Escrito por: RBA
Para professor de economia da Unicamp, país precisa de uma reforma tributária para superar a crise dos combustíveis. Já o Dieese aponta o modelo perverso adotado para regular os preços nas bombas
Para baixar o preço do diesel e encerrar a paralisação dos caminhoneiros, o presidente Michel Temer vai reduzir os investimentos em pelo menos 70 programas sociais. O corte ultrapassará R$ 1 bilhão e as camadas mais pobres da população serão as mais atingidas. “Impacta diretamente, porque você está cortando na verdade recursos da educação, da saúde e diversas áreas sociais que beneficiam as populações de baixa renda para subsidiar só o diesel”, afirma o professor de economia da Unicamp Eduardo Fagnani.
O desconto de R$ 0,46 por litro de diesel vale por 60 dias. Depois as oscilações vão continuar. Para especialistas, a reforma tributária é a melhor saída para a crise dos combustíveis. “A questão só se resolve com a mudança da política da Petrobras. É um absurdo você repassar todo o aumento diariamente para o consumidor. Isso só vai se resolver quando nós fizermos no Brasil uma reforma tributária, já que 46% do preço do combustível é imposto”, diz ainda o economista à reportagem do Seu Jornal, da TVT, nesta sexta-feira (1).
O problema do Brasil não está na carga tributária alta, defendeu Fagnani. “A carga não é alta, se comparada com outros países. O problema é que a carga é mal distribuída; em vez de incidir sobre a renda e o patrimônio, ela incide sobre o consumo”, diz. Ele entende que se houvesse a tributação sobre renda e patrimônio, quem tem mais dinheiro pagaria mais.
O governo determinou que os postos de combustíveis tenham uma placa informando o preço antigo do diesel até o dia do início da greve, 21 de maio. Em muitos locais, essa placa não foi instalada porque o posto trabalha com os preços antigos, antes do desconto dado pelo governo. Os caminhoneiros receberam esse abatimento de Temer com cautela. “É pouco ainda”, afirma o caminhoneiro Cleiton Lima, ouvido pela TVT. “Mas já ajuda bastante”, defende, “apesar de que precisa melhorar mais”.
Segundo o professor da escola do Dieese de Ciências do Trabalho, Fausto Augusto Junior, a conta pela concessão do desconto aos caminhoneiros por Temer será paga por toda a sociedade. “A política de preços da Petrobras não mudou. Mesmo com a saída do Pedro Parente o governo não indica nada sobre isso. Durante a greve, o preço da gasolina subiu 0,74%, quer dizer, a política continua”, afirmou. Em entrevista ao Seu Jornal, ele diz que o modelo de preços dos combustíveis atrelados ao mercado internacional é perverso, porque mantém esses insumos sob influência do setor financeiro, produzindo dividendos para os acionistas, graças aos sacrifícios para a população.
Neste sábado (2), a Petrobras aumentou em 2,25% o preço da gasolina em suas refinarias. De ontem para hoje, o litro do combustível ficou 4 centavos mais caro, ao passar de R$ 1,9671 para R$ 2,0113, de acordo com a estatal. Em um mês, o combustível acumula alta de preço de 11,29%, ou seja, de 20 centavos por litro, já que em 1º de maio, o combustível era negociado nas refinarias a R$ 1,8072.
O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, também disse hoje (2), no Twitter, que a troca de comando na presidência da Petrobras não vai alterar a política preços da empresa. "A troca de comando não alterou a política de preços da Petrobras. A Petrobras continua tendo toda liberdade para aplicar sua política de preços. Mas isso não é incompatível com a busca de ações que mitiguem os impactos de flutuação de preços. Porque governo tem que governar. E é isso o que vamos fazer: proteger as pessoas e atividades econômicas das flutuações internacionais dos preços dos combustíveis", afirmou.
Com TVT e Agência Brasil.