Greve de trabalhadores da Colômbia derrota reforma tributária
Repressão do governo de Iván Duque aos trabalhadores foi brutal e deixou mais de duas dezenas de mortos. Em SP, dirigentes da CUT realizaram nesta quinta ato de apoio aos companheiros colombianos
Publicado: 06 Maio, 2021 - 11h22 | Última modificação: 06 Maio, 2021 - 16h45
Escrito por: Redação CUT
Entre cânticos, bandeiras com as cores da Colômbia e outras apenas na cor branca, além de cartazes com frases de protesto contra aumento de impostos, a fome e por mais recursos para saúde e educação, trabalhadores e trabalhadoras foram as ruas de Bogotá, nesta quarta-feira (5), para mais um protesto contra a proposta de reforma tributária do governo de Iván Duque, que visa reduzir e /ou eliminar muitas isenções fiscais, como aquelas sobre a venda de produtos.
Para os sindicalistas da CTC, CUT e CGT, as maiores centrais sindicais do país, que lideram protestos contra o projeto de lei do governo, a proposta favorece os ricos enquanto pressiona mais os trabalhadores. Os manifestantes também exigem uma renda básica universal, melhorias no sistema de saúde, pensões e melhor gestão da pandemia do novo coronavírus.
Em São Paulo, sindicalistas da CUT e demais centrais sindicais brasileiras realizaram o ato “Abaixo a repressão do governo assassino de Ivan Duque”, em frente ao Consulado da Colômbia.
De acordo com o secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, o ato foi para prestar solidariedade ao povo colombiano e exigir que o governo de lá dialogue com os trabalhadores.
A CUT e demais centrais entregaram uma carta ao consulado para que o governo de Ivan Duque cesse a repressão policial e retire as reformas em curso que, conforme explica Ariovaldo, “são um ataque brutal aos direitos dos trabalhadores”.
O diálogo é a única forma de solucionar conflitos, não é com uso de material bélico e repressão
Roberto Parrozotti
Pelo menos 24 pessoas morreram nos protestos na Colômbia
Os protestos em massa, que começaram no dia 28 de abril e voltaram as ruas nesta quarta, dia em que os trabalhadores deram início a segunda greve nacional contra as propostas de Duque, após uma semana de intensas manifestações, bloqueios de estradas e violência com dezenas de vítimas. De acordo com a Defensoria do Povo, pelo menos 24 pessoas morreram desde o início dos protestos. Em 11 das mortes, disse a Defensoria, a polícia seria a responsável.
De acordo com o Estadão, o governo insiste que grupos armados ilegais são os instigadores da violência, ao mesmo tempo em que não explica o uso desproporcional das forças de segurança. Os exageros vêm sendo denunciados por organizações internacionais como as Nações Unidas, a União Europeia e a Anistia Internacional.
Nesta quarta, ainda segundo o Estadão, o governo Duque ofereceu uma recompensa - 10 milhões de pesos (cerca de R$ 14 mil) - para quem fornecer informações que levem à prisão dos responsáveis pelos "atos de violência" nas manifestações. Em um comunicado, Duque abordou a mobilização, que acontece em diferentes cidades do país, mas principalmente em Cali e na capital, Bogotá. Nele, o líder conservador anunciou a estratégia para combater o vandalismo nos protestos.
De acordo com nota do Intersindicato dos Trabalhadores na Construção e na Madeira da Colômbia (INTERGREMIAL), filiado ao ICM, a greve deixou 13 mortos e centenas de feridos, mas forçou o governo a retirar a polêmica lei da reforma tributária.
De acordo com a nota, a greve tomou um rumo violento em 1º de Maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, quando as forças policiais tentaram dispersar os manifestantes. Os organizadores da greve disseram que pelo menos 500 pessoas foram presas. Eles também relataram casos de agressão sexual contra manifestantes.
Em 2 de maio, afirma o texto, Iván Duque, arquivou a proposta de reforma tributária, embora tenha insistido que a chamada reforma ainda é necessária para garantir a estabilidade fiscal. O INTERGREMIAL aderiu aos protestos em Medellín, Cartagena, Bogotá, Cali, Cúcuta, Barranquilla e Santa Marta e elogiou a retirada da medida fiscal como “um grande vitória".
“O governo não retirou a lei sozinho. Foram as pessoas e os trabalhadores que a jogaram na rua”, disse o Coordenador Geral do INTERGREMIAL, José López Posada. O vice-coordenador geral do INTERGREMIAL, Manuel Fernández, garantiu que os protestos vão continuar, já que o governo não deu o braço para torcer em relação a outras reivindicações que a população tem manifestado nas ruas.
“A greve e as mobilizações vão continuar. O governo ainda não se comprometeu com nossas outras reivindicações, como melhorias no sistema de saúde, previdência e melhor gestão da Covid-19. Exigimos que o governo cesse a perseguição e assassinato de lideranças no comércio sindicatos e movimentos sociais ”, concluiu Fernández.
Texto: André Accarini
Edição: Marize Muniz