FNP denuncia descumprimento de norma no acidente que matou portuários no ES
Federação Nacional dos Portuários (FNP) exige rigor na apuração da morte dos três trabalhadores por inalação de gás tóxico, em navio que operava em Vitória (ES) e pede punição dos responsáveis
Publicado: 25 Julho, 2018 - 16h32 | Última modificação: 26 Julho, 2018 - 15h08
Escrito por: Luciana Waclawovsky, especial para Portal CUT
A morte de três trabalhadores portuários, por inalação de gases tóxicos, durante o carregamento de madeira em navio, ocorrida nessa terça-feira (24), em Barra do Riacho, Aracruz (ES), deixou a categoria revoltada e consternada pela perda dos colegas - um deles era diretor do Sindicato Unificado da Orla Portuária (Suport-ES), Adenilson Rodrigues de Carvalho (47). Também faleceram Clovis Lira da Silva (56) e Luiz Carlos Milagres (64).
Segundo Eduardo Guterra, presidente da Federação Nacional dos Portuários (FNP), Adenilson desmaiou após descer ao porão da embarcação para socorrer outros dois colegas que já estavam desmaiados. Um terceiro, ao sentir a intoxicação pelo gás, gritou por socorro, foi atendido e sobreviveu.
“Quando Adenilson teve contato com o gás tóxico caiu na hora, mas continuou inalando o gás e, nesses casos, a morta é rápida. É como se levasse um tiro na cabeça”, contou o presidente da FNP.
A tragédia aconteceu dentro de uma embarcação que operava no terminal Portocel, especializado em exportação de celulose, durante o carregamento de madeira no navio SepetibaBay, fretado pela Companhia de Navegação Norsul.
De acordo com informações apuradas pelo Sindicato dos Estivadores do Espírito Santo, a hipótese mais provável é que tenha ocorrido intoxicação pelo gás H2S, que é liberado quando a madeira está molhada.
“A nossa revolta é porque existe uma Norma Regulamentar (NR) de número 29 do Setor Portuário, que tem elementos para inibir esse tipo de acontecimento”, explicou Guterra.
De acordo com a NR, é obrigatório ventilar o local de operação que contém ou conteve substâncias da Classe 4, antes dos trabalhadores terem acesso ao local.
“No caso de concentração de gases, os trabalhadores que adentrem nesse espaço devem portar aparelhos de respiração autônoma, cintos de segurança com dispositivos de engate, travamento e cabo de arrasto; monitorar, antes e durante a operação de descarga de carvão ou pré-reduzidos de ferro, a temperatura do porão e a presença de hidrogênio ou outros gases no mesmo, para as providências devidas”, diz trecho da regulamentação.
“A trágica morte dos colegas deixa em alerta um ponto que já tem regulamentação e que deveria ser cumprido”, denuncia Guterra.
“Para que não aconteça novamente é preciso haver a punição dos responsáveis”, alerta o dirigente.
Segundo ele, está sendo realizado um inquérito para apurar as causas do acidente, além de dois procedimentos: a autópsia do corpo dos trabalhadores, para saber efetivamente a causa do óbito e o laudo do Ministério do Trabalho e do Corpo de Bombeiro.
“Esses dois documentos irão apontar os passos que deveremos tomar enquanto Federação Nacional dos Portuários”, disse o presidente da FNP, ao lamentar a perda de três colegas e amigos.
“A gente fica muito triste com um acidente de trabalho fatal. Uma das vítimas era diretor do meu sindicato, uma pessoa que lutava pela categoria e estava sempre presente em defesa do trabalho portuário”, desabafou.
O acidente também está sendo investigado pela equipe de saúde e segurança do Portocel, além de especialistas do Corpo de Bombeiros e do Ministério do Trabalho.
Os corpos dos três portuários foram transferidos para o Departamento Médico Legal (DML) da capital capixaba,Vitória, e o laudo deverá ficar pronto até o início da semana que vem.