Golpe de Estado é sofisticadíssimo, diz cineasta grego
Autor de clássicos sobre mazelas do capitalismo defende documento “por Brasil democrático"
Publicado: 08 Janeiro, 2018 - 09h53 | Última modificação: 08 Janeiro, 2018 - 17h48
Escrito por: Paulo Donizetti de Souza, da RBA
O manifesto “Eleição sem Lula é Fraude” está perto de alcançar 140 mil assinaturas. O documento ganhou ontem (4) adesão do cineasta grego radicado na França Costa-Gavras, que afirma ser admirador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Assino, com orgulho. Admiro muito o presidente Lula. Não hesite em contar comigo, por Lula e por um Brasil democrático”, diz o diretor em mensagem enviada ao ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim, um dos organizadores do manifesto.
Prestes a completar 85 anos, em 12 de fevereiro, Costa-Gavras faz cinema há 60. O diretor notabilizou-se ao retratar nas telas processos históricos como golpes, conflitos sociais e intrigas internacionais. São longas-metragens baseados em dramas amorosos e familiares, tendo como pano de fundo conflitos político e atentados contra a democracia movidos por interesses econômicos e geopolíticos – tal como vê hoje a situação do Brasil.
Muitos se tornaram clássicos. Estado de Sítio (1972) narra a presença de agentes de inteligência norte-americanos no Uruguai para formar milícias e treinar métodos de tortura contra ativistas de esquerda no Cone Sul, em alusão à incipiente Operação Condor. Em Missing – Desaparecido, um Grande Mistério(1982), expõe a participação da CIA na deposição do presidente socialista Salvador Allende pela ditadura sangrenta de Augusto Pinochet (1973-1990), no Chile. Em Z (1968), aborda a resistência à instalação de bases militares dos Estados Unidos no país.
Em trabalho mais recente, O Capital (2012), baseado em romance do escritor francês Sthépane Osmont – Costa-Gavras desfila pelos bastidores do sistema financeiro e o papel da financeirização das economias na concentração de riqueza e perpetuação da pobreza. Seguidor atento de cada momento histórico de crises do capitalismo e seus efeitos nas sociedades contemporâneas, o cineasta greco-francês diz estar ciente dos acontecimentos no Brasil. “Já soube da exata situação e do sofisticadíssimo golpe de Estado pelo qual passa o Brasil”, diz em seu recado a Amorim.
Além do diplomata, participaram da divulgação do manifesto “Eleição sem Lula é Fraude” o economista Luiz Carlos Bresser Pereira, o cantor Chico Buarque, os escritores Raduan Nassar e Milton Hatoum, a socióloga Maria Victoria Benevides, o jurista Fábio Konder Comparato, a jornalista Hildegard Angel e o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto (MST) João Pedro Stédile – como iniciativa do Projeto Brasil Nação.
Lançado em 19 de dezembro, o manifesto ganhou a adesão da ex-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, o historiador inglês Peter Burke, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, a escritora portuguesa e presidenta da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, do linguista e filósofo norte-americano Noam Chomsky, do prêmio Nobel (1980) da Paz Adolfo Pérez Esquivel e do ex-ministro das Finanças da Grécia Yánis Varoufákis.
Nesta semana, assinaram o documento o ator Wagner Moura, a atriz Marieta Severo, os diretores de cinema Kleber Mendonça e Sergio Machado, o escritor Mario Prata, o teatrólogo Amir Haddad, a psicanalista e fundadora do Instituto Augusto Boal Cecília Boal aderiram nesta semana ao documento, que denuncia a perseguição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defende eleições livres e a democracia no Brasil.
“A trama de impedir a candidatura do Lula vale tudo: condenação no tribunal de Porto Alegre, instituição do semiparlamentarismo e até adiar as eleições. Nenhuma das ações elencadas está fora de cogitação. Compõem o arsenal de maldades de forças políticas que não prezam a democracia”, diz o texto.
