Gilmar ataca conluio entre imprensa e Lava Jato: ‘Vocês criaram falsos heróis’
Em participação no programa "Roda Viva", ministro do STF critica a atuação da imprensa para encobrir o procedimento ilegal do ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Lava Jato
Publicado: 08 Outubro, 2019 - 09h53 | Última modificação: 08 Outubro, 2019 - 09h57
Escrito por: Redação RBA
“Vocês criaram falsos heróis”, afirmou aos jornalistas o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, sobre os procuradores da Lava Jato e o ex-juiz e atual ministro Sergio Moro. Na noite desta segunda-feira (7), ao participar do programa Roda Viva, na TV Cultura, Gilmar Mendes fez críticas severas ao papel da imprensa corporativa desde 2014, que se empenhou em proteger a operação das acusações de atuação ilegal.
“Vocês mesmos na imprensa acabaram por deletar o trabalho que o Supremo fez com o mensalão. Tudo passou a ser Lava Jato. É um lavajatismo militante. Eu não quero personalizar mas muitos de vocês assumiram esse papel. E nós temos que ter, na verdade, em uma democracia também uma mídia crítica”, afirmou.
“Todos nós devemos querer e devemos encorajar o combate à corrupção. Mas eu tenho dito também que não se combate o crime cometendo o crime. Se não houvesse o Intercept muito provavelmente daqui a pouco nós teríamos pessoas vendendo operações, fazendo coisas a que estavam fazendo como forçando as pessoas a comprarem palestras. Tudo isso não é republicano. Isso nada tem a ver com um sistema que seja digno do sistema judicial”, afirmou, lembrando a atuação do procurador federal Deltan Dallagnol, que arrecadou dinheiro com palestras.
As críticas à operação Lava Jato permearam toda a entrevista. “Também essa integração, essa mistura de juiz e promotor que foi revelada não tem nada a ver com o nosso sistema. Então, precisamos corrigir isso. Prosseguir contra a corrupção, mas dentro de um quadro de normalidade institucional, menos personalista. É isso o que se deseja. Quando a Lava Jato acerta, tem que se dizer que ela acerta, agora quando ela erra, tem que se dizer que ela erra. E nesse ponto nós estamos vendo o quê? Excesso”.
O ministro foi indagado também sobre a prisão após condenação em segunda instância, os jornalistas tentaram fazer a defesa desse instrumento, que tem sido reconhecido como abusivo por algumas frentes judiciais. Mendes disse a “possibilidade” da prisão após segunda instância foi convertida em “imposição” desse tipo de prisão, o que a tornou abusiva no país, depois que uma súmula da Justiça Federal em Curitiba e o TRF4, e atropelou o andamento das discussões judiciais. A prisão em segunda instância se tornou um instrumento de “totalitarismo penal”, defende Mendes.