Escrito por: Luiz Carvalho, de Brasília
Mudança foi aprovada no 4º Congresso da Federação e aumenta peso político da entidade
Mesa da manhã discutiu organização sindical e aprovou mudança na formatação da organização dos rurais (Foto: Luiz Carvalho)
Por unanimidade, os delegados do 4º Congresso da Fetraf (Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar), que ocorre em Brasília, aprovaram na manhã desta terça-feira (24) a transição da entidade para Confederação.
Com isso, a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar passa a ser composta por federações que, por sua vez, terão relação com os sindicatos de base. A organização já nasce com federações regulamentadas em 18 estados no país.
Para o coordenador-geral da confederação, Marcos Rochinski, a mudança amplia a representatividade dos agricultores familiares.
“Muda o reconhecimento por parte do governo e da sociedade. Por mais que a Fetraf tivesse na sua essência de trabalho a atuação como sistema confederativo, já tínhamos federações constituídas em nossos estados. A alteração amplia a respeitabilidade. A agricultura familiar sai fortalecida por ter mais um sistema confederativo atuando que somará forças para defender a categoria”, apontou.
Sindicatos precisarão mudar
Com a mudança aprovada em congresso, os sindicatos terão um ano para mudarem os estatutos. Aqueles que estão registrados como representantes de trabalhadores rurais (STRs), uma atuação mais ampla, terão de representar especificamente os agricultores familiares (Sintrafs).
Rochinski acredita que não haverá obstáculos para o Ministério do Trabalho reconhecer o que já é consolidado na prática.
“Não existem motivos para não reconhecer uma entidade que pelo povo já é referência há muito tempo e que vai continuar fazendo a disputa de base. Tem algo que não abrimos mão, liberdade e autonomia sindical, dar aos trabalhadores a possibilidade de dizerem onde querem estar do ponto de vista da organização, e a confederação surge com essa missão.”
Fragmentação sindical
Também pela manhã, durante mesa que discutiu a representação sindical no campo, o secretário de Organização e Política Sindical da CUT, Ari do Nascimento, falou sobre a fragmentação da classe trabalhadora e a importância da unidade nesse cenário de retirada de direitos.
“O debate de organização não deve ser meramente burocrático, precisa ir além do movimento sindical. Não podemos só debater problemas da nossa categoria”, pontou.
Outro desafio que está por vir é enfrentar as estratégias de quem busca minar a representatividade das organizações mais combativas.
“Centrais de direita também perceberam que é preciso ter organização no campo e fazem processo agressivo em relação às bases. Precisamos nos preparar para enfrentar o debate, porque usam instrumentos que não usamos, compram lideranças sindicais. Temos clareza que temos de fazer por meio da conscientização e não esse processo extremamente despolitizado.”
Um dos entraves para mudar esse cenário é a própria legislação que fragmenta o movimento sindical.
“A legislação tende a estreitar o espaço de atuação e estimular o fracionamento e a existência de mais entidades, mas com pouco poder de representação. O momento, ao contrário, requer entidades grandes, bem organizadas e que construam parcerias. A conjuntura dessa agenda golpista mostra que, se a CUT não tivesse construído essa parceria nas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, teríamos ainda mais problemas com quem quer retirar direitos.”
Agenda ampla – Quando o microfone do Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade foi aberto aos delegados do 4º Congresso da Fetraf, o dirigente pode também ouvir pedidos para que a CUT atue politicamente junto às estaduais com o objetivo de reconhecer federações e Sintrafs e para que aumente a valorização do campo dentro das instâncias de organização.
“Vamos estabelecer um diálogo para que os sindicatos atuem de forma organizada e conjunta. Esse é um dos grandes desafios. Precisamos construir agendas, estar dispostos à discussão. Nossa missão é construir consensos para fortalecer a categoria e a classe trabalhadora, como consequência”, definiu.