Escrito por: Vera Gasparetto
Mostra comprova a importância de resgatar a história da classe trabalhadora brasileira contada no cinema e as possibilidades para a formação sindical
O Laboratório de Imagem e Som (LIS), da UDESC e a Escola Sul realizaram na semana que passou a Mostra "Trabalhadores no Cinema - A história do sindicalismo brasileiro em quatro filmes". Esse trabalho com de cinema é resultado do esforço da equipe do LIS, coordenada pelo Prof. Rafael Rosa Hagemeyer e contou com o apoio da FECESC, além de compor o Programa "Comunicação & Cultura", da Escola Sul, que pretende ampliar a visão crítica de dirigentes sindicais e trabalhadores sobre as imagens projetadas sobre o mundo do trabalho na mídia, promovendo reflexões sobre a ética e a estética das imagens utilizadas e a produção e veiculação de conteúdos.
No dia 16/05, foram exibidos dois filmes. O argentino “Los Traidores”, que foi debatido pelo Prof. Pablo Alvira, da Universidade Nacional de Rosário – Argentina, e o filme “Libertários”, debatido pelo Prof. Rafael Hagemeyer (LIS - Udesc). No dia 17/05 foram exibidos outros dois trabalhos, mais atuais: “Os Queixadas”, debatido pelo próprio diretor do filme, Rogério Correa, e “Greve!” analisado pela Profª. Maria Carolina Granato (ISE-RJ).
Para o presidente da FECESC, Francisco Alano, a iniciativa é excelente, pois “precisamos resgatar a memória das lutas da classe trabalhadora brasileira, recuperando a memória da região sul do Brasil também”. Para a coordenadora de formação da Escola Sul, Liliana Pìscki, o projeto está no começo e muitas possibilidades educativas se criam com o uso do cinema na formação dos trabalhadores.
Essa iniciativa faz parte do Projeto “Cinema e Sindicalismo” que além da mostra prevê a produção de um documentário e várias seleções de filmes para debater a comunicação, desenvolvimento, liberdade e autonomia sindical, imagem d@s trabalhador@s no cinema, o filme como recurso pedagógico, entre outras iniciativas.
Los Traidores
Sinopse:
É um filme argentino que dramatiza a vida de um militante sindical que começa sua luta nas fileiras peronistas nos anos 1950 e que se corrompe na sua ascensão ao poder. Misturando documental e ficção reflete os dezessete anos mais explosivos na historia política argentina, entre a denominada Revolução Libertadora, promovida pelos militares para derrocar Juan Domingo Perón (1955) e o inicio dos anos 1970. Em palavras do próprio Gleyzer, Los Traidores “é um filme sobre a classe operária, sobre suas lutas e dificuldades para construir uma ideologia revolucionária. É uma reflexão política sobre as contradições no seio do movimento sindical, uma denuncia que expõe os métodos usados por uma burocracia corrupta e põe de manifesto sua união com a burguesia”. É a partir da exibição de Los Traidores que Gleizer procura idear uma forma de distribuição que circule por âmbitos alternativos, favelas e sindicatos. Para isto cria-se o grupo Cine da la Base, agrupamento ligado ao PRT-ERP (Partido Revolucionário dos Trabalhadores e o seu braço armado Exército Revolucionário do Povo) mas com uma relativa autonomia com respeito a aquele. Esta é a obra mais famosa do cinema combativo de Raymundo Gleyzer (Buenos Aires, 25 de setembro de 1941 – desaparecido em 27 de maio de 1976).
Gênero:Ficção
Diretor:Raymundo Gleizer
Roteiro:Víctor Proncet, Álvaro Melián e Raymundo Gleizer a partir de um conto de Víctor Proncet
Duração:114 minutos
Ano de Lançamento: 1973
Libertários
Sinopse:
O filme descreve, apoiado em fotos, filmes e música das época, mostra a importância do anarquismo nas resistências do movimento operário brasileiro do final do século XIX e começo do século XX. Foi elaborado com material do arquivo Edgard Leueuroth, considerado o mais completo acervo da imprensa Nesse tempo, no estado de São Paulo, o acelerado processo de industrialização forma um proletariado urbano, com marcada presença de imigrantes italianos de formação anarquista. Organizados, conseguem expandir seu movimento e promover as primeiras greve, a fim de obter acordos e melhores condições de trabalho. O documentário destaca a Greve Geral de 1917 em São Paulo, desencadeada após a morte de um operário grevista, vítima da repressão policial. Após 1917, os efeitos da Revolução Russa acentuam a repressão contra o anarquismo e o movimento é enfraquecido com a prisão e deportação de seus principais líderes.
Gênero:Documentário
Direção:Lauro Escorel Filho
Ano:1976
Links:
http://www.youtube.com/watch?v=qh3H8mtFe6U
http://www.youtube.com/watch?v=LuyozCk93VM
http://www.youtube.com/watch?v=6wTNxqBbsCc
Greve!
Sinopse:
O documentário segue os eventos principais da greve realizada pelos trabalhadores metalúrgicos do ABC (cidades suburbanas industriais de São Paulo), liderados por Lula, em março, 1979, com testemunhais de trabalhadores que participaram, revelando as razões objetivas que os levaram a um sólido e transformador movimento. É considerado um filme histórico e opinativo do diretor João Batista de Andrade, que filmou “O Homem que Virou Suco”.
Gênero: Documentário
Diretor: João Batista de Andrade
Duração: 37 minutos
Ano de Lançamento: 1979
Links do filme:
Não localizamos a parte 1 do filme
http://www.youtube.com/watch?v=kgL5HwS11ec
http://www.youtube.com/watch?v=_SrZRj98VqU
http://www.youtube.com/watch?v=yVVthX9MYBw
Os Queixadas
Sinopse:
Foi filmado em 1976 e tem como tema a greve dos trabalhadores da fábrica de cimento Perus, em 1962 e a liderança do sindicalista João Breno. Neste filme os trabalhadores que haviam feito a greve reconstituíram o movimento através de um laboratório de memória, ou seja, eles representavam as cenas que haviam vivido realmente. O diretor do filme acredita que o movimento trabalhista é responsável pelo avanço político e social da sociedade. “Se não fossem os sindicatos estaríamos trabalhando 18 horas por dia ainda hoje, em condições de escravidão. Eu sempre quis fazer uma ficção mas fui buscar na realidade elementos para construir uma história verossímil”.Seu trabalho mais recente é o filme “No Olho da Rua”.
Os trabalhadores da Cimento Portland Perus desencadearam um movimento grevista em 1962 que perdurou sete anos, vindo a consolidar uma forma de organização e mobilização que ficou conhecida como "firmeza permanente" – uma luta sem violência, baseada na paciência e persistência. Esse tipo de enfrentamento deu origem ao nome atribuído aos trabalhadores - "queixadas" (porcos do mato que ao perceberem o perigo, reúnem-se em manadas, rechaçando o inimigo). A CBCPP esteve sob intervenção da União, de 1973 a 1980, tendo sido readquirida pelo mesmo proprietário, agora participante de novo consórcio. Em 1983 as pedreiras de Cajamar foram fechadas, ocasionando paralisações na fábrica por falta de matéria-prima. Quatro anos depois, a fábrica já se encontrava praticamente paralisada.
Gênero: Documentário
Diretor: Rogério Correa
Duração: 30 minutos
Ano de Lançamento: 1978