MENU

Governo afasta 5 delegados da PF que investigavam corrupção do clã Bolsonaro

Também foram exonerados os que investigaram aliados, como Salles e Allan dos Santos. Entenda como a corrupção do governo Bolsonaro é divulgada de forma a não atingir o presidente

Publicado: 11 Outubro, 2022 - 08h30 | Última modificação: 11 Outubro, 2022 - 08h33

Escrito por: Marize Muniz

Ana Luiza Vaccarin
notice

A falta de debates entre os brasileiros sobre os 26 casos de corrupção associados ao governo de Jair Bolsonaro (PL) está diretamente relacionada a três fatores: 1) a forma leve como a imprensa divulga; 2) ao engavetamento das denúncias pela Procuradoria-Geral da República (PGR); e, 3) ao afastamento dos delegados e delegadas que apuram esquemas criminosos que envolvem o clã Bolsonaro, inclusive o presidente, e seus aliados políticos.

O ex-presidente Lula (PT) deu liberdade e nunca interferiu na Polícia Federal (PF), nem quando foi informado com antecedência sobre uma operação, em 2005, cujo alvo era seu irmão Genival Inácio da Silva.

Já o governo Bolsonaro, afastou até agora cinco delegados da PF que investigavam crimes relacionados à família, ao próprio presidente e aliados.

Na casa de Genivaldo, que morreu quando Lula estava preso, a PF não encontrou nada. Ele ganhava R$ 2.900, era aposentado, e nunca se envolveu em maracutaia nem usou o nome do irmão presidente para obter vantagem. Era um home pobre, honesto, íntegro. Por outro lado, a lista de mal feitos do clã Bolsonaro, que você poderá ler abaixo, é enorme e envolve todos os filhos e até a primeira dama Michelle Bolsonaro.

Apesar da mídia ter ignorado, Lula atuou para jogar luzes sobre a corrupção e punir, de fato, os responsáveis pelos rombos nos cofres públicos, ao contrário de Bolsonaro.

Entre 2003 e 2009, o número de operações realizadas pela Polícia Civil pulou de 18 para 236. A PF passou a se concentrar em crimes contra os cofres públicos. Em 2007 foram 183 operações e 2.800 pessoas presas, lembrou em recente artigo a jornalista Milly Lacombe, do UOL.

A PF foi reformada durante as administrações de Lula. Autonomia, melhores salários e operações de combate à corrupção, diz o texto.

O PT atuou para que escândalos de corrupção viessem à tona. Coisa que nem Sarney, nem FHC fizeram – muito pelo contrário. A mídia não divulgou as coisas desse jeito, acrescenta a jornalista.

Agora, quem investiga perde o cargo.

Confira os 5 delegados demitidos por investigar corrupção no governo Bolsonaro

Caso 1 - Em abril do ano passado, Alexandre Saraiva, então superintendente da Polícia Federal no Amazonas, enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o senador Telmário Mota (Pros-RR). No dia seguinte, Saraiva foi afastado do cargo de superintendente.

Segundo a notícia-crime, Salles e Mota tinham uma parceria com o setor madeireiro "no intento de causar obstáculos à investigação de crimes ambientais e de buscar patrocínio de interesses privados e ilegítimos perante a Administração Pública."

No fim de 2020, mais de 200 mil metros cúbicos de madeira no valor de R$ 130 milhões foram apreendidos na Operação Handroanthus. Na época, Salles e Telmário fizeram declarações contrárias à operação da Polícia Federal que levou à apreensão, além de defender a aparente legalidade do material e dos madeireiros investigados.

Caso 2 - Em maio deste ano, o delegado Hugo de Barros Correa foi exonerado do cargo de superintendente da Polícia Federal no DF e virou responsável pela implementação interna do plano de saúde. Ele perdeu o cargo depois de liderar os inquéritos que investigam Jair Renan Bolsonaro, na operação que apura desvios de recursos no Ministério da Saúde,  e o das fake news.

A investigação contra o filho 04 do presidente despertou a atenção da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da covid-19. Documentos obtidos pelo colegiado mostram que Jair Renan pediu ajuda de um lobista para abrir sua empresa privada em Brasília.

Caso 3 - Também no início deste ano, o novo diretor-geral da PF, Márcio Nunes de Oliveira, trocou o delegado responsável por coordenar a Diretoria de Investigação e Combate à Corrupção, Luis Flávio Zampronha

O setor é responsável por conduzir as diligências nas investigações que apuram fake news e o financiamento de atos antidemocráticos. 

A delegacia também é responsável por investigar parlamentares suspeitos de desvio de dinheiro público. São alvos de investigação no setor o presidente e seus filhos, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o senador Flávio Bolsonaro (PL), entre outros. Na hierarquia da Polícia Federal, esse é considerado o setor de maior repercussão.

