerônimo Miranda Neto, presidente da FITF-CUT, disse que o impacto das privatizações será terrível para quem trabalha no setor e para os usuários.

“Cerca de 80% desses trabalhadores e trabalhadoras perderão seus empregos. Os passageiros sofrerão com a queda na qualidade dos serviços e com o aumento nos preços das tarifas”, explica.

O sindicalista conta que é importante a unidade da categoria metroferroviária para barrar essa política de privatizações que, se for implementada será  prejudicial para todos os brasileiros. 
 
“É importante manter a gestão dessas empresas públicas na mão do Governo e buscar melhores condições para que sejam administradas e que prestem bons serviços aos usuários”, frisa.

Valmir de Lemos, Índio, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, citou como exemplo de prejuízo a privatização no sistema de trens metropolitanos do Rio de Janeiro, que aconteceu em 1998. 

“Após 21 anos da privatização, os  trens da SuperVia têm muitos problemas. O número de usuários caiu de 1 milhão para 500 mil e o preço da tarifa subiu”, relembra o dirigente.

O transporte é um direito e não uma mercadoria 

Durante o Encontro Interestadual, o economista e coordenador de educação do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (DIEESE), Fausto Augusto Junior, fez uma palestra sobre o futuro do trabalho e abordou a importância do setor de logística para o desenvolvimento do país.

“Os sindicatos nunca acabarão. São os trabalhadores que historicamente se reorganizam. Olha o exemplo dos motoristas do UBER, que já fizeram até uma greve mundial. É importante criar novas formas de representação e temos que pensar isso no movimento sindical. Temos que apresentar um projeto de sociedade, senão estaremos fadados ao fracasso. Temos que traçar estratégias de resistência e um fazer um debate político com a sociedade. O transporte é um direito e não uma mercadoria. Temos que colocar a mobilidade como um direito, a população precisa compreender isso”, disse o economista. 


Para o professor com pós-doutorado em políticas públicas pela UNICAMP, José Vieira C. Filho (Zuza), é importante que os trabalhadores continuem exigindo investimentos nas empresas ferroviárias e que lutem pela manutenção dos postos de trabalho e pela contratação de mão-de-obra brasileira.


Confira os principais encaminhamentos do Encontro Interestadual dos Ferroviários 

Criar uma discussão unificada entre todos os modais de transporte, buscando acumular forças, uma vez que as políticas neoliberais atingem a cadeia dos trabalhadores e trabalhadoras do ramo;

Criar canais de diálogos com a população e funcionários sobre a necessidade de se manter o transporte público e as consequências na prestação do serviço caso seja privatizado;

Criar uma discussão com trabalhadores e trabalhadoras de outros países, do macrossetor e de todas as centrais para ampliar a luta;

Dialogar com a juventude da necessidade da defesa do transporte público, projetando também uma renovação na representação dos trabalhadores;

Criar uma integração entre os jurídicos dos sindicatos para melhorar a defesa dos trabalhadores e trabalhadoras junto à justiça;
Unificar/manter a unidade de todas as categorias ao contrário do que algumas centrais praticam que é a disputa sindical; 

Buscar junto aos partidos progressistas uma aliança para fortalecer a luta contra as políticas neoliberais e em consequência as privatizações; 

Criar propostas de mobilidade urbana para o país, de inclusão social e ampliação do transporte público, para melhor atendimento da sociedade; 

Criar comitês, com a participação popular, parlamentares e representantes sindicais para a defesa do transporte público;

Mapear toda a cadeia metro-ferroviaria e criar um estudo, em todo o país, para dar subsídios na discussão da defesa do transporte público e seus custos e possíveis investimentos, ao contrário de sua privatização;

Estimular que a categoria realize formação constante para que melhore a representação sindical; 

Dar encaminhamentos as propostas apresentadas neste seminário; 

Criar formas “lúdicas” para dialogar com a população sobre a questão da privatização; 

Construir encontros regionais para debater o transporte público.