Governo golpista vai trazer de volta complexo de vira-lata
Em ato no Rio, CUT e lideranças sindicais apontam que golpe e lava-jato afetam soberania nacional e apontam que resposta deve ser greve-geral
Publicado: 25 Agosto, 2016 - 14h44 | Última modificação: 25 Agosto, 2016 - 15h54
Escrito por: Luiz Carvalho
Vagner questionou quais avanços vieram com Temer em relação ao governo DilmaPara Lula, golpistas ameaçam avanços no setor naval (Fotos: CUT-RJ/FUP)
Enquanto parlamentares discutiam os primeiros passos do golpe nas confortáveis galerias do Senado, lideranças sindicais, de movimentos sociais e parlamentares estiveram na manhã quente desta quinta-feira (25) diante do Estaleiro Mauá, em Niterói (RJ), para denunciar como a lava jato tem diluído os empregos no país.
A mobilização contou com o ex-presidente Lula, que relacionou a forma como o governo golpista atua com a volta ao tempo do complexo de vira-lata.
“Como eles (golpistas) não sabem governar, vão vendendo o patrimônio nacional e, de repente, esse país vai abrir mão de sua soberania para mendigar favor a outros países ricos. Porque está prevalecendo o complexo de vira-latas de quem está governando. Eles acham que tudo que vem de fora é melhor e eu acho que tudo que vem daqui é que é melhor porque tem o suor e a força do nosso trabalhador”, falou.
Um Congresso sem noção
Para o ex-presidente, começou hoje aquilo que definiu como a semana da vergonha nacional, quando senadores, segundo ele, começam a rasgar Constituição Nacional e a debater a punição a uma mulher inocente, cujo único crime cometido foi ser honesta.
“Temos que começar a discutir o que faremos daqui pra frente. O nosso senado que deveria debater os interesses dos brasileiros, discute a condenação de uma pessoa inocente”, ressaltou, para, a seguir, lembrar dos números que deveriam ser a verdadeira preocupação dos parlamentares.
Lula falou sobre o setor de óleo e gás no Brasil, que chegou a ter quase 1 milhão de trabalhadores, em 2012, e que hoje possui 557 mil. O setor metalúrgico, o mais prejudicado no desmonte promovido pela operação lava-jato, teve 335 mil postos fechados. Entre janeiro de 2015 e abril 2016, foram ceifados 382 mil empregos.
“Quando eu entrei, disse que o Brasil tinha de pensar com carinho na Petrobras, mas a Petrobras também tinha de pensar com carinho no Brasil. A empresa não poderia ficar comprando sondas e navios na Coréia, no Vietnã, onde quer que seja e milhares de trabalhadores ficarem desempregados. É preciso que a Petrobrás volte a usar conteúdo nacional nos navios e plataformas”, falou.
Para ele, o que está em jogo com o golpe e a lava-jato é o direito do Brasil e da Petrobrás serem grandes. “E caindo a Petrobrás, caem uma série de grandes, médias e pequenas indústrias, quebra siderúrgica e é preciso discutir isso a fundo”, falou.
Nós somos o alvo
Presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, ressaltou que o único resultado prático da operação foi o aprofundamento da crise. “A única coisa que a lava jato lavou foram os empregos dos trabalhadores, porque não estão sendo punidos os culpados. Tem que punir os corruptos, não empresas e trabalhadores. E nós temos de dar uma resposta, que é a greve geral para impedir esse retrocesso”, disse.
No outro lado da linha, o dirigente cobrou as mudanças prometidas pelos defensores do golpe. “Disseram que com a Dilma estava ruim, mas qual a política de fomento que esse governo tem? Sem a Dilma, tem mais desemprego, inflação e violência.”
Coordenador nacional da FUP (Federação Única dos Petroleiros), José Maria Rangel, falou também sobre como as investigações tem oferecido impunidade para quem ajuda a quebrar o país.
“Os grandes corruptores da Lava jato estão em suas mansões curtindo os benefícios da delação premiada, enquanto mais de 11 milhões estão desempregados e a Petrobrás reduzindo investimentos na ordem de 25%. Porque os golpistas sabem que a nossa empresa é o motor da economia nacional. E acabando com ela vão ter clima de insatisfação na sociedade que possibilita o golpe que está aí”, explicou.
Na mesma linha, o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, Paulo Cayres, falou que a mobilização desta quinta foi apenas o início. “Não pararemos neste ato, faremos muito mais para denunciar a farsa da lava jato que só demite trabalhadores e querem parar quando pega corrupto da direito.”
Tamanho do rombo
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói, Edson Rocha, mostrou como o desmonte da indústria naval e do petróleo já afeta os trabalhadores.
“Muitos mais metalúrgicos gostariam de estar aqui, mas não tem dinheiro nem para a passagem. Alguns que vieram aqui, chegaram no sufoco, alguns foram pedir dinheiro de passagem para vir. Em Niterói, estamos com 80% da nossa categoria desempregada.”
O prefeito de Maricá, Washington Quáquá (PT), apontou como uma empresa voltada aos interesses nacionais pode salvar ou afundar o país.
“Nós, em Maricá, nos últimos quatro anos abrimos curso do Senai para soldador, operador portuário e qualificamos milhares de trabalhadores. E só fizemos isso porque o presidente Lula fez encomendas da Petrobras com o conteúdo nacional e fez com que a indústria brasileira voltasse depois de década a produzir navio. Já o governo Temer arrasou a indústria nacional e quer vender o pré-sal para os americanos.”
Para o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stédile, é preciso selar um compromisso com a retomada da democracia. “Devemos selar o compromisso de continuar resistindo, lutar contra o desemprego e fazer acordo entre nós de que, diante de qualquer categoria afetada pelo golpe, iremos nos insurgir.”