Greve geral paralisa agências bancárias em todo o país
Categoria bancária cruzou os braços nesta sexta-feira (14) para defender o direito de se aposentar
Publicado: 14 Junho, 2019 - 17h04 | Última modificação: 14 Junho, 2019 - 17h12
Escrito por: Paulo Flores, Contraf
A greve geral, convocada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), demais centrais e pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, paralisou agências bancárias em todo o país. De Norte a Sul do Brasil ocorreram atrasos na abertura ou fechamento total de agências.
“Os bancários e os trabalhadores de uma forma geral compreenderam que precisam lutar para defender o direito de se aposentar”, avaliou a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira.
Em São Paulo, principal centro financeiro do país, os bancários cruzaram os braços para mostrar sua indignação contra a reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro. A categoria também protestou contra o desmonte que estão ocorrendo nas empresas estatais, principalmente nos bancos públicos.
“Nós bancários defendemos as empresas públicas para que os brasileiros não tenham que pagar mais caro a conta de energia, o combustível e os alimentos que chegam à nossa mesa”, disse Juvandia, lembrando que a agricultura familiar é responsável por cerca de 70% da produção de alimentos.
“São o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste que financiam a agricultura familiar. Se eles forem privatizados, as taxas de juros e as tarifas serão maiores e o alimento vai chegar mais caro na nossa mesa”, observou. “O mesmo acontece com a moradia. A Caixa (Econômica Federal) domina a carteira imobiliária. Caso seja privatizada, a aquisição da casa própria, que hoje já não é fácil, vai voltar a se tornar aquele sonho impossível”.
Desmonte
Juvandia comentou ainda sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que liberou a venda de subsidiárias de empresas públicas sem a necessidade do aval do Congresso Nacional. “Isso é um retrocesso para nossa soberania. O correto seria um plebiscito para perguntar aos verdadeiros donos, o povo brasileiro, se eles querem torrar o patrimônio nacional”, disse.
Para a presidenta da Contraf-CUT, a venda das subsidiárias enfraquece as chamadas empresas-mães. “Empresas públicas, como a Caixa e o Banco do Brasil, são lucrativas. Não trazem prejuízo para a sociedade. Ao contrário, fornecem recursos para o Tesouro Nacional. Querem vender as operações de maior rentabilidade, que geram interesse no mercado. Aí os bancos públicos não terão condições de realizar as políticas que realizam”, explicou.
“Por Lei, o sistema financeiro tem a obrigação de contribuir com o desenvolvimento equilibrado da nação. Os bancos públicos realizam isso. Se não tiver poder de atuação, o país ficará ainda mais desigual”.
Levantamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com dados do Banco Central, mostra que os bancos privados concentram sua atuação na região Sudeste do país. Em Roraima, por exemplo, existem apenas seis municípios com agências bancárias em todo o estado. Em cinco deles existem apenas bancos públicos. Sem os bancos públicos, a população de todo o estado precisaria se deslocar para a capital. Os dados mostram que, na região Norte, 63,3% das agências são de bancos públicos. No Nordeste, 59,3%.
A mesma concentração se verifica com relação à concessão de crédito. Até 2016, 56% de todo o crédito no país era concedido por bancos públicos. Na região Nordeste, 87,3% do crédito é ofertado por bancos públicos. No Norte, a oferta de crédito público chega a 94,5% e no Centro-Oeste a 91,8%. Até a região Sul é deixada para segundo plano pelos bancos privados. Lá, 84% do crédito é proveniente dos bancos públicos.
“Sem as instituições públicas, quatro das cinco regiões do país podem ficar sem crédito para seu desenvolvimento, acentuando ainda mais as disparidades regionais”, afirmou a presidenta da Contraf-CUT.
Outras categorias
Em diversas cidades do país, os bancários se juntaram aos trabalhadores de outras categorias e realizaram atos públicos para dialogar com a população e mostrar os motivos pelos quais protestam contra a reforma da Previdência e os ataques contra as empresas e o patrimônio público. Em muitas delas foram distribuídas cartilhas com informações sobre a reforma da Previdência e os danos que a proposta causa aos trabalhadores.
Segundo balanço realizado pelas centrais sindicais no início da tarde, aproximadamente 45 milhões de trabalhadores e trabalhadoras foram envolvidos na greve geral. Mas, até o final do dia, ainda ocorrem outros atos conjuntos. Em São Paulo, por exemplo, os trabalhadores se concentrarão, a partir de 16h, no vão livre do Masp, na avenida Paulista.