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FSM ecoa solidariedade a presos políticos de Curuguaty

Coordenação do FSM Montreal prestigia debate sobre farsa e golpe no Paraguai

Publicado: 20 Janeiro, 2016 - 13h09 | Última modificação: 20 Janeiro, 2016 - 13h19

Escrito por: CUT-RS

Leonardo Severo
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Ariovaldo de Camargo denunciou abusos e atropelos do governo paraguaio

Lideranças sindicais e ativistas populares de diversos países reforçaram nesta terça-feira, durante debate no Fórum Social Mundial Temático, no Memorial do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, “a mais ampla solidariedade aos presos políticos de Curuguaty”, no Paraguai. Vítimas do governo de Horacio Cartes, trabalhadores sem terra estão há mais de três anos presos, aguardando serem julgados por um crime que não cometeram.

Carminda Mac Lorin (microfone) junto aos demais membros do FSM Montreal prestigiaram oficinaCarminda Mac Lorin (microfone) junto aos demais membros do FSM Montreal prestigiaram oficinaDiante das evidências e provas em favor dos camponeses, o debate “Crime, golpe e farsa no Paraguai” espraiou a indignação e a determinação da importância de uma ação de solidariedade mais integrada. A oficina contou com a participação do secretário-adjunto de Relações Internacionais da CUT, professor Ariovaldo de Camargo, e do jornalista Leonardo Severo, observador internacional do caso, e foi prestigiado por membros da coordenação geral do Fórum Social Mundial do Canadá, que reiteraram a relevância da solidariedade.

Para Carminda Mac Lorin, da coordenação geral do FSM Montreal 2016, há uma invisibilidade total do processo paraguaio, que precisa ser conhecido e incorporado à agenda de todos os que lutam pela liberdade. A apresentação do vídeo “Desmontando Curuguaty”, ressaltou, contribui para que os ativistas tenham uma maior compreensão sobre o que está em jogo, uma vez que a perseguição e a criminalização dos lutadores sociais compromete a própria democracia.

MÍDIA ENVENENA

No massacre, ocorrido no dia 11 de junho de 2012, morreram 17 pessoas, 11 camponeses e seis policiais, explicou Ariovaldo, lembrando que “responsabilizado pela mídia e pelo parlamento, uma semana depois o presidente Fernando Lugo foi deposto”. A verdade, assinalou o líder cutista, é que “foi uma armação em prol dos latifundiários e das transnacionais do agronegócio, que conseguiram rapidamente a deposição de um presidente constitucionalmente eleito”. Conforme o último censo, apenas 2,5% dos proprietários concentram 86,5% das terras paraguaias, o que confere a uma pequena oligarquia um poder econômico e político fenomenal, acrescentou.

De acordo com o jornalista Leonardo Severo, “é completamente absurdo pensar que 60 camponeses, metade deles mulheres, crianças e anciãos, pudessem fazer frente a 324 policiais fortemente armados com fuzis Galil, escudos, cavalos, bombas e helicóptero”. O observador internacional também condenou o absurdo que alguém vinculado à família de Blas Riquelme – ex-presidente do Partido Colorado, de Alfredo Stroessner (ditador de 1954 a 1989) – pretensa proprietária das terras de Curuguaty, em Marina Kue, seja o promotor do caso. “Seu nome é Jalil Rachid, seu pai também foi presidente do Partido Colorado, tem relações de amizade com os Riquelme e, agora, pela postura raivosa contra os camponeses e sua aversão à reforma agrária foi nomeado por Cartes para ser o vice-ministro da Segurança”, frisou.

O debate foi acompanhado pelo presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo; pelo secretário de Imprensa, Ademir Wiederkher; pelo secretário de Relações de Trabalho, Antônio Guntzel; e pelo dirigente da CUT Nacional, Rogério Pantoja.

https://www.youtube.com/watch?v=NNe82BN9gno

DESMONTANDO CURUGUATY

Produzido pelo Serviço de Justiça e Paz do Paraguai (Serpaj), o documentário de 20 minutos traz elementos imprescindíveis para compreender o grau de manipulação a que a opinião pública vem sendo submetida. Vamos aos fatos:

1. As terras fazem parte da empresa Finca 30, da Industrial Paraguaya SA, que em agosto de 2007 doou dois mil hectares para a Armada Paraguaia. Até hoje seguem inscritas como se fossem da Industrial Paraguaya, sem que a Justiça tenha se manifestado sobre de quem é a propriedade, reivindicada para fins de reforma agrária. É uma terra pública, portanto jamais poderia ter sido objeto de uma ação privada de despejo.

2. A versão de que os camponeses teriam preparado uma “emboscada”, divulgada pelo promotor Jalil Rachid, é completamente fantasiosa. Como disse o advogado Vicente Morales, “camponeses com seus filhos e mulheres emboscarem 324 policiais com helicópteros, metralhadoras, coletes, capacetes, escudos e granadas me parece absurdo”.

3. Um helicóptero sobrevoou desde cedo o acampamento filmando e tirando fotos. Conforme gravação do comissário Roque Fleitas, chefe da Agrupação Aeroespacial, a aeronave estava equipada com sofisticada tecnologia e gravava todos os detalhes da operação. Ao mesmo tempo em que filmava, o helicóptero transmitia automaticamente para uma base de dados da polícia. A filmagem nunca apareceu. Semanas depois, o fiscal Rachid disse que o equipamento não estava funcionando. Semanas antes de depor, o piloto morre em um “acidente” aéreo.

4. Armada em situação de ataque, inclusive com fuzis automáticos, a polícia invade em duas colunas. Os camponeses ficam cercados. Se escutam inicialmente tiros isolados e, logo depois, nove segundos de tiros de armas semi-automáticas que, segundo admitiu o próprio promotor, não foram encontradas com os camponeses.

5. Entre as “escandalosas irregularidades” apontadas pelos advogados estão as escopetas velhas e até uma arma de ar comprimido que não foram utilizadas, além de foices e facões. Entre o pacote de falsificações está o fato de que muitas coisas mudaram de lugar entre uma foto e outra, sempre para incriminar os camponeses, vários deles já mortos. No dia 25 de junho foi incorporada como “evidência” uma escopeta calibre 12 achada próxima a Curuguaty e que, segundo o próprio dono, havia sido roubada no dia 22 de junho. Ou seja, uma arma pretensamente usada pelos camponeses jamais esteve com eles.

6. O promotor notifica a defesa no dia 16 de outubro de 2012 para que participe de uma “perícia fundamental” para o processo. Detalhe: dita “perícia” havia ocorrido quatro dias antes, no dia 12 de outubro.

7. “Não há conexão entre as supostas armas que dispararam com as balas que encontraram dentro dos corpos. Este nexo causal não existe”, enfatiza o advogado Vicente Morales. “O fiscal monta um cenário e sustenta uma tese onde a polícia é simplesmente vítima de um ataque”, concluiu.