Governo do Paraná muda resolução para obrigar alunos a voltar às aulas presenciais
Secretaria de saúde do Paraná emite nova resolução que obriga alunos e professores a voltarem às aulas presenciais. Mãe relatou tentativa de suicídio de filho com medo de ser contaminado pela Covid na escola
Publicado: 24 Setembro, 2021 - 13h57 | Última modificação: 24 Setembro, 2021 - 14h08
Escrito por: Rosely Rocha
O governo de Ratinho Jr (PSD-PR) está obrigando alunos e professores das escolas públicas a voltarem às aulas presenciais, mesmo com a pandemia da Covid-19 dando sinais de força com o aumento da média móvel de mortes e predominância da variante Delta em vários estados do país.
A pressão começou há mais de 10 dias quando a Secretaria de Educação, sob o comando de Renato Feder, afastou três diretores que não conseguiram a “bater a meta” de 100% dos alunos presentes nas salas de aulas. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP Sindicato-PR), conseguiu reveter a suspensão de dois, mas eles ainda respondem a processo administrativo da Secretaria de Educação (Seed).
Depois, resoluções contraditórias das secretarias da Saúde e Educação, geraram ainda mais medo e ansiedade entre mães, pais e educadores.
Pais de alunos denunciaram ao sindicato que estão sendo ameaçados por não entenderem como deveriam proceder, já que havia uma resolução da Secretaria Estadual de Saúde, que os demais órgãos deveriam seguir, editada em 10 de agosto deste ano, que dava aos pais a opção de levar seus filhos, ou não, às aulas presenciais. Mas nesta quinta-feira (23), tudo mudou.
“A secretaria de saúde baixou outra resolução dizendo que agora a volta às aulas presenciais são prioridade do governo e obrigando todo mundo voltar às aulas presenciais”, explica a secretária de Finanças do APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto.
Leia aqui a resolução da Secretaria de Saúde do estado do Paraná, que prevê ensino remoto apenas para estudantes com afastamento médico ou comorbidade comprovada.
Para a dirigente, o estado deveria preparar a volta às aulas de forma reduzida, mas tem tratado os trabalhadores e a comunidade escolar de uma maneira que só agravam as tensões, angústias e medos.
“Esta não é uma forma que dialoga com a sociedade, mas que só complica a vida de todos os envolvidos no processo”, afirma Walkiria.
O APP Sindicato/PR orienta os pais a procurarem o Ministério Público (MP). O sindicato também estava fazendo ações políticas e judiciais para garantir aos estudantes e familiares o direito de escolher se voltam ou não às aulas presenciais.
O temor dos pais
Essa pressão tem deixados pais, alunos e também os profissionais da educação temerosos com a possibilidade de salas cheias e aglomeradas. Hoje, o estado do Paraná tem 1 milhão de alunos e 80 mil professores em cerca de 2.200 escolas.
O medo é tão grande que uma mãe de aluno relatou aos dirigentes do APP Sindicato-PR que seu filho adolescente, por causa da pressão da escola, tentou o suicídio com medo de voltar às aulas presenciais e ser contaminado pela Covid-19.
“Muitas crianças desenvolveram problemas psicológicos e têm medo de sair de casa e as famílias que têm filhos com comorbidades também estão sendo obrigadas a enviar seus filhos à escola, mesmo sem se sentirem seguros para isso”, afirma a secretária de Finanças do APP-Sindicato.
Os pais de alunos são presssionados até por telefonemas ameaçando com perda do ano escolar dos seus filhos, dizendo que eles estariam faltando às aulas, bem como acabando com as aulas on-line e as que eram transmitidas pela TV local.
“Todos sabemos que ainda não tem vacinas para as crianças, e muitas delas estão sendo hospitalizadas por causa do vírus. Agora, a escola avisou que a secretaria disse que é obrigatório as crianças irem para a escola. Mas você tem que assinar um termo de responsabilidade caso aconteça algo com seu filho. Sou obrigada a mandar porque eles dizem que vão mandar o Conselho Tutelar bater na minha porta”, relatou ao jornal Brasil de Fato, Edna Elaine Bacilli, mãe de um menino de 8 anos que cursa uma escola estadual.
Outra mãe de aluno que preferiu não se identificar e cujo filho estuda no Colégio Estadual Cívico-Militar Unidade Polo, de Campo Mourão, relatou que se sentiu “ fazendo papel de palhaça”, porque foi à escola, assinou, explicou e escreveu a própria mão que não mandaria seu filho porque não estão seguindo o distanciamento e ele não está vacinado.
Mesmo assim, pararam de mandar o link da aula on-line.
A insegurança aumentou quando a mãe visitou a escola. “Quando passam as reportagens, está uma carteira, um espaço e outra carteira. Na sala que eu visitei, está uma carteira atrás da outra e 25, 26 alunos. A sala estava lotada. Eu até cheguei a conversar com a professora e ela disse: ‘essa é a nossa realidade’”, relatou.