Escrito por: Luiz Carvalho
Em entrevista, presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, reforça que impeachment é contra quem produz e avançou em direitos sociais
Questão de lógica: se de um lado da luta estão Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), CNI (Confederação Nacional da Indústria) e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), todas entidades patronais, certamente esse não é o lado do trabalhador.
Em entrevista ao Portal da CUT, o presidente nacional da Central, Vagner Freitas, aponta porque o impeachment recebe tamanho apoio dos empregadores. É a oportunidade para que parlamentares aliados aos patrões possam ter caminho livre para fazer com que o Brasil volte à época do sucateamento de direitos e das privatizações. Isso sem passar pelas urnas, onde os golpistas perderam nas últimas quatro eleições.
Vagner fala ainda sobre a razão da derrubada de Dilma não acabar com a crise, ao contrário, gerar mais instabilidade e como a política e o próprio Congresso correm risco com o aprofundamento desse cenário.
Para presidente da CUT, golpe quer retirar conquistas trabalhistas para aumentar lucro dos patrões (Foto: Roberto Parizotti)
O que os trabalhadores podem esperar da CUT neste momento de ataque à democracia?
Vagner Freitas – A defesa dos direitos, uma luta que norteia a nosso atuação desde o início. É bom deixar claro, o golpe não é contra o PT, o Lula ou a Dilma, é contra os direitos dos trabalhadores, contra os direitos sociais e contra a liberdade de expressão.
Os mesmos deputados e empresários que defendem o impeachment são os que propuseram a lei da terceirização na atividade-fim (PL 4330 aprovado na Câmara e que seguiu para o Senado como PLC 30) para demissão dos contratados diretos e contratação de terceirizados com metade dos salários e benefícios. São os mesmos que no governo Fernando Henrique Cardoso tentaram acabar com a CLT, alterando o artigo 618 da Constituição, quando a CUT fez uma guerra em nível nacional e conseguiu barrar. São os mesmos que defendem a jornada de trabalho flexível para que o empresário possa adequar a jornada às suas necessidades. Basta lembrar o que disse o vice-presidente da Fiesp, Benjamin Steinbruch, em 2014, quando falou que esse era o momento de flexibilizar direitos trabalhistas, que nos EUA o trabalhador almoça com uma mão e opera máquina com outra.
São aqueles não concordam com a licença-maternidade de seis meses, que são contra medidas que favoreçam a divisão de responsabilidades familiares para que as trabalhadoras tenham condições iguais no mercado de trabalho.
Aqueles que estão propondo o golpe são os mesmos que, durante as últimas eleições, apoiaram o Aécio Neves (candidato do PSDB à presidência) e achavam errada a construção de uma política nacional permanente de valorização do salário mínimo, criada no governo Lula e mantido no governo Dilma. Eles alegam que isso causa inflação e não ajuda na competitividade.
Além do ódio contra a presidenta e contra o PT, há o ódio contra os movimentos sociais organizados por parte de uma direita virulenta que não tem voto porque não tem expressão popular, mas que utiliza o Poder Judiciário e a mídia para chegar à presidência no ‘tapetão’. Isso significa também perseguição ao direito de organização, de construção de sindicatos.
Você acredita em prejuízo para a economia num possível impeachment?
Vagner Freitas – Um governo liderado pelas pessoas que defendem o golpe significaria retroceder à era FHC (ex-presidente Fernando Henrique Cardoso), quando lutávamos por um salário mínimo equivalente a US$ 100 (atualmente equivale a US$ 258) e quando entregaram todas as empresas que puderam ao mercado internacional a preço de banana com a demissão de milhares de trabalhadores.
A volta desse governo que seria comandado por Temer (Michel Temer, vice-presidente) e Aécio significaria a privatização da Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal. Vamos voltar ao tempo em que as campanhas salariais serviam meramente para manter direitos e não para ter avanço. Eu era dirigente sindical bancário nessa época e só lutávamos para ter a reposição da inflação.
O golpe significa dar uma marcha ré em direção à retirada de direitos, privatização e retirada de políticas sociais. Porque a ideia é que os beneficiários de programas como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, política de cotas para universidade e Fies utilizam indevidamente recursos públicos.
O trabalhador tem de ficar atento a quem defende o impeachment, liderado por Fiesp (Federação dos Trabalhadores do Estado de São Paulo), CNI (Confederação Nacional da Indústria) e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), todas entidades patronais. O patrão não defende o interesse do trabalhador, ao contrário, ele o explora. Então, se está ao lado do golpe, obviamente, o nosso é o outro, da defesa das conquistas que tivemos nos últimos 12 anos.
E não existiu momento que avançamos mais do que nos governos Lula e Dilma. As reclamações que fazemos hoje é porque achamos que dá para avançar ainda mais. Mas se compararmos Lula e Dilma com Fernando Henrique, Fernando Collor e anteriores, veremos que crescemos muito mais. E essa é uma das razões do golpe, os defensores do impeachment acham que conquistamos direitos demais. Esse é um momento de luta de classes.
Com o golpe, você acredita numa nova conjuntura em que a política perca espaço para o Judiciário, por exemplo?
Vagner – Sim, porque quem defende o golpe também defende um modelo de dominação que tem aversão a partido político e ao Congresso Nacional. A ideia é manter a dominação por meio de corporações e carreiras de Estado. Aqui no Brasil querem enfraquecer partidos e o Congresso para governar com poder financeiro, polícia federal, Ministério Público Federal, o Judiciário num processo de criminalização da política.
Os deputados que estão julgando a presidenta Dilma não tem expressão social, os que se apresentam a favor do impeachment são sempre da bancada da bala, ruralista. Não são expressão da opinião pública brasileira, inclusive, porque não se importam com ela.
Video
Vagner Freitas alerta: querem acabar com os direitos e as conquistas do povo brasileiro, inclusive programas sociais.