Escrito por: Redação CUT

Governo Bolsonaro espiona Igreja Católica por causa da agenda de esquerda

Para Abin, a preocupação da Igreja Católica com a realidade de índios, ribeirinhos e povos amazônicos, além dos conflitos agrários que matam trabalhadores mostram que a pauta da CNBB é de “esquerda"

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O governo de extrema direita de Jair Bolsonaro (PSL) recorreu a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para ‘conter o que considera um avanço da Igreja Católica na liderança da oposição’ à nova gestão. A afirmação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo neste domingo (10).

Segundo a reportagem, o governo enxerga como "ameaça comunista" a atuação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de órgãos católicos associados, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e as pastorais Carcerária e da Terra. “Na avaliação da equipe do presidente, a Igreja é uma tradicional aliada do PT e está se articulando para influenciar debates antes protagonizados pelo partido no interior do País e nas periferias”, afirma o jornal.

Os informes da Abin relatam recentes encontros de cardeais brasileiros com o papa Francisco, visto como comunista pelo governo, para discutir a realização do Sínodo sobre Amazônia, que reunirá em Roma, em outubro, bispos de todos os continentes. A pauta do encontro, em defesa da população mais vulnerável, é considerada pelos espiões como "agenda de esquerda". O encontro vai debater a realidade de índios, ribeirinhos e povos amazônicos, além de políticas de desenvolvimento da região, mudanças climáticas e conflitos agrários. 

O ex-ministro Gilberto Carvalho, liderança do PT mais próxima da Igreja Católica, afirmou ao jornal que a decisão do governo de monitorar os bispos que vão participar do Sínodo da Amazônia, expõe o Brasil ao "ridículo internacional". Para Carvalho, é equivocado supor que a Igreja é um "braço do PT", como interpretam setores do governo. Ele diz: "como brasileiro, fico envergonhado."

Segundo o ex-ministro, "o Sínodo é uma iniciativa da Santa Sé que articula bispos de toda a Amazônia que vai muito além do Brasil. Tem o Peru, Colômbia, Venezuela, Equador".

Uma notícia dessas ridiculariza o Brasil, além de mostrar a pretensão de criar um estado policialesco. Ao mesmo tempo põe lenha na fogueira dessa guerra religiosa que eles tentam criar no Brasil. É perigoso separar católicos de evangélicos. Este governo tem um setor evangélico com muito peso e isso é ruim para a laicidade do estado, para a liberdade religiosa - Gilberto Carvalho

Nas redes sociais os informes da Abin foram vistos com preocupação por jornalistas, políticos e brasileiros que defendem a democracia. O colunista da Revista Forum, George Marques, Especialista em comunicação pública/política, publicou um post no Twitter dizendo que o governo Bolsonaro demonstra ser perigoso para o rumo do Brasil. “Se faz isso com religiosos, é meio óbvio que já possuem um dossiê de todos os opositores. Brasileiros sob estado de espionagem”.

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A deputada Maria do Rosário (PT-RS) também se pronunciou na rede social. Segundo ela,   “os dissensos políticos, construídos com marcadores religiosos, agora produzem uma guerra suja contra cristãos de denominações variadas”.

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Leonardo Sakamoto disse que “o que choca não é o fato do governo espionar setores progressistas da Igreja Católica, o que não é exatamente novidade, mas assumir isso abertamente como se fosse algo bonito de se dizer”.

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Até jornalista da mídia conservadora expressou preocupação com a informação. Vera Magalhães, do Estadão, "considerou importante e  preocupante a reportagem da Tânia Monteiro no @Estadao de hoje com o general Heleno admitindo que a Abin admitindo que monitora reuniões da Igreja Católica preparatórias para o Sínodo da Amazônia. Oi?!”, postou ela no Twitter.

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A reportagem traz declarações do general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), afirmando que o governo "está preocupado" com a os preparativos para o Sínodo sobre Amazônia. "Queremos neutralizar isso aí", declarou o responsável pela contraofensiva.

Um militar da equipe de Bolsonaro afirmou à reportagem do Estado, em condição de anonimato, que o Sínodo vai contra toda a política de Bolsonaro para a região e deverá "recrudescer o discurso ideológico da esquerda".

O Sínodo, batizado de "Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral", terá como diretrizes: "Ver" o clamor dos povos amazônicos; "Discernir" o Evangelho na floresta. O grito dos índios é semelhante ao grito do povo de Deus no Egito; e "Agir" para a defesa de uma Igreja com "rosto amazônico", e deverá ser atendido por 250 bispos.

"Se os bispos fazem crítica é querendo ajudar, não derrubar. Eles sabem onde o sapato aperta. Vão falar da situação dos povos e do bioma ameaçado. Mas não para atacar frontalmente o governo", rebateu D. Erwin Kräutler, Bispo Emérito do Xingu (PA).

"O trabalho do governo de neutralizar impactos do encontro vai apenas fortalecer a soberania brasileira e impedir que interesses estranhos acabem prevalecendo na Amazônia. A questão vai ser objeto de estudo cuidadoso pelo GSI. Vamos entrar a fundo nisso", declarou Heleno.

Para tentar conter as possíveis denúncias da Igreja, escritórios da Abin em Manaus (AM), Belém e Marabá (PA), além de Boa Vista (RR), responsável pelo monitoramento de estrangeiros em Raposa Terra do Sol e terras ianomâmi, serão direcionados para monitorar, em paróquias e dioceses, as reuniões preparatórias para o Sínodo.

O governo solicitou também participar do Sínodo, mas lideranças católicas dizem que governos não costumam participar dessas conferências, que terão a participação do Papa Francisco