Rebeca Andrade conquista prata inédita para o país nas Olimpíadas de Tóquio
Com uma bela apresentação, atleta de 22 anos superou as melhores do mundo e ainda tem chance de ganhar mais medalhas na disputa da decisão do salto no próximo domingo (1º), e do solo, na segunda-feira (2)
Publicado: 29 Julho, 2021 - 11h29 | Última modificação: 30 Julho, 2021 - 09h28
Escrito por: Redação CUT
Com uma belíssima apresentação, Rebeca Andrade, paulistana de 22 anos, conquistou nesta quinta-feira (29) a primeira medalha olímpica da ginástica artística feminina nas Olímpiadas de Tóquio, no Japão. Rebeca é prata e ainda tem chance de ganhar mais medalhas. Ela ainda disputa a decisão do salto no próximo domingo (1º), e a do solo, na segunda-feira (2).
Rebeca foi a segunda melhor do mundo na prova que define a ginasta mais completa do mundo, o individual geral, em que vale a soma das notas dos quatro aparelhos e, com com 57.298 pontos conquistou a medalha de prata.
A ginasta foi a melhor nos primeiros dois quesitos - salto (15.300 pontos) e barras assimétricas (14.666) – e ficou em terceiro na trave, com 13.666, que a colocou na vice-liderança antes do último aparelho, o solo.
Na decisão, a americana fez uma prova perfeita, e Rebeca cometeu dois pequenos erros ao pisa fora do tablado.
Rumo à prata
Na qualificatórias da Ginástica Artística Feminina, no Centro de Ginástica Ariake, em Tóquio, Rebeca Andrade se classificou em segundo lugar no individual geral (atrás apenas de Simone Biles), em terceiro lugar no salto sobre a mesa e em quarto no solo. Flávia Saraiva se qualificou em oitavo lugar na trave de equilíbrio. Depois, ao final de uma apresentação que estava muito boa no solo, sentiu o tornozelo e foi poupada das disputas no salto e nas paralelas assimétricas.
No individual geral, Rebeca, ao somar 57.399, ficou pouco atrás de Simone Biles (57.731), a maior estrela da ginástica na atualidade. O melhor aparelho da brasileira foi o salto – com duas execuções muito precisas, ficou em terceiro lugar (15.100), atrás apenas das americanas Biles (15.183) e Jade Carey (15.661).
No solo, ao som de “Baile de Favela”, Rebeca, mostrando saltos impressionantes e muita graça na execução da coreografia, avançou na classificação com autoridade. Recebeu a nota 14.066, atrás de outra referência do esporte, a italiana Vanessa Ferrari (14.166) e das consistentes Biles (14.133) e Carey (14.100).
História
A primeira brasileira a receber uma medalha olímpica na ginasta, Rebeca Andrade, iniciou a carreira aos 4 anos, quando começou a treinar no Ginásio Bonifácio Cardoso, de Guarulhos, na Grande São Paulo, levada por uma tia.
Depois entrou no projeto social Iniciação Esportiva, da Prefeitura de Guarulhos, onde treinou por cinco anos, entre 2005 e 2010 - o projeto do município atende crianças e jovens com idades entre 7 e 17 anos. Depois foi convidada a treinar no Flamengo.
Quando fez o primeiro teste aos 4 anos ganhou o apelido de "Daianinha de Guarulhos", em referência a Daiane dos Santos, vencedora de nove medalhas de ouro em campeonatos mundiais no solo entre 2003 e 2006.
Aos 12 anos, já era a melhor ginasta do país, campeã brasileira em 2012, à frente da Daniele Hypolito e Jade Barbosa.
Poderia ter ido aos Jogos Olímpicos de Londres aos 13 com chances reais de brigar por medalha no salto, mas a modalidade impõe uma idade mínima, para preservar crianças e adolescentes.
A estreia no adulto teve que esperar até o ano em que Rebeca fez 16 anos, 2015, mas várias lesões tiraram da atleta a chance de brigar por medalhas. Neste ano, ficou fora do Pan e do Mundial. Mas, em 2016 chegou à Olimpíada do Rio cotada para uma medalha. Foi terceira da fase de classificação no individual, começou a final em terceiro, saltando muito bem, mas se desequilibrou emocionalmente após falhar nas barras assimétricas. Com erros na trave e no solo, ficou apenas na 11ª colocação.
Rebeca enfrentou muitas dificuldades até o bronze olímpico
A mãe de Rebeca, Rosa Rodrigues, que tem outros sete filhos, contou a TV Globo que a família enfrentou dificuldades para que a jovem continuasse treinando.
"No começo, eu trabalhava como empregada doméstica, então estava tudo certo. Mas teve uma época que as contas apertaram, e ela teve que parar de treinar por falta de condições financeiras. Mas quando retornou, não parou mais. Ia de ônibus e, quando não tinha dinheiro, ia a pé, mesmo com a distância do local do treino — cerca de 2 horas a pé."
Quando a jovem parou de frequentar os testes por falta de dinheiro, os treinadores de Rebeca criaram um esquema de rodízio para levá-la até o local. Na época, a Prefeitura de Guarulhos disponibilizou uma espécie de bilhete único para que os atletas frequentassem os treinos, porém, quando o valor disponível no cartão acabava, demorava muito tempo para cair a recarga novamente.
Lesões
Rebeca fez três cirurgias nos joelhos – duas delas durante o periodo de treinamento para as olimpíadas e pensou em desistir. Mas, a mãe a convenceu a continuar ao menos a continuar os treinos depois da terceira cirurgia da filha no joelho direito. Se não se sentisse bem, Rebeca seria recebida com todo carinho da família na volta à casa, em Guarulhos, disse a mãe.
"Essa conversa foi quando ela desmoronou”, disse Rosa ao UOL, lembrando que na época a atleta realmente pensou em desistir.
“Eu e ela, as duas, chorando. Mas me veio uma luzinha. Tive de deixar um pouco o lado de mãe, quando ela chorava dizendo que queria voltar para casa, e virar para o lado de incentivadora, dizendo a ela que ao menos se desse mais uma chance. Que tentasse voltar aos treinos e sentisse seu corpo. Ela ouviu. Dois dias depois me ligou, contente, dizendo que tinha treinado e resolvido ficar no Rio. Falou: 'O joelho não está doendo!'. Ela se recuperou muito rapidamente", contou Rosa ao UOL.
Com informações da Confederação Brasileira de Ginástica, Agência Brasil e UOL