Escrito por: Isaias Dalle e Luiz Carvalho
Presidente da CUT, Vagner Freitas, destaca que impeachment é parte de uma agenda de ataques às políticas de desenvolvimento com distribuição de renda
Durante ato público no último dia 8, no Rio de Janeiro, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, já alertava ao trabalhador: é fundamental avaliar quem deseja o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
O dirigente lembra que os interessados no impeachment são os mesmos que criticam a política de valorização do salário mínimo, defendem a terceirização sem limites e repudiam as políticas de igualdade de gênero e raça.
Em entrevista ao Portal da CUT, Vagner defende que o golpe é apenas o primeiro passo de uma agenda conservadora de retrocessos que, após o impeachment da Dilma, trará para o alvo os trabalhadores e os movimentos sindical e sociais.
Por isso, nas manifestações convocadas para o dia 16 de dezembro em São Paulo e Brasília, é fundamental que a classe trabalhadora vá às ruas defender seus direitos.
A conjuntura que enfrentamos hoje é a maior ameaça real à democracia desde o golpe civil-militar?
Vagner Freitas – Eu acredito que é, definitivamente, um ameaça à democracia orquestrada por aqueles que perderam as últimas eleições e querem ganhar no tapetão. O impeachment é péssimo para a democracia e, principalmente, para o trabalho. Os mesmos que querem dar o golpe são os que propõem a terceirização sem limites, que querem acabar com a política de valorização do salário mínimo, com a carteira assinada, com as férias, com a licença-maternidade. São os mesmos que querem acabar com a Previdência, estabelecer que os homens têm de se aposentar com 75, 80 anos e mulheres com 70, 75 anos. É isso que significa para o trabalhador derrubar o governo Dilma. No dia seguinte, essa agenda dos conservadores será emplacada, sairá vitoriosa. Ou alguém acha que o Temer (Michel Temer, vice-presidente da República) se preocupa conosco?
Basta dar uma lida na plataforma para o Brasil que o PMDB acabou de entregar e que só fala em cortar direitos. O documento que se chama Uma Ponte para o Futuro nós chamamos de uma ponte para o atraso, uma ponte para a retirada de direitos. Temos feito uma luta hercúlea para impedir que esse Congresso reacionário, comandado pelo Cunha (PMDB-RJ, presidente da Câmara dos Deputados), retire nossas conquistas. A terceirização sem limites só não passou porque fizemos uma resistência extraordinária. A democracia está em xeque, há um golpe que pode ser aplicado e fará com que o Brasil entre numa turbulência política muito grande, porque haverá resistência de quem não concorda com o golpismo, como nós não concordávamos com a ditadura e fizemos com que ela acabasse. Portanto, esse golpe não traz nada de bom para o trabalhador, a economia continuará paralisada por conta da crise política e isso significa inflação e desemprego.
Quais aliados a CUT vai procurar para construir as mobilizações contra o golpe?
Vagner – A grande manifestação que teremos no dia 16 de dezembro em São Paulo e em Brasília contra o golpe, pelo fora Cunha e pelo fim do ajuste fiscal unificará todas as entidades sindicais e sociais como CUT, UNE, MST, MTST, CMP. É a primeira vez que isso acontece desde a época em que fizemos o enfrentamento e o impeachment do ex-presidente Collor, aí sim, corretamente, porque contra o Collor havia denúncias de corrupção comprovadas, algo que não há contra a Dilma. Sequer há um processo aberto contra ela. Vamos disputar a compreensão da sociedade fazendo um grande ato de rua. Vai ter um ato dos golpistas no dia 13 pelo impeachment e um no dia 16 dos que defendem um Brasil com desenvolvimento e dizem não ao retrocesso e ao golpe.
O que os sindicatos têm de fazer para falar com suas bases sobre o golpe?
Vagner – Os sindicatos têm que colocar a luta contra o golpe como centro de sua atuação política daqui até o desfecho do processo. Colocar nos seus jornais, sites, porque fazer sindicalismo, defender direitos dos trabalhadores é ser contra o golpe. Não adianta discutir só pauta de emprego e salário, porque se não tivermos a presidenta Dilma daqui a 20, 30 dias, a pauta dos sindicatos com Temer e Cunha não vai andar. Tem que ter essa posição política efetiva de defender os trabalhadores para que não haja o golpe. E tem que ir para a porta da fábrica, da escola, do banco, para a roça, para a loja, supermercado, para as ruas explicar ao trabalhador o que é o impeachment. Dizer para quem está preocupado com seu emprego e que foi beneficiado pelo PPE, que vai até julho: se não houver renovação, teremos perda de emprego. O trabalhador tem que ser contra o golpe para defender suas conquistas dos últimos 13 anos. O impeachment é um subterfúgio que a direita organizou para implementar sua prática de tirar direitos dos trabalhadores, diminuir custos e aumentar os lucros.