Também apoiam o teólogo Leonardo Boff, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, a sambista Beth Carvalho, as atrizes Bete Mendes, Silvia Buarque e Soraya Ravenle, o cartunista Renato Aroeira, os cineastas Silvio Tendler e Walter Lima Júnior, o artista plástico Ernesto Neto. Da cena política brasileira aderiram nomes como Manoela D´Ávila, deputada estadual do PCdoB-RS e pré-candidata do partido à presidência; Guilherme Boulos, coordenador do MTST, da Frente Povo Sem Medo e também presidenciável, pelo Psol; Vagner Freitas, presidente da CUT; João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical; Edson Carneiro Índio, secretário-geral da Intersindical; Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares (CMP) e da Frente Brasil Popular; e Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) marcou para o dia 24 de janeiro o julgamento do Lula na Operação Lava Jato no caso do triplex do Guarujá. Os signatários do manifesto denunciam que a tentativa de marcar em tempo recorde a data do julgamento em segunda instância do processo de Lula nada tem de legalidade. “Trata-se de um puro ato de perseguição da liderança política mais popular do país.” Para ler (também com versões em inglês, francês, espanhol e árabe) e assinar o manifesto, acesse aqui o link.
Pelo mundo
O manifesto ganha adesões de intelectuais e líderes mundiais preocupados com o quadro político no país e a perseguição ao ex-presidente Lula, como a australiana Sharan Biurrow, presidenta da Confederação Internacional de Sindicatos de Trabalhadores (Ituc) – que representa 170 milhões de pessoas em 155 países –, o ex-diretor executivo Abdrew Whitle, da The Elders (do inglês Os Anciãos, organização fundada em 2007 por Nelson Mandela), que reúne líderes globais e ex-chefes de Estado e o professor emérito da Universidade Jawaharlal Nehru de Nova Déli, o indiano Deepak Nayyar,
Da Europa, aderiram Heidemarie Wieczorek-Zeul, ex-ministra da Cooperação para o Desenvolvimento da Alemanha; Stefan Rinke, professor do Instituto de Estudos da América Latina da Universidade de Berlim; Inês Oliveira, cineasta (Portugal); Maria Luís Rocha Pinto, professora-associada da Universidade de Aveiro (Portugal); Filipe do Carmo, pesquisador, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (Portugal); Pedro de Souza, pesquisador e editor (Portugal).
Na França, o manifesto circula nos principais centros de conhecimento, com a adesão de Luc Boltanski, sociólogo, diretor de honorário da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS); Francine Muel-Dreyfus, socióloga, diretora honorária da EHESS; Gisèle Sapiro, socióloga, diretora de estudos da EHESS; Héctor Guillén Romo, professor de economia da Universidade Paris; Jean-Yves Mollier, professor emérito do Centro de História Cultural das Sociedades Contemporâneas da Universidade de Versalhes; Michel Pialoux, sociólogo, professor aposentado e membro do Centro Europeu de Sociologia e Ciência Política (CESSP) na Universidade de Paris; Monique de Saint Martin, socióloga, diretora honorária da EHESS; Paul Pasquali, sociólogo, pesquisador do Centro Nacional da Pesquisa Científicado (CNRS, um espécie de CNPq da França); Rose-Marie Lagrave, socióloga, diretora honorária da EHESS; Pierre Salama, professor emérito da Universidade de Paris; Roger Chartier, diretor de estudos da EHESS e professor do secular tradicional centro universitário Colégio de França.
Na América Latina, estão entre os novos signatários Monika Meirelles, do Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade Nacional do Méxio; Juan Arturo Guillén Romo, professor e pesquisador da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM, México); Pablo Edgardo Martínez Sameck, professor titular de sociologia da Universidade de Buenos Aires.
No Uruguai, aderiu ao manifesto um grupo de artistas reconhecidos da cultura uruguaia, formado pelos atores do Teatro El Galpón Jorge Bolani, Julio Calcagno, Myriam Gleijer, Héctor Guido, Solange Tenreiro, Silvia García, Pierino Zorzini, Dante Alfonzo, Elizabeth Vignoli e Anael Bazterrica, os produtores Laura Pouso e Gustavo Zidan, o escritor Atilio Perez da Cunha, os diretores de teatro Jorge Denevi e Dervy Vilas e os músicos Eduardo Larbanois e Mario Carrero.
Dos Estados Unidos, assinam Robert DuPlessis, professor emérito de História da Faculdade de Swarthmore (Filadélfia); Ronald H. Chilcote, professor de economia política da Universidade da Califórnia; Santiago Barassi, sociólogo da Universidade de Buenos Aires; Sean Mitchell, fundador e presidente da Sociedade Wojtyla; Michael D. Kennedy, professor de Sociologia e Relações Internacionais da Universidade Universidade Brown (Rhode Island); e Cyrus Bina, do periódico acadêmico Estudos Críticos de Mercado e Sociedade.