Governo respondeu em 15 minutos e-mail sobre compra de cloroquina
Agilidade se contrapõe à demora na aquisição de vacinas; pressa para compra do medicamento fica evidente em mensagens
Publicado: 15 Junho, 2021 - 09h12
Escrito por: Carta Capital
E-mails trocados entre o governo brasileiro e a diplomacia da Índia revelam a pressa com que a gestão do presidente Jair Bolsonaro buscou adquirir hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19, medicamento sem eficácia comprovada contra a doença.
Os documentos sigilosos, em poder da CPI da Covid no Senado Federal, foram obtidos pela agência de dados Fiquem Sabendo, especialista em Lei de Acesso à Informação.
Algumas mensagens foram respondidas pela diplomacia brasileira em 15 minutos, à noite e até em fins de semana.
A série de 54 e-mails mostra como o País tratou o medicamento como prioridade. O esforço pelo fármaco é o oposto à postura do Executivo em relação às vacinas. No caso da Pfizer, o governo demorou pouco mais de dois meses para responder aos contatos da empresa.
As mensagens foram enviadas pelo ministro-conselheiro da Embaixada do Brasil na Índia, Elias Antônio de Luna e Almeida Santos, segundo na hierarquia do posto diplomático.
No dia 11 de abril de 2020, um sábado, Gaurav Kumar Thakur, secretário para América Latina e Caribe do Ministério das Relações Exteriores da Índia, escreve a Santos para oferecer uma carga de “50 lakhs” – unidade de medida indiana, equivalente a 100 mil – de comprimidos de hidroxicloroquina já prontos, uma vez que havia uma demanda brasileira pela matéria-prima do medicamento pendente de liberação. Não levou oito horas para que o funcionário do Itamaraty respondesse que “o governo brasileiro demonstrou interesse na oferta”.
“Independentemente dessa generosa possibilidade que o governo da Índia está abrindo ao Brasil, nós reiteramos que continuamos a buscar as permissões de exportação para a matéria-prima de hidroxicloroquina que permitirá aos fabricantes brasileiros produzirem para si quantidades adicionais de comprimidos de hidroxicloroquina”, afirma Santos às 20h40 (no horário local) do mesmo dia.
No dia seguinte, na noite de domingo, o funcionário do Itamaraty envia um segundo e-mail cobrando agilidade do colega indiano por informações sobre a empresa que forneceria os comprimidos de hidroxicloroquina. “Se você pudesse fornecer os detalhes até amanhã de manhã ficaria muito grato, para que possamos iniciar contatos diretos com eles.”
Duas semanas depois, no dia 25 de abril, em outra troca de e-mails também num sábado à tarde, Santos levou apenas 15 minutos para responder à dúvida de um funcionário de um laboratório indiano que providenciava a remessa dos produtos ao Brasil.
(Com informações da Agência Estado)