FSM poderá indicar alternativas para sair da crise mundial
Papel da CUT e dos movimentos sociais será mais propositivo
Publicado: 04 Fevereiro, 2016 - 12h20 | Última modificação: 04 Fevereiro, 2016 - 12h32
Escrito por: Érica Aragão
O Fórum Social Temático (FST) 2016 aconteceu num momento delicado da política brasileira.
O país passa por uma crise política, econômica e social e a democracia corre sérios riscos com pautas conservadoras vindas do Congresso Nacional e atacando países com governos progressistas. Direitos sociais e trabalhistas estão na mira de atores que representam a classe dominante.
Considerado por organizadores como potente e representativo, o FST, que aconteceu em Porto Alegre entre os dias 19 e 23 de janeiro, deixou forte marca contra as teses neoliberais do Fórum Econômico de Davos, encontro anual da elite mundial para discutir economia.
O FST é uma preparação para etapa mundial do Fórum Social Mundial (FSM) 15 anos, que acontece em Montreal, no Canadá, entre os dias 9 e 14 de agosto deste ano.
Porto Alegre reuniu milhares de representantes de movimentos sociais e sindicais, que afirmaram a luta pela democracia, contra o retrocesso e contra o golpismo na América Latina e no mundo.
Mais de 15 mil pessoas participaram da Marcha de Abertura, mais de 5.120 foram inscritos, houve 15 mesas de convergência, além de mais de 470 oficinas livres e, segundo o membro do Comitê Local do Fórum e presidente da CUT no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, foi ainda promovida uma representativa assembleia dos movimentos sociais.
“O FSM foi e continua sendo o único espaço horizontal e plural, onde a diversidade do pensamento de esquerda se encontra, confraterniza e se fortalece”, explicou Claudir.
O resultado destes diálogos e articulação no FST foi uma Carta Compromisso com agendas comuns para as organizações.“Foram incorporadas 3 lutas gerais: enfrentar o rentismo, questionando o dreno da produtividade através do pagamento da sigilosa dívida pública, incluir no 1º de Maio de 2016 uma chamada latino americana em defesa da democracia e contra todas as formas de golpismo, e somar decisivamente na construção da Frente Brasil Popular em todas as cidades e locais de trabalho”, contou Claudir.
A carta também sinaliza outros desafios, como a luta pela desmilitarização da Policia Militar e a defesa dos direitos sociais e trabalhistas, que correm sérios riscos com essa onda conservadora.
Para a secretária de Finanças da CUT-RS, Vitalina Gonçalves, o FST 2016 foi uma atividade estratégica e cumpriu o papel de rearticulação dos movimentos sociais. “Mesmo com essa pluralidade, a carta do FST 2016 aponta para a necessidade dos Fóruns serem mais propositivos, com agendas e ações que unifiquem os diferentes movimentos, que se enfrente os adversários da classe trabalhadora, das democracias, dos direitos dos povos, de uma sociedade mais justa e humana, combatendo o capitalismo selvagem e escravizante”, afirmou Vitalina, que também é do Comitê Local do FSM.
Para o dirigente da CUT Nacional e também membro do Conselho Internacional do FSM, Rogério Pantoja, a proposição como resultado do Fórum é demanda da CUT desde 2001, quando ocorreu a sua primeira edição. Segundo ele, o momento exige mais ações coletivas.
“O capitalismo e o neoliberalismo avançam fortemente na América Latina depois de mais de uma década de governos populares e, além da crise migratória, temos a crise econômica mundial que atinge diretamente os trabalhadores. Não podemos nos dar ao luxo de gastarmos nossas energias durante um bom tempo somente para reflexões. Precisamos de ações concretas construídas coletivamente. Sabemos que não será fácil, mas temos que enfrentar esse desafio”, explicou Pantoja.
“Ao longo desses 15 anos, muitos movimentos sociais se afastaram ou flexibilizaram sua intervenção no Fórum Social Mundial devido ao espaço ser apenas reflexivo”, complementou o dirigente da CUT Nacional.
Segundo Pantoja, na reunião do Conselho Internacional, logo após o fim das atividades em Porto Alegre, se debateu muito isso e o resultado foi que, se o Fórum não possibilitar ações efetivas que vão além da reflexão, o FSM terá prazo de validade. “Avalio que se não avançarmos nesse sentido em Montreal, no Canadá, esse espaço corre o sério risco de se tornar sem importância para muitos movimentos sociais e inclusive para nós da CUT”, rebateu.
Segundo Claudir, o Comitê Organizador do Fórum no Canadá sentiu o quanto é positivo a participação ativa dos movimentos sociais e sindicais no FSM 15 anos. Para o dirigente, a atividade que acontecerá no Canadá será um grande desafio. “Os ares de Porto Alegre, no tocante à participação das organizações da sociedade civil, precisam chegar até o hemisfério norte. A CUT Nacional tem uma tarefa: incentivar que o sindicalismo canadense contribua para construir o Fórum pulsante e que aponte alternativas para superação da crise global”, finalizou.