Escrito por: Érica Aragão

Formação deve ser central no processo organizativo da CUT, apontam sindicalistas

Rede de formação da CUT de todo país trouxe desafios e propostas de ações de organização e representação sindical para contribuir com Plano de Formação da entidade levando em conta a pós-pandemia

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Mais de 60 representantes das escolas sindicais, secretarias estaduais e nacional de formação da CUT, dos ramos e convidados se reuniram virtualmente nesta quinta-feira (18) no “Seminário Nacional de Devolutiva dos Seminários Regionais sobre o tema Organização e Representação Sindical de Base da Central”.

Após ouvir trabalhadores e trabalhadoras, do campo e da cidade, do setor público e privado, das cinco regiões do país, os coordenadores das escolas sindicais da CUT (Chico Mendes, Sul, Nordeste, 7 de Outubro, Centro Oeste e São Paulo) e os dirigentes da entidade trouxeram os resultados dos debates locais e apresentaram os desafios e propostas de ações de organização e representação sindical para contribuir com o Plano Nacional de Formação.

A rede nacional foi unânime ao apontar a formação como eixo central no processo organizativo da CUT para o próximo período, levando em conta as experiências vividas na pandemia, as resoluções do 13º Congresso da CUT e pensando nas “novas” relações de trabalho, que ficaram mais expostas com o isolamento social e que serão potencializadas no pós-pandemia.

“Os representantes das escolas sindicais, da CUT nos estados, dos ramos e nossa equipe da nacional, que formam a rede nacional de formação, destacaram a importância da formação como espaço na construção coletiva do Plano de formação no eixo da política organizativa e representação sindical. E tudo isso levando em consideração também os temas transversais, como gênero, raça e comunicação”, explicou a secretária Nacional de Formação da CUT, Rosane Bertotti.

DivulgaçãoRosane Bertotti

Segundo ela, o Seminário Nacional superou todas as expectativas e mostrou a rede de formação não perdeu a sintonia e nem a forma humanizada de trabalhar. Ela conta que foram 4 horas de debates com afeto e acolhimento, “que enriqueceram o debate, sem contar todo o relato de que conseguimos trazer nossas experiências presenciais para o formato digital de forma espontânea e com isso foi possível perceber que as novas tecnologias podem sim ser usadas para gente se articular e construir esta formação sindical que a gente tanto precisa”.

Durante o seminário, teve músicas, poesias e muita alegria com místicas da artista Susi Monte Serrat, mas também teve muita emoção. A secretária de Organização e Política Sindical, Maria das Graças Costa, iniciou sua participação contando sobre a morte de seu pai, vítima da Covid-19, e de quem ela nem pode se despedir.

Graça contou que sentiu na pele o que milhares de trabalhadoras e trabalhadores estão sofrendo com a perda de familiares nesta pandemia e falou sobre as dificuldades que boa parte da população passa neste momento, em relação à saúde e ao trabalho.

Mesmo em luto pelo pai e pela morte de milhares de brasileiros e brasileiras, a dirigente da CUT e todo o movimento sindical não pararam de lutar pela vida e pelos direitos dos trabalhadores de todo país, porque, segundo ela “os desafios são enormes e atividades como o seminário de formação são fundamentais para a organização da classe trabalhadora que vai precisar encarar os desafios já impostos no isolamento social e também do que estar por vir depois que a pandemia passar”

“A classe trabalhadora deve se organizar e se formar para enfrentar todos os desafios, considerando todos os ataques aos seus direitos, desde o golpe de 2016, a pandemia e o pós-pandemia, que trouxeram e trazem cada vez mais a precarização, o desemprego e ainda insistem em acabar com a relação trabalhador e sindicato”, afirmou a dirigente.

Segundo ela, o vírus escancarou a desigualdade e a precarização, mas ao mesmo tempo deu oportunidade do movimento sindical se inovar, com assembleias virtuais, e é ai, aponta ela, “que entra a formação”.

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“A formação deve ser o norte para tudo, para os sindicatos, para a estrutura sindical, para acolher trabalhadores precarizados e até para os dirigentes sindicais se inovarem para a luta de classes”, disse Graça, que complementou: “A gente viu que com a internet podemos chegar mais longe, rompermos limitações e a secretaria de Organização e Política Sindical discutirá o plano de trabalho usando as referências da Formação e terá com um dos principais objetivos estreitar as relações”.

Rosane lembrou que este é o terceiro seminário do 20° ENAFOR, sendo que os dois primeiros processos de construção desse encontro também trouxeram elementos centrais para debater o projeto político organizativo.

