Escrito por: Érica Aragão
Governo está intransigente. Trabalhadores e trabalhadoras da educação só encerrarão paralisação quando o estado garantir o pagamento dos salários cortados e reajuste salarial, como determina Lei
Com aluguel vencido, aviso de despejo e sem salário, a funcionária pública há 25 anos, mãe solo de duas filhas, Maria Aparecida está acampada em frente à Assembleia Legislativa do Mato Grosso e disse que não sairá de lá enquanto o governador do estado, Mauro Mendes Ferreira (DEM), atender as reivindicações da categoria.
“Tudo que conquistamos de direitos até hoje foi com muita luta e greve”, diz a professora, que complementa: “É assim que continuaremos a lutar pelos nossos direitos, mesmo com tanta dificuldade”.
Em greve há quase 60 dias e com salário cortado na primeira semana da paralisação a mando do governador, Maria não está sozinha.
Ela e outros colegas da categoria fazem parte dos 70% dos trabalhadores da educação no Mato Grosso que aderiram à greve e que estão passando dificuldades por estarem lutando para que o governo cumpra a Lei 510 de 2013, que basicamente equipara os salários com as demais carreiras com mesmo nível de formação e dobra o poder de compra da categoria em até 10 anos.
“A lei foi cumprida por cinco anos e este governo persiste em não cumprir, mesmo com uma greve considerada a mais dura e cruel da nossa história. E ainda cortou o ponto, salários e deixou os trabalhadores num abismo social sem dinheiro até para comer”, disse o secretário de Comunicação da CUT Mato Grosso, Robinson Ciréia de Oliveira, que também é professor da base do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep).
Segundo Robinson, um dos organizadores da resistência e da luta na paralisação que completa 60 dias neste sábado (27), essa é a greve mais dura, mas também é a mais mobilizada em defesa da Lei 510/2013 que assegura, além de calendário de reformas das escolas que estão caindo aos pedaços e a posse imediata dos aprovados do concurso aos trabalhadores e as trabalhadoras, o reajuste salarial de 7,69% que o governo nega a pagar.
Sintep“Além de atos políticos e passeatas, o movimento grevista está fazendo coleta de alimentos e de dinheiro nos faróis para distribuir aos trabalhadores e as trabalhadoras que não têm nem condição de se alimentar”, disse o dirigente.
“Estamos dialogando com a população, acampando e ocupando a Assembleia Legislativa do estado e uma nova ação no Palácio do Governo não está descartada”, afirmou.
De acordo com ele, “essa greve tende a demorar mais do que a maior paralisação da categoria, que durou 67 dias, mas já é uma greve histórica de resistência porque os trabalhadores estão conseguindo ficar sem salários e resistir aos desmandos deste governo”, destacou Robinson.
Para o Secretário de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Gilmar Soares Ferreira, o problema não é dinheiro, porque não tem crise no estado. O que tem, segundo ele, é falta de vontade política para cumprir uma lei que beneficia o trabalhador.
“O problema é que o agronegócio não paga os impostos que devem e ao invés de cobrar os empresários, o governo quer tirar direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras”, denúncia Gilmar, que também é diretor do Sintep.
Segundo o dirigente, o governador se reúne com a categoria, mas se nega a fazer qualquer negociação com os trabalhadores e as trabalhadoras.
“Nós estamos dispostos a negociar, mas parece que o governo não quer mesmo e é por isso que a greve chegou aqui e pode ser a maior greve da história, porque só voltaremos às salas de aulas quando o governo assegurar nossos salários cortados e o cumprimento da lei na sua integridade”.
“Espero que a gente consiga uma saída e que este governador intransigente possa negociar, porque não perdemos a esperança de uma proposta para que possamos encerrar de vez a greve e voltar para as salas de aulas”, finalizou Gilmar.