Escrito por: Redação RBA
Supervisora do Dieese aponta que aumento no valor da cesta básica em 17 capitais ao longo de 2021 está diretamente relacionado ao modelo agro-exportador e ao abandono dos estoques reguladores de alimentos
O aumento na cesta básica em 2021, identificado pelo Dieese em todas as 17 capitais pesquisadas pela entidade, está diretamente relacionado ao modelo de agronegócio que o Brasil adotou e à falta de políticas públicas do governo de Jair Bolsonaro, que abandonou os estoques reguladores de alimentos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). É o que destaca a supervisora de pesquisas do Dieese, Patrícia Costa, na coluna da entidade no Jornal Brasil Atual desta segunda-feira (10) sobre a pesquisa feita mensalmente.
Dados do instituto divulgados na última sexta (7) mostram que entre novembro e dezembro o valor da cesta subiu em oito cidades. O destaque foi para Salvador, onde os preços dos alimentos subiram 2,43%, e Belo Horizonte, que registrou aumento de 1,71%. Ao longo do ano passado, contudo, em todas as 17 capitais pesquisadas houve alta no valor da cesta básica, com crescimentos mais expressivos em Curitiba (16,3%), Natal (15,42%) e Recife (13,43%).
Dos 13 produtos verificados, nove tiveram alta acumulada de preços em quase todas as cidades. Entre eles, a carne bovina de primeira, o açúcar, o óleo de soja e o café em pó, alimentos que são exportados e relacionados às commodities privilegiadas no modelo de agronegócio brasileiro. Mercado interno esquecido“Vai ficando cada vez mais difícil para o consumidor ter acesso a esses alimentos básicos. O real perde valor em relação ao dólar, o que estimula a exportação. Os produtores vão olhando para o mercado externo que tem demanda e olham para dentro e veem um mercado interno deprimido, sem renda, em que o trabalho é cada vez mais espremido, com menores rendimentos e sem geração de empregos. E a opção deles é mandar os alimentos para fora, alimentos básicos que estão na mesa e na vida de todas as famílias brasileiras. E com isso aqueles que ganham menos acabam tendo que dispor de mais do seu salário, que é cada vez menor, para comprar esses alimentos”, observa Patrícia.
A supervisora alerta que políticas públicas como a dos estoques reguladores da Conab, que poderiam frear esse movimento, também não são uma prioridade do governo federal. De acordo com ela, há “um problema na cadeia de produção” que pode chegar a um ponto de “estrangulamento”. Patrícia cita como exemplo o embargo à carne bovina brasileira imposto pela China, principal importador do Brasil, em setembro de 2021. A exportação só foi retomada em dezembro, ainda assim, não houve uma queda do preço do produto no varejo. Inflação e fome“Pelo contrário, o que o produtor fez foi guardar o gado para quando a sanção caísse. Ele esperou que a China voltasse a exportar para poder vender e abater o gado. Ele desconsidera o mercado interno”, contesta, criticando a omissão da gestão de Bolsonaro. “O governo nunca deu muita bola para isso porque não houve nenhum tipo de intervenção que fosse capaz de minimizar toda essa inflação. Ele está deixando a inflação subir porque acha que em 2022 ela vai cair. A gente não pode deixar que a inflação caia porque as pessoas estão comendo menos, ou comprando menos. Baixar a inflação por conta da fome do brasileiro é extremamente complicado, uma opção difícil e eu diria até perversa”, adverte a supervisora.
Este já é o caso das taxas negativas na maior parte das capitais do arroz e do feijão. Levantamento do Dieese revela que houve uma redução nos preços entre 2020 e 2021 devido à queda do poder de compra da população em relação ao período anterior a 2019. “Ainda temos um preço expressivo do quilo do arroz e do feijão e eles vão ficando cada vez mais inacessíveis para as famílias. Com isso, elas compram menos porque têm menos renda. Este é um país que não cresce, não gera empregos e nem renda suficiente para que sua população, principalmente a mais pobre, possa comer. Esse é o país em que a gente vive hoje”, finaliza Patrícia.
Redação: Clara Assunção