A dirigente ainda ressaltou serão organizados mais dois encontros para discutir os temas “Como derrotar a coalizão de forças golpistas, defender os direitos, a democracia e a soberania nacional” e “Como intensificar a luta pelo desenvolvimento sustentável com soberania popular, igualdade e valorização do trabalho”.

“Todas estas atividades fazem parte do processo rumo ao 20º Enafor, que não tem data ainda, por causa do isolamento social, mas será de forma presencial. O resultado de todo este processo resultará no Plano Nacional de Formação da CUT”, explica a dirigente.

Debates das regiões

A gestão dos debates do Seminário Nacional foi feito pelo coordenador da Escola Sul, Celso Woyciechowski e foi a Região Norte que começou as devolutivas. Os nortistas e as nortistas estão fazendo um processo de escutatória da pandemia, que é ouvir a classe trabalhadora da região, com reuniões, seminários regionais, estaduais e sub-regionais e fazendo um mapeamento da rede de formação da Região.

O diretor executivo e coordenador da Escola Norte, Rogério Pantoja, contou que a “Jornada de Formação e de Trabalho Base - Diálogos entre Chico Mendes e Paulo Freire: Terra, Trabalho e Educação Popular para o Bem Viver” está acontecendo na Amazônia e tem como objetivo conhecer quem são as trabalhadoras e os trabalhadores na Amazônia, porque é preciso ir além de números, saber quem são, onde vivem e quais são seus projetos de futuro, sem abrir mão da defesa dos povos da floresta e nem do legado de Chico Mendes.

“A experiência que estamos vivenciando na Amazônia com a Jornada é uma experiência desafiadora e muito empolgante. Ao final dela, esperamos apresentar uma contribuição da Amazônia para a luta dos trabalhadores, para a organização e representação sindical da CUT e para nossa Rede de Formação”, afirmou.

A coordenadora-Geral da escola sindical Centro-Oeste (ECO-CUT), e secretária-adjunta de Formação da Central, Sueli Veiga, disse que a Região traz para a CUT desafios extremos, porque neste local existe um cenário de concentração de terras, que são exploradas, envenenadas e com intensa violência no campo.

“É fundamental que a gente entenda que os desafios ECO-CUT passam pela reafirmação da construção pedagógica da Escola ao longo desses 27 anos, na defesa da democracia e os direitos, no fortalecimento do projeto organizativo da CUT, na contribuição para a formação de base, ampliação dos espaços de participação dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, setor privado, mulheres, jovens, pessoas com deficiência, LGBTQI+ e indígenas”, ressalta.

A coordenadora da Escola São Paulo, Telma Aparecida Andrade Victor disse que discutir estratégias de fortalecimento da organicidade da Central requer relembrar a história de lutas dos sindicatos frente a todo retrocesso, em especial a retirada de direitos.

“Nossa política de formação tem sido construída e fortalecida nos últimos anos, aprovada em nossos congressos e conferências. Este tem sido o norte, para orientar a nossa luta em defesa dos direitos."

Já o coordenador da Escola Nordeste, Josivaldo Martins, disse que neste momento o 20º ENAFOR ganha mais importância por garantir de maneira coletiva a construção do Plano Nacional de Formação da CUT, sobretudo num momento em que a os efeitos da crise econômica, política e social atinge com maior espectro a classe trabalhadora.

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“A Escola Nordeste se mantém firme no propósito de contribuir para a construção de uma sociedade justa, fraterna e igualitária.  E a formação é um dos instrumentos que temos para efetuarmos a transformação social", afirma.

Para Celso, da Escola Sul e que coordenou os debates, o seminário mostra que para avançarmos na organização sindical CUTista é preciso se desafiar a aprofundar a organização no local de trabalho, o que irá resultar numa maior representatividade nas categorias. “E, ao mesmo tempo, não podemos ignorar a realidade dos trabalhadores informais e de plataforma, que também devem estar no foco de nossa ação sindical", afirma.

O secretário de formação da CUT Minas Gerais e coordenador geral do Sindieletro-MG, Jefferson Leandro Teixeira da Silva (Jefinho), falou pela Escola 7 e disse da importância que a formação tem para os dirigentes sindicais dos sindicatos e ramos da CUT e da sociedade em geral, sobretudo dos trabalhadores que não estão organizados e que estão se submetendo a novas relações de trabalho.

“Tudo isso ficará mais exposto no pós-pandemia e isso traz para a formação a tarefa de compreender criticamente essa realidade e de construir subsídios para as ações concretas no combate à precarização da vida e do trabalho”, finaliza.