Caso 4 - Em agosto de 2019, o governo afastou o delegado Ricardo Saadi da superintendência da PF no Rio de Janeiro. Ele chefiava a investigação sobre os supostos elos entre milícias do Rio e a família do presidente.

Antes da exoneração, Bolsonaro vinha se queixando a interlocutores de que não confiava na atuação de Saad. Para o presidente, o tratamento dado às investigações envolvendo seu filho Flávio tinha por objetivo atingir sua imagem.

O esquema explodiu a partir de uma investigação sobre gastos irregulares identificados pelo Coaf (órgão de controle de atividades financeiras) nas contas de Fabrício Queiroz, ex-PM que era chefe de gabinete de Flávio. No decorrer das apurações, foi revelado que Queiroz empregou parentes de milicianos no gabinete, inclusive mulher e mãe de um suspeito de executar a ex-vereadora Marielle e seu motorista Gomes, no Rio de Janeiro.

Caso 5 - A delegada Dominique de Castro Oliveira perdeu o cargo na Interpol e voltou para a Superintendência da PF no Distrito Federal. O motivo: ela foi  responsável pela ordem de prisão no exterior do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, dono do site Terça Livre.

Dominique processou a ordem de prisão e extradição decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, colocando o nome do blogueiro na Difusão Vermelha da Interpol, que torna possível prisões no exterior. Allan dos Santos atualmente vive nos Estados Unidos.

Dominique foi a terceira demitida entre as pessoas envolvidas no caso do blogueiro bolsonarista. O Ministério da Justiça já havia demitido a chefe do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Internacional (DRCI), Silvia Amélia, responsável por enviar o pedido de extradição aos Estados Unidos. No mesmo mês, foi exonerada Georgia Renata Sanchez Diogo, chefe da Assessoria Especial Internacional do Ministério da Justiça.
A prisão e a extradição de Allan dos Santos foram decretadas em outubro por Moraes, atendendo a um pedido da PF. A PGR foi contra a prisão.

Moraes afirmou na decisão que a PF compilou elementos que indicam a “habitualidade” de Allan dos Santos em praticar atos que podem ser caracterizados como ameaça, crimes contra a honra e incitação à prática de crimes, bem como integrar organização criminosa.

Engavetador-geral da República

Outra diferença enorme entre Lula e Bolsonaro é a escolha do Procurador-Geral da República (PGR).  Lula nunca escolheu um ‘engavetador’ para o cargo.  

Ao contrário de Lula, que sempre escolheu o primeiro colocado na lista tríplice da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR), que vota quem a categoria quer como PGR, Bolsonaro escolheu Augusto Aras para o cargo. Aras, que correu por fora, não era um dos candidatos da categoria, trabalhou para mostrar a Bolsonaro que tinha afinidade com as ideias do presidente.

Com Aras, as investigações que vão adiante na PF, são engavetadas. Segundo levantando do UOL, o órgão, que não fez nenhuma denúncia contra o presidente, já arquivou 104 pedidos de investigação contra ele. A pesquisa considerou as petições enviadas ao Supremo Tribunal Federal (STF)) a partir de setembro de 2019, início da atual gestão da PGR.

Como a mídia trata os esquemas criminosos

A maneira como a mídia trata os esquemas de corrupção também contribui para o falso discurso de Bolsonaro de que em seu governo não tem corrupção. Tem e muitas, mas a mídia não as associa ao presidente como fazia com Lula.

O maior esquema de corrupção do planeta, como disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS) é divulgado pela imprensa com o termo ‘orçamento secreto’. Esse esquema, montado pelo governo e por políticos do Centrão, comandado pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), desvia recursos de áreas como saúde e educação e entrega milhões para deputados e senadores aliados de Bolsonaro fazerem o que quiserem com o dinheiro.

No final de setembro, o governo Bolsonaro chegou a cortar 45% da verba para prevenção do câncer para aumentar os repasses de dinheiro para os aliados, via emenda do relator, sem controle e sem transparência.

Mais corrupção

Entre os casos de corrupção ligados ao governo Bolsonaro estão o caso dos funcionários fantasmas nos gabinetes do presidente e dos filhos Flávio e Carlos, na Câmara, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e na Câmara dos Vereadores do Rio, respectivamente; os 51 imóveis comprados pela família Bolsonaro com dinheiro vivo; os repasses nas contas da primeira-dama Michelle Bolsonaro; contrabando de madeira ilegal no Ministério do Meio Ambiente; e pedido de propina de um dólar para cada vacina AstraZeneca comprada pelo governo.

É importante lembrar que o ex-presidente Lula foi relacionado pela mídia a todas as denúncias que surgiram em seus mandatos, com nomes populares como ‘mensalão do PT’, 600 vezes menor do que o orçamento secreto, esquema de corrupção montado por membros do governo Bolsonaro, deputados e senadores.