Escrito por: Leonardo Severo, de Assunção
Afirma Bernabé Penayo, da Federação Nacional dos Taxistas do Paraguai
Bernabé Penayo, líder dos taxistas e referência sindical paraguaia
Na avaliação de Penayo, “este tipo de paralisação que envolve todos os setores é uma experiência importante, histórica, pois não é frequente”, mobilizando o país em momentos especiais. “Neste governo encabeçado por Cartes esta é a segunda greve geral, o que demonstra o grau de insatisfação popular com os rumos adotados. É alguém que não respeita a liberdade sindical, tem um plano econômico totalmente contrário aos interesses dos trabalhadores para privilegiar o grande capital estrangeiro. Tudo isso leva o país a uma situação cada vez mais grave e nos faz pressionar para que mude urgentemente a sua política econômica”, destacou.
A queda na qualidade dos serviços públicos vai além dos sucessivos cortes promovidos pelo governo, alertou o sindicalista, dialoga também com o clientelismo e o apadrinhamento, resultado da falta de estabilidade que só é brindada no país após 10 anos de trabalho.
Quando Fernando Lugo assumiu a presidência, explicou, entrou na máquina pública uma grande quantidade de servidores que não eram colorados, que não haviam ficado viciados nos 62 anos em que este partido esteve no poder desde o começo da ditadura de Stroessner. “Assim que Lugo foi derrubado, 90% deles foram demitidos por não pertencerem ao Partido Colorado, havendo um grande retrocesso no atendimento básico à população mais necessitada”, declarou.
Na lógica neoliberal de “enxugamento” do papel do Estado em prol dos cartéis e monopólios privados, o governo Cartes acelerou a lei das Associações Público-Privadas (APPs), “concedendo”, com fartura de dinheiro público, áreas estratégias da economia para o capital estrangeiro.
”A lei de Associação Público Privada é totalmente entreguista, atenta contra a soberania nacional, com tudo podendo ser privatizado: hospitais, escolas, penitenciárias, rodovias. É uma lei que atenta contra a Constituição Nacional que aponta que todos os acordos e empréstimos têm de ser necessariamente aprovados pelo parlamento. Esta lei não, ela concentra tudo em Cartes para melhor vender o país”, condenou.
Conforme o líder dos taxistas paraguaios, a implantação desta ideologia subserviente foi um dos grandes objetivos da Operação Condor, patrocinada pelo governo dos Estados Unidos para que as ditaduras da Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai varressem com a oposição nacionalista.
“É importante termos a integração latino-americana como barreira às imposições externas, particularmente dos EUA. É um obstáculo a que cedo ou tarde venham com o retorno da doutrina de ‘Segurança Nacional’, que foi a base da intervenção norte-americana em toda a América Latina. A Operação Condor possibilitou a plena instalação das ditaduras militares contra todos os que se opunham à entrega dos nossos países. Superando aquele momento, fomos nos unindo e criando uma série de organizações com a participação da Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina, Brasil, construindo uma integração que é vital para que os nossos povos sejam independentes”, assinalou.
Para Penayo, é preciso honrar a trajetória de mártires e heróis que abriram caminho para a liberdade, citando o caso de Emílio Roa Espinosa, que foi secretário-geral da Confederação Paraguaia de Trabalhadores e secretário da Construção do Paraguai. Espinosa foi sequestrado junto com o presidente do Partido Comunista Paraguaio (PCP), Antonio Maidana, em Buenos Aires, no dia 27 de agosto de 1980, e entregue à ditadura de Stroessner, que desapareceu com eles. “Recordo que Roa era um operário qualificado da construção civil, amigo do meu pai e companheiro do PCP, que visitava minha casa com certa frequência. Eu tinha dez anos e mais de meia dúzia de irmãos e ele chegava com um pacote de balas para todos. Era um momento muito esperado, havia sempre muita ansiedade da nossa parte e atenção especial da parte dele. Atualmente sua neta vive aqui próximo a Assunção. Sempre recordamos seu exemplo. Lamentavelmente há um abandono da memória dos muitos que morreram lutando, falta um lugar à altura desta experiência histórica de luta pela liberdade. É um dever nosso, um compromisso que temos de cumprir com as novas gerações”, concluiu.