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Gerente e segurança de supermercado do RS torturam suspeitos de furtar carne

Os dois homens ficaram em cárcere durante 45 minutos e sofreram agressões físicas e psicológicas. Um deles chegou em estado grave ao hospital

Publicado: 05 Dezembro, 2022 - 11h13 | Última modificação: 05 Dezembro, 2022 - 19h34

Escrito por: Redação CUT | Editado por: Marize Muniz

Reprodução/RBS
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Funcionários, entre eles o gerente, e seguranças terceirizados do supermercado Unisuper em Canoas (RS) mantiveram dois homens, um deles negro, em cárcere privado e os torturaram durante 45 minutos, após terem  flagrado a dupla supostamente furtando duas bandejas de picanha, no valor de R$ 100 cada, entre outros alimentos. A Polícia Civil começou a apurar o caso depois que um dos agredidos deu entrada no Pronto Socorro de Porto Alegra, em estado grave, com diversos hematomas e fraturas pelo corpo incluindo a região do rosto.

As imagens das câmeras de segurança foram mostradas pela RBS, emissora afiliada à Rede Globo neste domingo (4) e mostram, além dos dois homens, os agressores que seriam o gerente da unidade, Adriano Dias, o subgerente Jairo da Veiga, e mais cinco seguranças da Glock, empresa contratada para os serviços de segurança do supermercado.

Dois dos seguranças já foram identificados pela Polícia. Todos devem ser indiciados por tortura e extorsão mediante sequestro e ocultação de provas.

As provas

A denúncia sobre o caso, que ocorreu no dia 12 de outubro, foi feita por meio de um parente de uma das vítimas. Após tentar coletar as imagens, os policiais perceberam que elas haviam sido deletadas e, por isso, apreenderam o equipamento e continuaram a investigar. A perícia criminal conseguiu, por meio de técnicas de investigação forense, recuperar os arquivos.

Ao G1, o perito criminal Marcio Faccin, o Instituto Geral de Perícia do Rio Grande Sul, contou que analisou trechos das imagens até que conseguiu identificar “um evento suspeito”. O perito afirmou que se tratava de uma evidência e que o supermercado estava tentando ocultar as provas.

Extorsão

Além de agredir física e psicologicamente, os agressores só libertaram os dois homens após entregaram todo o dinheiro que tinham em mãos, cerca de R$ 645.

As imagens

As cenas obtidas pela reportagem mostram a sequência de agressões que poderia ter causado a morte dos agredidos. Dois dos seguranças, armados, conduzem um dos homens a um depósito e após este entregar um pacote de alimentos, que até então estava dentro de seu casaco, leva um soco na cara e uma rasteira.

O outro homem já estava ‘rendido’ pelos seguranças. Ele estava com o pacote de carnes e, também sem esboçar nenhuma reação, enquanto os gerentes apenas assistem às cenas, é agredido pelos seguranças e cai no chão.

Com mais socos gritos e chutes, a sessão de tortura perdura por mais 45 minutos, incluindo pedaços de madeira e até pallets usados contra os dois homens. Ao final, a ‘equipe’ ainda posa para uma foto, feita pelo gerente da unidade.

"[Foram] diversas agressões nas mãos, no rosto. Vemos momentos ali o uso de palletes, momentos com pedaço de pau, com martelos para serem usados como ameaça, vemos momentos que colocam saco na cabeça. Foi uma soma de eventos, de agressões, que chegaram até a nossa Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa", disse à reportagem o delegado Robertho Petternello, titular da delegacia de Homicídios da Polícia Civil de Canoas, responsável pela investigação.

Histórico

Também no Rio Grande do Sul, outros casos semelhantes já foram registrados. O mais conhecido deles resultou na morte de um trabalhador, João Alberto Silveira Freitas, homem negro, de 40 anos, que teria discutido com uma funcionária do Carrefour em Porto Alegre. Ele foi espancado no estacionamento até a morte por dois seguranças terceirizados. O caso ocorreu no dia 19 de novembro de 2020, um dia antes do Dia da Consciência Negra e ganhou repercussão nacional.

Em 2018, a publicitária Regina Ritzel Ferreira, 37 anos, negra, foi acusada de furto e humilhada por seguranças também do Carrefour, no bairro Partenon, na zona leste de Porto Alegre.

“Meu telefone tocou, abri a bolsa para atender a ligação e depois guardei meu telefone novamente. Passei no caixa, paguei minhas compras, peguei a nota, saí do supermercado e, no estacionamento, fui abordada por trás por dois seguranças que me pegaram pelo braço”, contou Regina ao Brasil de Fato

Ela foi conduzida a uma sala onde seis seguranças a coagiram a ficar seminua, acusando-a de ter furtado produtos. “Eles falaram que eu tinha roubado um produto. Minhas filhas começaram a chorar desesperadamente enquanto eu era obrigada a tirar a roupa. Depois constataram o equívoco e pediram desculpas. O gerente teve o desplante de perguntar se eu queria alguma coisa do mercado, mas o tempo todo fui humilhada e constrangida”, disse a vítima.