Escrito por: Andre Accarini
Assembleias de trabalhadores serão realizadas no início da noite desta segunda-feira (17). Coordenador da Fentect-CUT “não vê outro caminho para manter direitos” e estima aprovação da greve por ampla maioria
Trabalhadores e trabalhadoras da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em todo o Brasil devem aprovar, em assembleias virtuais, no início da noite desta segunda-feira (17), a deflagração da greve nacional da categoria, com início à 0h00 desta terça-feira (18).
“A greve é uma resposta ao descaso da direção dos Correios, comandada pelo general Floriano Peixoto, que se nega a abrir qualquer processo de negociação com os trabalhadores”, acusa o Coordenador Geral da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos (Fentect-CUT), José Rivaldo da Silva.
Os trabalhadores reivindicam a manutenção de direitos conquistados em acordos coletivos há mais de 30 anos, que vêm sendo atacados pela direção, sob a alegação de que representam risco para a economia pública. Desde o dia 1° de agosto, já foram cortadas 70 das 79 cláusulas do atual acordo, como o fim dos tickets pagos em férias de trabalhadores, fim do anuênio e fim do pagamento de 30% de adicional de risco.
José Rivaldo lamenta que, em plena pandemia do novo coronavírus, a direção da empresa tome atitudes dessa natureza contra os trabalhadores e sequer aceite um processo de negociação.
É muito ruim a relação do comando com os trabalhadores. É igual a um quartel militar, onde os oficiais mandam fazer e quem não faz é punido. Os Correios estão assim.- José Rivaldo da Silva
De acordo com o dirigente, tentativas de abrir uma mesa de negociação com os Correios não faltaram, mas o “silêncio” foi a única resposta da direção da estatal.
“Nós tentamos de várias formas. Até via carta. Tentamos também conversar com o ministro das Comunicações [Fábio Faria] e com parlamentares ligados ao ministro, mas ninguém responde, ninguém nos recebe”, diz o Coordenador- Geral da Fentect.
Por isso, afirma, “a greve é o único caminho possível para a luta dos trabalhadores e a expectativa é de que seja aprovada nas assembleias e de que seja uma greve forte”.
A falta de condições sanitárias nas agências dos Correios em todo o Brasil é apontada como fator de grave risco à segurança e a saúde dos trabalhadores e de suas famílias. A Fentect denuncia que os Correios, desde o início da crise sanitária, não cumprem as recomendações de medidas mínimas de segurança à saúde do trabalhador.
Em muitas agências, de acordo com levantamento da entidade, ainda não há equipamentos adequados, sabonete líquido para uso dos funcionários, desinfecção dos ambientes e álcool em gel.
A Federação e seus sindicatos filiados inclusive já tiveram que procurar os meios judiciais para garantir um mínimo de condições para não expor funcionários e clientes aos riscos de contaminação pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus.
Em nota, a Fentect considera má-fé e negligência da empresa para com os trabalhadores, que resultam em um crescente número de casos de infectados e óbitos dentro da categoria.
Além da manutenção de direitos, A Fentect e os 36 sindicatos da categoria cobram melhores condições sanitárias de trabalho e equipamentos de proteção e segurança contra os riscos de contaminação pelo novo coronavírus (Covid-19).
As assembleias de trabalhadores estão marcadas para a partir das 18h desta segunda-feira. O secretário de Comunicação da Fentect-CUT, Emerson Marinho, reforça a importância de todos os trabalhadores participarem do processo de aprovação da greve.
“Nós fazemos o chamado aos trabalhadores para que estejam conscientes de tudo o que está em jogo. É uma luta por direitos e empregos, por dignidade humana e para garantir a sobrevivência de trabalhadores e suas famílias”, afirma o secretário.
O dirigente afirma que ações para manter os direitos dos trabalhadores, como a preparação da greve, já vêm sendo feitas há pelo desde o início de agosto.
“Ao longo deste mês fizemos um trabalhado de mobilização com ações políticas e jurídicas para preservar os direitos. A empresa negou a negociação e, por isso, ampliamos a mobilização para a greve”, diz Emerson Marinho.
O dirigente também não vê outra saída para o impasse a não ser a greve. “Estamos aguardando julgamento de uma normativa no Supremo Tribunal Federal, que impede a retirada de direitos, mas o Dias Toffóli [presidente do STF] já manteve voto a favor da empresa para que possa retirar nossos direitos. Não há outro caminho para pós a não ser lutar”.
Ainda de acordo com Emerson Marinho, o general Floriano Peixoto, presidente dos Correios atua com desinformação, mentindo para os trabalhadores, afirmando que não haverá descontos nos salários.
“Ele mente para os trabalhadores, chega a publicar contracheques, afirmando que não vai ter desconto, mas não é verdade”, diz o dirigente.
Outra ação dos gestores, de acordo com Emerson é a “ameaça velada” aos trabalhadores, para que não participem da greve. “A direção manda os gestores conversaram com os funcionários, dizendo que a greve vai trazer prejuízos para a empresa e que, haverá demissões”, ele relata.
Ainda de acordo com o dirigente, na semana passada a direção dos Correios obteve autorização na justiça para a criação de oito assessorias com salário médio de R$ 23 mil cada.
“Floriano Peixoto vai colocar mais gente no seu guarda-chuva de indicação política do clã militar que se apoderou da empresa. Ele cita privilégios, mas privilégio mesmo é o de trazer apadrinhados políticos para ganhar altos salários. Enquanto o salário médio do trabalhador é de R$ 2 mil por mês”, conclui Emerson Marinho.