Escrito por: Rosângela Fernandes, CUT-RJ
Fechamento dessas importantes rádios prova prática do governo Bolsonaro de destruição das instituições culturais do Brasil, critica o secretário Nacional de Cultura da CUT, que convoca entidades a lutar contra
No ano em que as transmissões da Rádio MEC AM completam 100 anos, o governo de Jair Bolsonaro (PL) anuncia o fechamento desta que é a rádio mais antiga do Brasil. Foi anunciado também o fechamento da Rádio Nacional, criada em 1936, pioneira na produção e transmissão de radionovelas, programas de humor, de auditório e do radiojornalismo com o programa “Repórter Esso”.
“Destruição das instituições culturais do Brasil é a prática do desgoverno Bolsonaro”, afirma o secretário Nacional de Cultura da CUT, José Celestino Lourenço, o Tino, acrescentando que agora o alvo são rádios, patrimônio dos brasileiros.
“Essa é mais uma prova do desprezo deste governo pela cultura e pela comunicação pública”, diz Tino, que alerta para a gravidade dessa decisão que, segundo ele, faz parte de um projeto de governo.
O Secretário Nacional de Cultura do CUT e dirigentes da CUT-RJ convocam os sindicatos a lutar contra o fechamento das rádios e o emprego dos trabalhadores que atuam nas duas emissoras sediadas no Rio de Janeiro. Conclamam também os sindicatos a aderirem ao manifesto lançado por diversas entidades (veja abaixo) em defesa das rádios e dos trabalhadores.
“A extrema direita colocou como central o ataque às instituições culturais. É uma estratégia de destruição total do que foi construído. Essas emissoras são espaços de expressão da cultura popular. É preciso que a gente entenda esses ataques e não permita o divórcio entre a política e a cultura”, adverte Tino.
O desligamento das rádios deixará um vácuo na programação voltada para públicos específicos, avalia Clarice Ávila, Secretária de Cultura da CUT-Rio. “É um apagamento dessas rádios. A MEC, por exemplo, tem uma história importante nos programas para o público infantil e a Nacional tem tradição focada na música popular, especialmente o samba”, diz a dirigente.
“Podemos dizer que há recortes geracional e racial que serão apagados e nós nos colocamos na luta contra o apagamento da cultura popular e o desmonte desses meios de comunicação tão importantes”, conclui Clarice Ávila.
O momento é de resistência, reforça Sandro Cezar, presidente da CUT-Rio. “Ao apagar das luzes desse desgoverno, eles seguem atacando nosso patrimônio. É inadmissível a destruição da cultura. Acabar com essas emissoras será mais um golpe para o Brasil e especificamente para o Rio de Janeiro. A CUT-Rio apoia toda a mobilização em defesa das emissoras”, afirma.
A luta para preservar as rádios MEC AM e Nacional já começou e tem vários atores além dos sindicalistas.
A Frente em Defesa da EBC e da Comunicação Pública e a Frente Parlamentar pela Democratização da Comunicação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro organizaram, nesta quinta-feira (3), um manifesto que tem conquistado adesões rapidamente. Para ler na íntegra e assinar, acesse: Rádio MEC e Rádio Nacional são patrimônios da sociedade brasileira e não podem ser desligadas – Ouvidoria Cidadã da EBC (ouvidoriacidadaebc.org)
Além do manifesto, diversas entidades divulgaram notas públicas em repúdio à decisão. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) publicaram nota conjunta em defesa das emissoras em que ressaltam: “Esse projeto, nocivo aos interesses do povo brasileiro, não é de agora. Em 2019, um ano depois de o atual presidente, Jair Bolsonaro, tomar posse, o seu governo ensaiou liquidar a Rádio MEC AM. Diante da resistência, acabou recuando. Agora, volta à carga. A única explicação possível para a medida anunciada é a conhecida aversão do atual governo a tudo o que é público”.
O ex-diretor das rádios MEC AM e Nacional, Orlando Guilhon, lembra que a importância das emissoras não diz respeito apenas ao passado. Recentemente, nos governos do PT, as duas rádios públicas foram reconhecidas e receberam investimentos importantes.
“Bolsonaro age pelo desmonte da história, ao contrário do que foi feito nos governos petistas, quando a MEC AM e Nacional foram valorizadas. Houve investimos em equipamentos (novos transmissores, estúdios, unidades móveis); parcerias com produção independente e com a sociedade civil (orquestras, universidades, institutos de música, Biblioteca Nacional, sindicatos); volta do Rádio Teatro e incentivo ao Rádio Infantil, Rádio Arte, Rádio Documentário; transparência na gestão e valorização do corpo funcional”, enumera.
Não ao pensamento único
“Esse processo é uma guerra cultural que está sendo imposta pela direita que busca, através de ataques à cultura, impor o pensamento único, uma cultura nazista, que não respeita a diversidade", analisa Tino.
Segundo ele, para superar essa guerra cultural "é necessário implantar uma política cultural por disputa de hegemonia".
"Temos que ter um projeto de reconstrução de tudo o que está sendo destruído, recriar o Ministério da Cultura e reestruturar todas as instituições que são alvo de ataque frontal desse governo. Assim, vamos construir o resgate da democracia, da soberania, do desenvolvimento sócio econômico”, afirma Tino.